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Como Vender a Lua serve em uma bandeja um passado sem resquício de paixão

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Deslocados de 2024 para algum ponto dos anos 90, podemos ligar a TV para assistir a ‘Sessão da Tarde’ que lá estará sendo exibido algo bem próximo a Como Vender a Lua, um daqueles títulos ufanistas que, hoje, nem se sabe a que serve. A diferença entre o filme que estreia essa semana nos cinemas e algo como, por exemplo, Apollo 13 é que, apesar de alguma burocracia, o filme de Ron Howard tratava com euforia e entusiasmo uma narrativa feita sob medida para popularizar as corridas espaciais. Hoje, esse tema não está apenas desgastado, como transformou-se em um modelo já publicizado tão constantemente que perdeu a razão sua ideia de comercializar seus feitos.

Como Vender a Lua

Ou seja, o filme é exatamente o que seu roteiro vende, mas a quem é necessário vender esse projeto? Estará a opinião pública relegando as corridas espaciais a algo já absorvido e por isso mesmo sem relevância comercial hoje?

Aliás, porque Sony Pictures se predispôs a apresentar simpatia ao modelo de negócios? A verdade é que independe de seus propósitos, Como Vender a Lua serve em uma bandeja um passado sem resquício de paixão. Exatamente da forma como é observado, o diretor Greg Berlanti tenta fazer com o espectador o que a protagonista vivida por Scarlett Johansson faz com possíveis patrocinadores, seduzir para comercializar.

É fora do comum a filmografia de Berlanti, que entrega apenas seu quarto trabalho em quase vinte cinco anos de carreira. Nenhum dos filmes anteriores era brilhante, mas, certamente, todos tinham um charme (pense no anterior, Com Amor, Simon) que não dá as caras por aqui em momento algum. Tudo parece um jogo de produtores com as reais motivações encobertas, e cada elemento em cena está apenas seguindo uma tabela a ser cumprida. É exatamente essa a deixa que me faz querer compreender o que é escuso em suas motivações, afinal é essa a pilastra de sustentação da obra. Se é efetivamente um jogo de poderosos em cartas marcadas, o público teria o direito de conhecer o que o levou até aquela sala de exibição.

Além disso, existe alguma tentativa política por trás desse glacê colorido chamado Como Vender a Lua, que cai de maneira bem simpática. A personagem de Johansson é, basicamente, alguém que ganha a vida como mentirosa. Estando os Estados Unidos do período sendo governado por um dos maiores mentirosos a que se têm notícia no poder, o roteiro escrito a seis mãos não compara Kelly Jones a Richard Nixon, mas a analogia é esperta o suficiente para fazer criar uma malha de propósito em uma produção que têm tanta função quanto uma guirlanda no Natal. Assisti-lo não irá promover qualquer dano, mas a validade de sua mensagem é rala demais para promover eficácia.

O elenco é enorme, mas o roteiro não tem interesse por quase ninguém para longe do casal de astros. Quando O Dossiê Pelicano há trinta anos atrás apregoou que um homem e uma mulher podem protagonizar um filme sem motivar um romance fajuto entre eles, muitos outros produtores deveriam ter ouvido a mensagem. Ao invés disso, temos Johansson e Tatum se esforçando para manter veracidade a algo muito artificial. Isso compromete suas interpretações, e os atores parecem ter abortado a ideia de mostrar serviço estético e qualitativo. Não é exatamente um piloto automático o lugar onde eles estão, mas quando não existe mesmo qualquer estímulo para doar o seu melhor, literalmente nada é feito.

O que resta para ser assistido em Como Vender a Lua é essa cultura coloquial dividida entre o fim dos anos 60 e início dos 70, e existia uma inocência ainda nas pessoas e nas suas capacidades. O anacronismo entre o que era válido no passado e hoje já não cabe mais enquanto valores principalmente, é a válvula que um tempo apresentou, mas aqui parece se despedir. Com alguma semelhança com o hilário Mera Coincidência ,de Barry Levinson, o filme abriu mão do sarcasmo que enfeitava o filme de 1997. Restou somente aqui situações pretéritas, nenhuma delas dispostas a transformar-se em algo novo.

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