Emicida faz show grandioso da turnê “AmarElo”, no RJ

Emicida trouxe ao Rio de Janeiro na noite de ontem (18), estima-se que pela última vez, o seu épico show da turnê “AmarElo”. O disco é definido pelo próprio como um experimento social, muito mais do que um álbum, e foi a partir desse conceito que o trabalho surgiu para o público. A chegada ao palco do Teatro Municipal de São Paulo foi o que veio a expandir sua importância. O rap, enfim, ecoaria do palco a todos os cantos da casa da música clássica. A empreitada ganhou documentário na Netflix e rodou o país, inclusive inserida em festivais – ocupou duas noites do Lollapalooza Brasil 2022, sendo uma substituindo o Foo Fighters, que cancelou a vinda por conta da morte do baterista Taylor Hawkins dois dias antes do show, além de uma belíssima apresentação no Rock In Rio do mesmo ano. “AmarElo”, que recebeu esse título por inspiração em um poema de Paulo Leminski (amar é um elo/ entre o azul/ e o amarelo), é um “respiro” para as pessoas, para a sociedade. E suscita reflexões sobre como a música pode construir uma ponte de transformação profunda.

Essa última etapa, chamada de “A Gira Final”, mostrou para uma Farmasi Arena repleta com quantos versos e sonoridades se faz uma música consistente, combativa e ao mesmo tempo resiliente, as características do bom rap atual. No entanto, é restritivo demais chamar Emicida de “rapper”. Embora o gênero da rima e poesia seja a espinha dorsal, o samba, o rock, a bossa nova são muito bem abarcados na sopa sonora do artista paulistano.

O show começou com um agradecimento ao Rio em vídeo. Emicida lembra de quando esteve na cidade em 2006, sem dinheiro nenhum, mas teve o apoio de Pedro Gomes e a comunidade rapper carioca. No palco que apresenta adornos africanos e telas de led representando vitrais, amparado por uma banda impecável, ele inicia a gira com “É Tudo para Ontem”, seguida de “A Ordem Natural das Coisas”, emendada em “Corra e Olhe o Céu”, exaltando Cartola. Nela, conta com a presença do primeiro convidado da noite, o menino Miguelzinho do Cavaco, que tocou “Quem Tem Um Amigo Tem Tudo”, que como o título já diz, refere-se a um dos temas mais caros ao compositor, a amizade. Ainda nesse âmbito, o cantor ainda prestou uma homenagem ao vocalista e baixista Bruno Pompeo, o Rastinha, que faleceu em novembro de 2020. A ele foi dedicada a faixa “Chapa”.

O hit “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” incendiou a plateia. A faixa do álbum que dá nome à tour abriu a sequência mais suingada que juntou “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida”, “Baiana” e “Madagascar”. A rapper paulistana Drik Barbosa fez dueto com Emicida em “9nha”. “Paisagem” abriu caminho para o segmento em que o peso e as distorções tomaram conta, iniciado com “Hoje Cedo”. “AmarElo”, que traz o sampler de “Sujeito de Sorte” de Belchior contou com as celulares acesos formando o efeito constelação. “Pro Belchior ouvir lá do céu”, invocou Emicida. Já “Pantera Negra”, o tema não oficial do filme do herói da Marvel, coloca o discurso afirmativo de forma mais inflamada.

A tragédia no Rio Grande do Sul não podia deixar de ser lembrada. Ao mandar “toda a força” para a região, Emicida lembrou que esse é ano de eleição municipal e que urge votar em pessoas responsáveis pois o ocorrido é apenas uma pequena amostra do que pode vir a acontecer com as nossas vidas. Foi a deixa para as letras que vão mais fundo no “mundo cão” como a autobiográfica “Ooorra” e “Triunfo”.

O outro convidado da noite foi MC Marechal. “Eu já brinquei no espelho fingindo ser esse cara”, disse Emicida, que se referiu a ele, ao chamá-lo para o palco, como “apenas o professor da nossa geração”. O veternao do rap executou “É a Guerra Neguinho” e “Favela Vive 5”. MC Cabelinho também foi convidado para a festa com seus standards “Carta Aberta” e “X1”.

O encontro mais aguardado da noite ficou para o fim, a entrada de Rashid, parceiro de longa data de Emicida. A dupla cantou “Confundindo Sábios” e “Pipa Voada”, para logo em seguida receberem Drik Barbosa de volta ao palco para a faixa “Mardume”, originalmente gravada por ela junto com Emicida no álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, lançado em 2015. Já no bis, Rashid e Emicida mostraram seus talentos no improviso em um freestyle.

“Passarinhos”, sucesso gravado com Vanessa da Mata e música mais popular do repertório, ficou estrategicamente para o final. A madrugada já avançava após mais de 3 horas de música e consciência, mas a plateia ainda mostrava resistência e animação para cantar os versos com o artista, que regeu a plateia dos diferentes setores da arena em diferentes volumes (do mais alto, “para a Vanessa ouvir do Recreio”, ao mais baixo), terminando a festa em clima de celebração. Emicida deixou claro durante a apresentação que o intuito era de que a noite fosse especial. E brindou o público com um show grandioso digno de encerramento de turnê.

Setlist:

1. É tudo pra ontem
2. A ordem natural das coisas / Corra e olhe o céu (com Miguelzinho do Cavaco)
3. Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) / A Amizade (com Miguelzinho do Cavaco)
4. São Pixinguinha
5. Chapa / Preciso me encontrar (cover de Cartola)
6. Acabou, mas tem… / Here Comes the Sun
7. Pequenas alegrias da vida adulta
8. Cananéia, Iguape e Ilha Comprida
9. Baiana
10. Madagascar
11. 9nha (com Drik Barbosa)
12. Paisagem
13. Hoje cedo
14. AmarElo
15. Pantera Negra / Zica, vai lá / Bang!
16. Ooorra
17. Triunfo
18. É a Guerra, Neguin (com Mc Marechal)
19. Favela Vive 5 (com Mc Marechal)
20. Carta Aberta (com MC Cabelinho)
21. X1 (com MC Cabelinho)
22. Confundindo sábios (com Rashid)
23. Pipa voada (com Rashid)
24. Mandume (com Drik Barbosa and Rashid)
25. Todos os olhos em nóiz
26. Eminência parda
27. Boa esperança
28. Ismália
29. Levanta e Anda
30. Principia (com Henrique Vieira)
    Bis:
31. “Suplica”
32. Ubuntu Fristaili
33. Casa/Another Brick in the Wall, Part 2
34. Gueto/Rap da felicidade
35. A Chapa é Quente!
36. Libre
37. Outras palavras
38. Freestyle (com Rashid)
39. Passarinhos