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Australian Connection – Hoodoo Gurus, GANGgajang e RSpys fazem a festa de surfistas veteranos

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Durante a primeira metade da década de 1990 houve o estouro de uma leva de bandas de rock australianas que acabaram rotuladas como surf rock, dado que na época não saía das playlis… digo, Walkman (e Discman) da galera do surf. A surf music dos anos 90 era, na verdade, uma denominação para classificar o rock da terra dos cangurus, como Hoodoo Gurus, GANGgajang, Spy vs Spy e Australian Crawl, que não fizeram grande sucesso fora da Austrália, mas caíram no gosto dos surfistas brasileiros, com uma popularidade semelhante à dos conterrâneos Midnight Oil e Men at Work. Isso se deu muito graças à extinta revista Fluir e ao programa Body Club, da Fluminense FM. No entanto, as letras não tinham nada a ver com a origem do termo, que surgiu lá nos anos 1960 nas praias californianas através de nomes como o The Beach Boys.

Foi em 1994 que o apresentador do Body Club, Ricardo Chantilly, iniciou o projeto Australian Connection, que traria ao Brasil todas essas bandas amadas pelo público surfista, ou que nunca pegou onda mas gostava da sonoridade dessas bandas. Agora, 30 anos depois, pela primeira vez o AC se deu em um formato de festival com as bandas tocando juntas na mesma noite, algo que nunca aconteceu na Austrália. E o público carioca, em sua grande maioria veteranos nostálgicos, pôde testemunhar esse combo de peso na noite de ontem (24) no Qualistage.

De chef a retorno aos palcos

O Spy vs. Spy marcou a geração que foi adolescente e jovem durante a década de 90. A coletânea “The Best of v. Spy v. Spy: The Spy File”, lançada em 1991 (no Brasil em 1993 ) e que cobre o material dos quatro primeiros álbuns, era item obrigatório na CDteca de qualquer surfista brasileiro. O Spy era formado pelo trio Craig Bloxom (vocal e baixo), Michael Weiley (guitarra e vocal) e Cliff Grigg (bateria) e suas letras tinham muito mais a ver com engajamento político e social (como os direitos dos aborígenes na Austrália) do que com surf. Ainda assim, “All Over the World”, “Hardtimes”, “Clarity of Mind” e “Don’t Tear It Down”. Ainda assim, essas músicas foram abraçadas pela comunidade surfista que compareceu em peso ao show de 1994 e nos que se seguiram.

O projeto Reggae Spys, ou RSpys, surgiu quando Craig (que na verdade nasceu nos Estados Unidos) estava vivendo como chef de cozinha, afastado dos palcos desde 2003, e “entrou na pilha” de dois amigos neozelandeses – o guitarrista TK Tarawa e o baterista Young Chrissy Lowe – para voltar a fazer shows. Daí resolveu tocar o repertório de sua antiga banda com pegada reggae.

Mantendo a tradição dos shows do Spy, os trabalhos foram abertos com o hit “All Over the World”, que talvez seja a música que melhor se adaptou ao novo formato. Outra que também se moldou satisfatoriamente foi “One of a Kind”. “Hardtimes” parece não ter sofrido muitas alterações. Em homenagem ao organizador do evento, que trouxe a banda pela primeira vez há 30 anos, foi executada a faixa “Harry’s Reason”. Já “Clarity of Mind”, maior sucesso do Spy, foi a que mais se empalideceu com a roupagem regueira. Bloxom a dedicou a Weiley, que faleceu em 2018 após uma luta contra um câncer e originalmente assumia os vocais na música.

Foto: Babi Furtado

O RSpys, a bem da verdade, é uma grande diversão para Bloxom enquanto não está na cozinha. Ele mesmo brinca que hoje é um chef músico, ou um músico chef. Daí o clima bastante descontraído de seu show, abrindo a noite com um público bom, porém ainda com muita gente por chegar

Retornando após mais de duas décadas

O GANGgajang pode ser considerada a única banda das três que realmente tem uma ligação com o surf. Ganhou projeção por conta do filme de surf da Quiksilver, “Mad Wax The Surf Movie”, produção que tornou-se um clássico cult do surf. Por dois anos consecutivos foi eleita a melhor banda do mundo pela Association of Surfing Professionals.

Formada em 1984, a banda ainda conta com quatro membros da formação original: o vocalista e guitarrista Mark ‘Cal’ Callaghan, o baterista Graham “Buzz” Bidstrup, o tecladista Geoffrey Stapleton e o guitarrista Robbie James. O baixista Chris Bailey, falecido em 2013, foi substituído por Peter Willersdorf. Trajando elegantes terninhos, iniciaram o show com “Distraction”, do álbum debut de 1985 que levava apenas o nome da banda como título, do qual saiu boa parte dos hits.

