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“In On It” monta um fino quebra-cabeças sobre a vulnerabilidade

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Com um único objeto, um casaco, Fernando Eiras e Emílio de Mello fazem um jogo de armar em “In On It” que rearranja trivialidades e desarma expectativas. No palco do centro cultural Futuros, no Flamengo, eles trocam a posse de uma jaqueta numa brincadeira de pique que outorga a palavra a quem está com a roupa. O discurso se trifurca em três tempos. De um lado há uma peça sobre um homem que vai morrer, Ray; do outro, um casal discute a montagem do espetáculo, falando sobre as bases dessa encenação, além disso, há ainda um terceiro nível, que é a discussão sobre a vida amorosa desse tal casal, que está em atomização. É passado, presente e futuro em simbiose.

O texto é do canadense Daniel Maclvor (de “Here Lies Henry”), que ganha tradução de Daniele Ávila na montagem de Enrique Diaz, balanceada no limite tênue da comédia de relação, drama e metalinguagem. Aliás, em “In On It”, a luz de Maneco Quinderé guia uma jogabilidade fina de tempos narrativos distintos que se emaranham sem sinais evidentes de onde termina um e começa o outro. É uma fricção de sentidos.

Há uma delicadeza constante na encenação, mesmo nos momentos mais duros, nos quais Ray se agoniza com a chegada do fim, e mesmo nos momentos de azedume, representados pelas rusgas amorosas dos dois atores que encenam uma história sobre fatalidades. O diapasão se acelera, mas não larga o registro delicado, demonstrando o cuidado de Maclvor com o tema da vulnerabilidade.

Diaz arranca de Eiras e de Emílio atuações luminosas, cada uma a seu modo, que se equilibram e se amalgamam, embora cada personagem preserve sua individualidade e suas características afetivas. O casaco mencionado no início deste texto, que se põe e tira de cada um – parte do fino figurino de Luciana Cardoso -, é motivo de brigas, mas também de partilha. Ele é indício de um dos assuntos mais caros à obra de Maclvor: a comunicabilidade, expressa em seus limites e em seus interditos. No texto, onde se fala de mais, escuta-se de menos, como um alerta para a falta de entendimento nas relações contemporâneas. 

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