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Kill: Massacre no Trem – Produção indiana de ação conta com coreografia elaborada

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Creio que Kill: Massacre no Trem seja o primeiro longa-metragem indiano lançado no circuito em 2024. Duas coisas precisam ser ditas a respeito: a primeira é que já passou do tempo do Brasil prestar mais atenção no maior mercado produtor de cinema do mundo; a segunda é que é muito bom sair da curva esperada desse mesmo circuito. O oxigênio representado por esse lançamento faz bem ao mercado como um todo, e ao espectador final em particular, e o simples motivo de que nunca é demais descobrir um filme. Estamos falando de uma caixinha de surpresas, daquelas que não cansam de pregar peças no público enquanto abre as opções de sua narrativa. 

Não há muito o que compor para explicar o filme, que a princípio é tão simples que mal faz sentido sua sinopse. O que o rejuvenesce é a sua própria artesania, que é comandada por Nikhil Nagesh Bhat, que está apenas no seu quarto longa. Isso significa que ainda há muito o que ser mostrado por esse autor, e fica muito claro seu frescor pela maneira com que os eventos estão propostos. Como dito a um colega, Kill: Massacre no Trem ameaça nos enganar, e efetivamente o faz da maneira mais positiva possível durante sua primeira parte, e que dura quase metade do filme. O espaço onde a ação se passa (uma locomotiva muito estreita, provavelmente comum na Índia) é ocupado depois dos primeiros 15 minutos de filme (e de lá não sairemos mais). 

O que se apresenta inicialmente como uma produção tipicamente indiana, com coreografia elaborada para suas lutas, um casal central que vende ao mesmo tempo romantismo e breguice explícita e uma agilidade incomparável para montar seus esquemas, será deixado de lado a qualquer momento. Mas isso não é uma dica para se conectar a algo que ainda está por vir, porque Kill: Massacre no Trem é muito sedutor de cara. A simplicidade com o qual suas amarras são criadas não desfaz do prazer com que o espectador se envolve com aquele material, que tem um padrão de entrega bastante particular. Quando estamos sossegados com suas pretensões, acontece então o inesperado. 

Provavelmente quem estiver em uma sessão de Kill: Massacre no Trem, não se dará conta de que os créditos do filme não se encerraram, até porque tantos filmes já deixaram suas cartelas para o encerramento. Mas eis que o título explode na tela em sua metade; nessa hora, o queixo já rolou alguns andares porque sim, você acabou de presenciar os 5 minutos anteriores a isso, e uma mudança radical no campo da ação nos tirou a voz. A partir daí, não é só o roteiro que quebrou com o que poderia de ser mais esperado, mas é nesse momento que o protagonista do filme também se desprende da realidade, e se torna uma máquina ameaçadora e incontrolável. É como um encontro do protagonista de Fúria Primitiva com o nosso primeiro encontro com Neo, no Matrix de 1999. 

O que se desenhava ótimo entretenimento, então, se revela com alguns graus a mais de ambição. Nesse momento, ocorre toda uma tradição religiosa do país e das crenças de suas motivações, no plano onde estamos ou para longe dele. É a partir daí que começa a girar no filme uma consciência da perda, e de como todas elas são igualmente dolorosas, sejam as baixas dos chamados ‘mocinhos’ ou do universo dos ‘vilões’. A utilização das aspas é para mostrar que Kill: Massacre no Trem, além de tudo, subjetiva o lugar de cada personagem da estrutura; não, o filme não diminui nenhuma vilania, ou a justifica, mas mostra que a dor dilacerante causada pela morte não é inescapável ao alinhamento de caráter de cada um. 

E é bom também deixar claro, sem qualquer spoiler, de que Kill: Massacre no Trem é um filme bem comportado em sua primeira parte. Apesar do que conhecemos do cinema desse país e que é reproduzido na tela nessa parte inicial, é reiniciado a partir da quebra de seu mote original uma nova proposta, e uma meta diferenciada. O que estava dentro do esperado, é literalmente rasgado cena a cena, e passamos a acompanhar uma violência quase insustentável na tela. Mais uma vez, nada ali é gratuito; o personagem vivido pelo ator estreante nos cinemas Lakshya se perdeu, após testemunhar o inenarrável. Sua condição, que já não era comum, se altera diante do horror, no que ele acaba por produzir o que o título em português apresenta, do qual somos testemunhas embasbacadas. 

Conforme já dito, Kill: Massacre no Trem, a despeito do que apresenta em sua constituição dedicada à adrenalina inesgotável, também é um filme sobre como cada um lida com as tragédias que se abatem. Ninguém está imune ao inesperado desaparecimento, nos igualando no momento mais agudo de desespero. E no meio do caos absoluto e da cachoeira de sangue que cada cena é capaz de produzir, uma figura salta aos olhos. Parth Tiware, o homem por trás da máquina de matar Siddhi, é uma figura verdadeiramente ameaçadora e imprevisível. Com seu moleton azul e um rosto impávido no que precisa fazer, é exatamente com essa imagem que sairemos da sessão, tamanha é sua identificação com tudo o que o filme propõe realizar. 

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