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“Pequeno Monstro”, com Silvero Pereira, no Teatro Poeira

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O teatro de Silvero Pereira sempre foi um lugar de questionamento e provocação social. A semente inicial de ‘Pequeno Monstro’ surgiu há sete anos, quando ele começou a acompanhar algumas histórias de crianças LGBTQIA+ e identificou semelhanças com episódios vividos na sua própria infância. Após uma longa pesquisa, ele retornou à sala de ensaio — depois de 12 anos da criação de seu último sucesso no teatro -, para iniciar o processo de criação da peça em parceria com a diretora Andreia Pires, sua colega na faculdade de artes cênicas, nos anos 2000, em Fortaleza.

Em cena, Silvero embaralha suas referências literárias e musicais com matérias jornalísticas e memórias pessoais e de pessoas diversas, quando passeia por lembranças da infância no interior do Ceará e por uma juventude turbulenta. Ao resgatar vivências relacionadas à sexualidade e gênero, ele ironiza e denuncia práticas relacionadas ao machismo estrutural e à homofobia, duas condutas comportamentais normalizadas socialmente que agridem, traumatizam e condenam destinos.

‘Uso a minha história como fio condutor e ponta de um iceberg, e me coloco como escudo para outras histórias aqui relatadas. Essa fragmentação de histórias pessoais, ficcionais e de terceiros serve justamente para enfatizar que não se trata de exceção, de classe ou de um lugar, é um problema social grave e que precisa de ações efetivas’, reflete o ator e autor.

‘Pequeno Monstro’ segue a mesma estrutura dramatúrgica adotada por Silvero em seus trabalhos passados como dramaturgo, em que também observava um panorama composto por diversas referências e influências. O intérprete ressalta ainda que a intenção é justamente provocar reflexões através da potência artística da montagem: ‘Estamos fazendo uma peça de teatro, uma obra artística, não necessariamente um manifesto. Nossa função, como artistas, é trazer o tema com seriedade e a responsabilidade que ele exige, mas também atentar ao potencial estético e narrativo que servirão como alegorias para que a aproximação com o público ocorra dentro da liturgia do teatro’, conta Silvero, cuja performance em ‘Pequeno Monstro’ incluirá números musicais como a canção ‘Fera Ferida’, de Roberto e Erasmo Carlos.

O projeto reflete sobre a realidade brasileira no que diz respeito à violência contra as populações LGBTQIA+ e todos os trágicos recordes de assassinatos que o Brasil acumula. ‘Estamos mais violentos, mas isso não se localiza somente neste tempo do agora, é mais profundo, se trata de um país historicamente violento desde sempre e que precisa de atenção, denúncia e busca por soluções’, analisa.

O espetáculo marca a volta de Silvero Pereira ao teatro desde a estreia de ‘BR Trans’, em 2012. Neste hiato de tempo, ele foi catapultado para o sucesso em diversos projetos audiovisuais e experimentou diversas temporadas bem-sucedidas do monólogo. Recentemente, ele enfileirou hits, com suas participações em novelas (‘A Força do Querer’, ‘Pantanal’), longas-metragens (‘Bacurau’) e programas como o ‘The Masked Singer Brasil’, em que foi o vencedor da última temporada. No entanto, ele não abandonou os palcos por completo e estreou recentemente um show com a obra de Belchior.

‘Voltei ao teatro um tanto preocupado se ainda me sentia um ator de teatro. Sou formado em artes cênicas e com 25 anos de carreira dedicados aos palcos, mas por conta da demanda audiovisual me senti um tanto “enferrujado” e com a certeza de que nenhum ofício se vale pelo talento, mas sim pelo estudo e dedicação. Foi necessário recusar novos trabalhos no audiovisual para uma dedicação quase que totalmente exclusiva para o ‘Pequeno Monstro’, refazer treinos de corpo, voz e imaginação para construir um processo criativo que muito exigia de mim como ator, autor e artista’, conta Silvero.

Para a empreitada, ele se reuniu novamente com Andréia Pires, sua colega na faculdade de Artes Cênicas, com quem chegou a participar de um grupo de teatro juntos. Não à toa, eles ensaiaram todo o solo em Fortaleza, onde chegaram a fazer alguns ensaios abertos para o público.

‘No processo de criação, foi muito bonito ver o corpo do Silvero na sala de ensaio porque ele é um ator que potencializa tudo que já está ali no corpo dele. Ele já tinha uma dramaturgia erguida, organizada ali num texto escrito, mas isso foi se moldando e se modificando. Eu estou ali com o Silvero no trabalho dele. É como se eu estivesse entrando numa casa que não é minha, mas eu fui entrando e fui me sentindo em casa. Então eu fui acompanhando, fui observando, fui gerando perguntas… Acho que a gente conseguiu chegar num trabalho que conversa com a linguagem do Silvero, uma dramaturgia fragmentada, atravessada de muitas questões, e também pela minha dramaturgia cênica, onde eu observo ali composições com materialidades e com o corpo’, conta Andreia.

Este olhar amigo, confiante e extremamente responsável da diretora foi fundamental neste projeto que obrigou o ator a fazer uma busca por sua ancestralidade e ir fundo atrás de histórias familiares nem sempre muito confortáveis: “As conversas com meus familiares me causaram uma nova percepção de mundo e renderam diversas justificativas para os caminhos que tomei hoje como adulto. Esse processo foi um resgate e uma renovação na minha formação pessoal e profissional’, reflete o ator, cuja percepção é reforçada pela diretora: “A gente viu também nascer ali na sala de ensaio um espetáculo que traz para o centro da discussão a infância, a paixão, a magia e, ao mesmo tempo, a violência. Como que o amor e a violência fazem parte do mesmo trabalho, do mesmo lugar, do mesmo jeito que a gente vê a vida. E, através do Silvero, a gente vê inúmeras outras coisas’.

Serviço
Temporada: de 30 de maio a 28 de julho
Teatro Poeira | Rua São João Batista, 104 – Botafogo
Horário: quinta a sábado, às 20h | Domingo, às 19h
Ingressos: Início das vendas pela plataforma Sympla em 20 de maio
Classificação: 14 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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