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Alien: Romulus – Fede Alvarez traz caráter político a franquia

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Algum teórico de Cinema (ou teria sido o próprio Ridley Scott, diretor da obra?) uma vez lançou uma máxima sobre Alien, o 8o. Passageiro, clássico absoluto de 1979, considerado um filme de casa assombrada no espaço. Parece menor relegar um filme tão precursor como tal a uma aparente diminuição de status, mas só carrega essa mágoa quem enxerga o terror como um gênero subserviente aos demais; não é, e nunca será. É lógico que o segundo longa da carreira de Scott é uma verdadeira revolução que foi copiada inúmeras vezes e continua sendo até hoje, mas no cerne da questão está exatamente essa excelência da simplicidade. Depois de anos onde o próprio autor original seguiu tentando negar tal corpo tão direto quanto o dessa obra, precisa chegar o sangue novo para reafirmar a máxima: sendo sucinto, Alien: Romulus é assustador. Não necessariamente pelo apresenta dentro do horror (mas sim, isso também é um ganho do título), porém o que se consegue depois de repetidas tentativas de remodelar o que não precisava avançar, porque a gênese já era brilhante. Não é estranho perceber que, mais uma vez, o responsável por uma revitalização acima da média (no caso aqui, bastante acima) é Fede Alvarez. Se você ainda não tinha colocado no caderninho o nome desse excepcional profissional uruguaio, não continue a ler o texto sem antes fazê-lo. Em seu quarto longa-metragem, Alvarez ainda não errou, e demonstra uma vitalidade invejável para lidar com a pressão da reinvenção, no que vem se tornando especialista, mas aqui um verdadeiro novo capítulo é escrito. 

Existia a responsabilidade com uma franquia cinematográfica cultuada, que vinha patinando com frequência, mesmo sendo pilotada pelo capitão original. Alien, nos dois capítulos anteriores, tinha resolvido evoluir suas teorias e ampliar seus universos, com isso se tornando uma obra mais cheia de elucubrações do que precisaria. Alien: Romulus mostra o estrago que pode ser feito quando se perde as preocupações externas para focar em um quadro interno, de uma adequação ao básico bem feito – ou extremamente bem feito. O resultado é um filme que pode até apresentar algum inchaço na reta final, mas que provoca o espectador, instiga a plateia com uma apresentação ousada, que não tem medo de encarar tal desafio. 

É bom que lembremos tratar-se da nona encarnação do alienígena ceifador de tripulações, ou seja, o fã já encarou todas as formas possíveis de enxergar o real protagonista da série. O que Alvarez faz não o torna refém de uma franquia, e sim possibilita um olhar todo particular para a obra, dando a sua contribuição a um campo que trabalhou com muitos autores, e que cada um respondeu com uma roupagem para sua versão. Alien: Romulus é, para onde se observa, ‘um filme de Fede Alvarez’ – e a essa altura, sua assinatura já se apresenta marcante. Da união entre um verdadeiro autor de horror (e como estava fazendo falta o surgimento de uma nova autoralidade nesse campo) e uma história que já se encontra com 45 anos, surge uma obra refrescada, tanto para o gênero quanto para o circuito. 

Sua marca de apostar no vermelho e no amarelo ouro/fogo continua intacta aqui, criando uma adequação inusitada a uma série que já abusou do azul, do verde e do preto. Alien: Romulus é uma incursão das mais felizes ao que poderia ter de mais central e orgânico em uma realização – entenda seu conceito e execute-o em sua verve mais exata. Saem de cenas as teorias anteriores, o olhar para uma possível nova camada, para recordar que trata-se de um jogo de sobrevivência em um ambiente pouco propício a tal. Existe tensão palpável, um verdadeiro senso de perigo e uma real demonstração de perda, isso vindo de um grupo de personagens no limite das ausências, pessoais e emocionais. 

Por tratar-se de um latino infiltrado em Hollywood, não falta a Alien: Romulus um caráter político que anteriormente não tinha sido visto, e que aqui não é enxertado de maneira panfletária. No entanto, seus personagens vivem uma realidade de exclusão, em um mundo que os repele a princípio, para em momentos seguintes deixar claro que a humanidade se extingue por si só. O que representa por si só Andy, vivido com muito carisma por David Jonsson, é um marco dentro da série; agora finalmente vemos que o humanóide que acompanha o grupo de humanos é interpretado por um ator negro, o que agrega muitas camadas a um tipo que sofre preconceitos de inúmeras ordens, e hoje cada vez mais. A discussão sobre a validade da inteligência artificial continua válida, principalmente porque é vivido aqui um lugar de obediência, entre algo parecido com o afeto tradicional e as diretrizes das máquinas. 

A joia da coroa de Alien: Romulus, no entanto, é a retificação da qualidade de Alvarez para criar ‘set pieces’ impressionantes, desde o início do filme, antes mesmo dos personagens chegarem no espaço. É uma qualidade de artesão, que mostra um cuidado coletivo com a obra, que não pode começar em sequências-chave, principalmente por tratar-se de um campo de construção imagética e sensorial. A direção de arte do filme é espantosa, valendo-se das capacidades da própria franquia em moldar-se ao que nada tem de moderno, que aqui adequa-se ao discurso. São um grupo de párias que não encontrarão outro lugar de ocupação que não entre os restos aos quais eles têm acesso, seja matéria física ou sentimental. 

A representação das cores fetiche que Alvarez torna a empregar aqui, muda a alegoria empregada e a conotação alcançada, dessa vez. O vermelho não é apenas o perigo, a morte, o desejo, mas uma representação trágica iminente, no qual o fogo constante poderia aparecer como uma espécie de salvação. Embaralhados em cena, esses elementos ganham a força de refrigerar os corredores escuros das naves e de injetar vida a uma franquia que conta com uma participação preciosa aqui – e que, efetivamente, os puristas irão reclamar. Mas a verdade é que o recurso utilizado aqui soa como mais uma obra terrível a se abater sobre o grupo, uma confirmação que Alien: Romulus nunca os deixa esquecer: o horror não virá das máquinas. Ou seja, Alvarez ainda adentra em uma discussão polêmica, para mostrar que seu talento só rivaliza com sua coragem. 

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