Em meio a sucessos como “The Bigger They Are”, “Gimme Some Lovin” e “House of Cards”, houve espaço para uma homenagem ao Rio de Janeiro Carioca Girl, com direito a percussionista brasileiro Stapleton na função. Em “Shadow of Your Love” Callaghan desceu do palco, pulou a grade e foi para o meio da plateia fazer um corpo a corpo com os fãs. Depois desse momento de maior ousadia da apresentação, o baile seguiu com “Sounds of Then”, mais conhecida como “This is Australia”, “Giver of Life” e encerrou com “Hundreds of Languages”, grande sucesso de 1994 que chegou a ser trilha sonora de “Malhação”. Um show sob medida para quem queria matar as saudades do GANGgajang passados mais de 20 anos.

Foto: Babi Furtado

Não à toa o Hoodoo Gurus foi escalado como headliner do evento. É sem dúvida a banda da chama surf music mais querida do Brasil. O quarteto formado por pelo vocalista Dave Faulkner, o guitarrista Brad Shepherd o baixista Richard Grossman e Nik Reith (o único novato, que entrou na banda em 2015) já esteve no país em 2023, com uma vitoriosa turnê, quando lotou o mesmo Qualistage, após 26 anos de ausência. Mas o público bastante numeroso – ainda que um pouco menor que há um ano – presente na casa de shows na Barra demonstrou que os australianos podem fazer turnês anuais que terão uma plateia cativa.

Faulkner se dirigiu aos fãs em um português bastante afiado para quem passou mais de uma década e meia sem pisar em solo brasileiro. “Alô, galera! Bem-vindos, cariocas!”, saudou antes de iniciarem os acordes do clássico “I Want You Back”, do álbum de estreia “Stoneage Romeos”, de 1984. “Essa noite vamos te levar para outro mundo” foi a deixa para outro sucesso, “Another World”, do disco  “Magnum Cum Louder”, de 1989.

O repertório teve predominância dos hits que conquistaram a geração anos 90, da estreia de 1984 até o álbum “Crank”, de 1994. Houve espaço também para três faixas do disco Blue Cave, de 1997, a pouco conhecida “Waking Up Tired” e as radiofônicas “Night Must Fall” (que Faulkner dedicou aos que não estão mais conosco) e “If Only…”. Do mais recente “Chariot of the Gods”, constaram apenas a faixa-título e “Equinox”, com Shepherd nos vocais. A banda também atendeu a pedidos. “I Don’t Mind” foi solicitada pelos fãs no Instagram.

O Hoodoo Gurus não se esqueceu de homenagear o organizador do evento e dedicou a Chantilly (que se tornou amigo pessoal dos músicos) seu maior clássico, “Out That Door”, ponto alto da noite. A música do álbum  “Blow Your Cool!”, de 1987, não teve muito êxito nem mesmo na Austrália, mas no Brasil se tornou a música mais famosa da banda.

Após “Like Wow – Wipeout”, que encerrou a parte regular do show, a banda voltou para o bis enfileirando a trinca de sucessos que faltavam: “Good Times”, “1000 Miles Away” e “Come Anytime”, que lavou a alma do público. Ao contrário do show de 2023, em que contou com várias músicas lado B (que foi um presente para os fãs mais ardorosos, é bem verdade), o da noite de ontem foi chuva de hits, para conquistar os recém-chegados, uma vez que havia alguns adolescentes – e até crianças –  acompanhados dos pais, e reforçar ainda mais os laços com o séquito fiel, já ansioso pelo próximo.

Confira abaixo o setlist da noite:

RSpys

1. All Over the World
2. Credit Cards
3. One of a Kind
4. Hard Times
5. Trash the Planet
6. Harry’s Reasons
7. Clarity of Mind
8. Working Week
9. Don’t Tear It Down
10. A.O. Mod

GANGgajang

1. Distraction
2. Initiation
3. The Bigger They Are
4. Gimme Some Lovin
5. Trust
6. Carioca Girl
7. House of Cards
8. Shadow of Your Love
9. Sounds of Then (This is Australia)
10. Giver of Life
11. Hundreds of Languages

Hoodoo Gurus

1. I Want You Back
2. Another World
3. Waking Up Tired
4. The Right Time
5. Night Must Fall
6. My Girl
7. I Don’t Mind
8. If Only…
9. Chariot of the Gods
10. Out That Door
11. Leilani
12. Equinox
13. Castles in the Air
14. Miss Freelove ’69
15. Bittersweet
16. What’s My Scene
17. Like Wow – Wipeout
Bis:
18. Good Times
19. 1000 Miles Away
20. Come Anytime

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