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“O que te faz olhar para o Céu?” leva publico à uma imersão reflexiva e sensorial

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O Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro recebe a exposição ‘O que te faz olhar para o Céu?’, idealizada por Rodrigo Franco que, pela primeira vez, assina sozinho como curador. A mostra coletiva convida o público a uma imersão reflexiva e sensorial, através de uma centena de obras, de 45 artistas, de diversas partes do Brasil, apresentando uma vasta exploração artística e cultural sobre os múltiplos significados e interpretações do céu na vida humana.

É impossível falar sobre “O que te faz olhar para o céu?” sem passar pela trajetória de Rodrigo, diretor de arte e cenógrafo que, com a pandemia, precisou se redescobrir, tendo curado e cocriado exposições de sucesso no Rio de Janeiro. Por conta dos efeitos psicológicos causados pelo isolamento e as pressões decorrentes da realização de sua última exposição, Rodrigo passou por um burnout seguido de uma depressão profunda. Após quatro meses completamente inerte, recebeu o convite dos Correios e sentiu que era hora de voltar. “Foi bem impressionante porque, a partir do momento que comecei o processo de criação da exposição, percebi que o tema já estava lá, me rondando e me atravessando de alguma forma. A troca com os artistas foi tão intensa que acabou se tornando um processo curativo, que me fez olhar novamente para cima e para dentro de mim”, conta.

Como grande apreciador e consumidor de arte, Rodrigo explica que a seleção dos artistas se deu por uma identificação pessoal cuja pesquisa aborda questões que lhe são caras e estão dentro do contexto de debate da exposição. “Eu não fui uma criança livre para fazer minhas escolhas. E depois de todo esse diálogo com os artistas, me dei conta que tudo o que gostaria de ter realizado artisticamente está se materializando agora, através do trabalho desses artistas, como uma forma de colocar para fora minhas questões e angústias”, diz.

Desta forma, o que o público poderá ver não são respostas literais e/ou trabalhos figurativos sobre o céu (apesar de também estarem lá), mas diferentes manifestações artísticas, entre, pinturas, fotos, instalações, performances, vídeos e esculturas, de olhares diversos e plurais, que falam, na sua maioria, sobre o céu interior de cada um, isto é: o que os instigam a criar? O que os movem?

EIXOS TEMÁTICOS – Dividida em quatro eixos temáticos – Fé, Crenças e Misticismo; Ciências Celestes; Vivência e Sobrevivência; e Canalizador de Imaginário -, a exposição apresenta mais de 100 obras que dialogam e se complementam, trazendo um debate crítico sobre diversos assuntos, como, religião, sexualidade e gênero, mudanças climáticas, racismo, patriarcado, entre outros.

No eixo Fé, Crenças e Misticismo, o público encontrará obras que abordam a espiritualidade e a religiosidade, questionando os limites entre fé e intolerância e as diversas religiões existentes em nossa cultura. “A fé será retratada de forma muito respeitosa, mas trazendo críticas às instituições e seus dogmas que oprimem as pessoas, quando não de fato matam”, diz.

Na obra “Amálgama”, tela em óleo de Caio Pacela (RJ), o artista retrata a religião evangélica através de seus fiéis. Evangélico declarado, da mesma forma que tenta trazer representatividade à religião de 35% dos brasileiros, o artista não deixa de perder o tom crítico, como pode ser visto em “Defesa”, retrato de seu irmão gay, em questionamento à instituição que não aceita a homossexualidade. Além destas, Caio apresenta mais quatro obras: “Imago”, “Sem Título”, “Sede” e “Ascenção”.

