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Débora Falabella estrela “Prima Facie”, um thriller jurídico contundente

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Na frase “É horrível assistir à agonia de uma esperança”, Simone de Beauvoir (1908-1986) dá conta de toda a cartografia do combate travado pela personagem de Débora Falabella em “Prima Facie”, em cartaz no Teatro Adolpho Bloch. Uma temperatura de panela de pressão em fervura máxima toma conta do espetáculo, em segundo hemisfério, conforme a protagonista, a advogada Tessa, vê suas crenças na Lei se escassearem e perde cada filigrana de fé no que os livros jurídicos lhe ensinaram. É uma narrativa de deslindamento.

A autoria do texto é da australiana Suzie Miler, conhecida por “Sold” e “All The Blood And All The Water”, marcada por um interesse em temas que gerem controvérsias. Aqui, há o Direito e suas práticas nem sempre moralmente defensáveis, além disso, há um caso de violência contra a mulher. Na direção está Yara de Novaes, que conduz a tradução de Alexandre Tenório, numa linha crescente de suspense.

Uma trilha sonora sempre ativa e de fina coerência (assinada por Morris) dá ritmo aos pontos de vivência por vezes afetivamente desiguais de Tessa. Num cenário de alusão a tribunais de André Cortez, com uma estrutura de cadeiras, vemos a jovem jurista em ação, ganhando uma série de causas sempre ligadas a agressões sexuais. Colegas chegam a questionar se ela não é escolhida para isso para legitimar os réus com sua condição feminina.

Num fluxo febril de retórica, Débora Falabella desenha Tessa como um aríete que impulsiona a Justiça na direção da vitória. É uma mulher impávida, mas cercada por uma família com algumas cicatrizes. Adora o cheiro e a doçura de sua mãe, mas detesta o jeito looser de seu irmão mais velho. O caçula vive com a cara do Playstation.

A fim de ilustrar o ímpeto de Tessa, a dramaturgia de Suzie Miler regride até seus tempos de faculdade e ilustra seu jeitão de ser como estudante ambiciosa. Os dois primeiros movimentos da peça garantem um desenho de personagem rico, até chegar o momento de uma virada brusca, no qual ela passa de defensora a vítima. Uma noite infeliz com um colega termina numa acusação legal e faz com que ela mude de lado em sua profissão, observando de outro ambiente as mesmas artimanhas que usavam em suas argumentações.
O que temos a partir daí é um thriller jurídico de roer as unhas. O que menos importa é o veredito. O que conta mais é a forma como meios são entortados em prol dos fins. Para um primeiro solo, Débora Falabella, certamente, esbanja segurança, numa interpretação dionisíaca.

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