Já Edu Barros, um dos fundadores do coletivo Anoiva, “Igreja do Reino da Arte”, criado em 2017, aborda em sua obra o universo pictórico como profecia, mesclando representações e linguagens clássicas com assuntos e materiais contemporâneos. Rodrigo conheceu a obra de Edu há quase uma década, quando realizou sua primeira exposição, abrindo portas para o artista que também estava iniciando sua carreira. Para a exposição, a curadoria selecionou cinco obras do artista, que em sua pesquisa incorpora sinais de um apocalipse mundano com ícones da vida cotidiana e conteúdos virais, atualizando mitos tradicionais e simbolismos religiosos. Entre as obras, destaque para o tríptico “Teto” (1,2 e 4) e “Nicho 3 (Procissão)”, de 2,40m de altura.

A questão de gênero aparece no trabalho de artiste não-binárie carioca Thix, pintore e exímie retratiste, que também estará presente na mostra com dois autorretratos: “Espada Invertida” e “Conversas Com Ocaña. “Se você olhar a pintura clássica presente nas coleções dos grandes museus, vai ver que a grande maioria é de homens brancos e suas famílias. Quando sozinhas, as mulheres aparecem em sua maioria de forma sexualizada. Ao retratar pessoas trans, não-bináries, Thix tem como intuito criar um acervo de registros pictóricos para que, futuramente, essas dissidências de gênero sejam vistas de forma normal dentro dos museus, como qualquer outro retrato”, explica Rodrigo.

Já o eixo Ciências Celestes permite ao público explorar a relação entre ciência e astronomia, incluindo registros históricos do Eclipse de Sobral de 1919, que comprovou a teoria da relatividade de Einstein. A exposição também aborda os apagamentos históricos, como o da física Mileva Marić, primeira esposa de Einstein, cuja contribuição foi essencial para a teoria, mas muitas vezes esquecida. Gentilmente cedidos pela instituição, as fotos e registros do Observatório Nacional que comprovam essa teoria estarão expostos, oferecendo um olhar crítico sobre a história da ciência.

Um dos trabalhos inéditos da exposição é do artista visual Joelington Rios, quilombola maranhense, que vive e trabalha entre Turiaçu (MA) e Rio de Janeiro. O artista vai apresentar a instalação “Cruzeiro do Sul III”, derivada das obras homônimas número I e II. “Em nossas conversas ele contou que, quando sente saudades do seu quilombo, aqui do Rio de Janeiro, olha para a constelação Cruzeiro do Sul e sente-se lá, revivendo as lembranças dos rituais e dos momentos com sua comunidade e seu território”, diz Rodrigo.

Já em Vivência e Sobrevivência, a mostra busca dialogar com o cotidiano da população e sua relação com seus céus. Entre os trabalhos presentes está o de Emerson Rocha, artista visual contemporâneo afro-brasileiro, natural de São Roque, que concentra sua obra justamente na exaltação das experiências e do cotidiano da população negra de seu país, um dos mais racistas do mundo. Tocado pelo convite de Rodrigo, o artista resolveu criar uma obra inédita especialmente para a exposição. Assim nasceu “Suas maldades são fracas perto das orações da minha mãe II”, uma versão atualizada da obra homônima que, segundo ele, evidencia muito o ato de pedir aos céus. Além desta inédita, também foram selecionadas “Amor e Progresso 2”, uma releitura da bandeira do Brasil em enaltação ao amor que nos mantém vivos e nos move; e “Quando garotos negros (se) amam”, que fala sobre a questão da homofobia e do preconceito dentro de um contexto social de homens negros e periféricos.

As mudanças climáticas, que escancaram o racismo ambiental, também aparecem em cena, especialmente nas fotografias de Daniel Marenco, repórter fotográfico, natural de Esteio (RS), que atualmente mora em Porto Alegre. Acostumado a cobrir grandes desastres naturais pelo Brasil e o mundo, o fotógrafo traz registros impactantes da recente enchente que assolou o estado, entre eles, um tríptico de fotos da cidade Cruzeiro do Sul, no bairro Passo de Estrela, uma das cidades mais devastadas pela inundação.

Já no eixo Canalizador de Imaginários, que mostra o céu como inspiração e encantamento para as mentes humanas, vale destacar o trabalho da fotógrafa carioca Salem, mais conhecida nas redes como Fotogracria. Nascida e criada na Rocinha, a jovem ganhou notoriedade retratando o cotidiano, em especial das crianças da favela, por um olhar alegre e esperançoso de quem está dentro dela, ao contrário do que é mostrado na imprensa. Com mais de meio milhão de seguidores, a Fotogracria foi uma das selecionadas para o Frente Festival, voltado para fotógrafos cariocas independentes.

Ao lado dela, a exposição também traz fotografias do falecido multiartista pernambucano Cafi (1965-2019), autor de mais de 300 capas de discos, entre elas, da emblemática do álbum “Clube da Esquina” (1972), com a imagem dos meninos sentados na estrada. Para a mostra, Rodrigo selecionou algumas imagens do acervo de Cafi, inclusive, de sua última exposição em vida, intitulada ‘No céu da placa-mãe’, da qual Rodrigo teve o prazer de participar. “Eu fui responsável pelo projeto expográfico e, Cafi, de forma muito generosa e genuína, dividiu comigo suas inquietudes, abrindo espaço para que eu pudesse contribuir para a narrativa, ajudando-o a escolher onde cada obra iria ser exposta”, relembra saudoso.

Para finalizar, a ilustradora e grafiteira indígena amazonense, Auá Mendes, que atualmente reside em São Paulo, mergulha dentro de si e de sua transcestralidade através da série “Olhar”, que inclui quatro autorretratos, sendo um deles parte da exposição. “O que te faz olhar para o céu”? constrói-se através da arte encontrada dentro e fora das galerias e é um convite para que, em um campo ampliado, estendamos nossos olhares para além do que costumamos fitar, já que o desvendar de qualquer segredo celestial se deve começar, primeiro, com um olhar”, sintetiza Rodrigo.

A exposição é uma jornada poética e crítica, uma oportunidade única para refletir sobre nosso lugar no universo e as múltiplas formas de conexão com o céu. Rodrigo Franco, em sua primeira curadoria individual de artes visuais, compartilha sua visão e experiências pessoais, trazendo à tona questões existenciais e sociais profundas através da arte, buscando pautar agendas urgentes e convidando o público também a olharem para seus infinitos céus interiores.

SOBRE RODRIGO FRANCO – Diretor criativo da Ostra Estúdio, nascido e criado no subúrbio carioca, Rodrigo tem mais de 20 anos de experiência em cenografia de eventos, direção de arte de exposições temáticas e imersivas. Graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal Fluminense e pela Universidad da Coruña, na Espanha, também estudou na Escola de Belas Artes da UFRJ, além de ser pós-graduado em Design do Entretenimento pelo IED – Instituto Europeo di Design. Atualmente, cursa Arquitetura e Urbanismo na Universidade Santa Úrsula e se prepara para seu primeiro mestrado.

Rodrigo possui uma vasta vivência local e internacional, tendo passado temporadas em países como Angola, África do Sul, Espanha e Inglaterra, o que enriqueceu seu repertório e habilidades. Em 2021, assinou sua primeira exposição temática, “I.A. Irreversível. Agora.”, na Cidade das Artes. Recentemente, co-criou a exposição “Celular 50” no Museu do Amanhã, que atraiu 149.376 visitantes de maio a agosto de 2023.

Com uma carreira marcada por destemor e curiosidade incessante, Rodrigo Franco desenvolveu a capacidade de atuar em múltiplas frentes de trabalho, todas entrelaçadas por sua paixão pela arte. Agora, beirando os 40 anos, realiza seu sonho e um salvamento íntimo com sua primeira exposição como curador de artes visuais, “O que te faz olhar para o céu?”.

Serviço
Data: 17 de julho a 31 de agosto de 2024
Local: Centro Cultural Correios – 2º pavimento, salões 1 e 2 (R. Visconde de Itaboraí, 20 – Centro)
Dias e horários: Terça-feira a sábado, das 12h às 19h
Entrada: Gratuita

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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