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Silvio: Biografia do Homem do Baú chega aos cinemas

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Não existe uma forma adequada para começar uma análise sobre qualquer que seja a obra, mas existem certos casos onde a expectativa (do cinéfilo e do leitor) levam tão fortemente a um lugar, que o principal impulso do escriba é fugir do confronto. No caso apresentado, estamos diante de Silvio, um dos filmes mais esperados pelo público mesmo antes de ver, e os motivos até são válidos, embora não justos.

Quantas foram as vezes onde você se surpreendeu, positiva ou negativamente, com uma obra? Mas a política do trailer continua fazendo vítimas (a mais recente é Canina, de Marielle Heller), e o filme de Marcelo Antunez não teve 24 horas de descanso desde que sua propaganda foi lançada. O trabalho do profissional, no entanto, é analisar a obra à luz dos comentários e expectativas. 

Como toda biografia, a que cobre a trajetória do indivíduo menos midiatizado até a do maior astro possível, a intenção de Silvio é comunicar-se diretamente com o público, especialmente aquele que guarde alguma conexão com o objeto filmado. O que ele alcança é subjetivo, o que não é, é a forma como ele se utiliza dessas armas. O que vamos acompanhar é um projeto que parece dividido em dois, com receio de assumir um recorte e perder o espectador mais tradicional que procura apenas os pontos altos que se desenham em uma biografia padrão. Então o que deveria ser uma ideia de risco que funcionaria dentro de sua proposta – perseguir os dias onde Senor Abravanel mais conectou-se ao perigo propriamente dito, através da ameaça física que sua filha e posteriormente ele e sua família sofreram – acaba não obedecendo o que era seu ponto de partida. 

Isso porque, por trás de cada solilóquio proferido pelo apresentador mais longevo da tv brasileira, o roteiro acopla passagens de sua vida em formato cronológico. Ou seja, o filme que pretendia sair do lugar-comum, não consegue sobreviver sem ceder ao que parece ser contra. São regras de mercado e valores padronizados que apresentam alguns dos motivos pelo qual tenho profunda desconexão com o formato. Quando sai do que estamos esperando, o interesse pelo que está sendo contado ganha nova classificação, e Silvio parece menos engessado. Mas toda a obra parece conectada a essa visão dura de entregar entretenimento, com um pensamento arraigado a respeito do recorte completo do artista, e assim temos pouco contato com a essência do seu homenageado. 

O problema de Silvio é que, tirando essa intenção inicial que não se preconiza, todo o resto depõe contra o que vemos. A começar pelos valores de produção, que só parecem interessantes, principalmente nos 20 minutos iniciais, ou seja, antes do sequestro propriamente dito começar. Porque vemos um dos homens mais ricos do país filmado de maneira acanhada, em um escopo quase rudimentar. Lógico que não podemos emparelhá-lo a, por exemplo, Mamonas Assassinas, porque o nível sobe rápido. Ainda assim, é uma filmagem toda excessivamente planificada, sem avançar para uma esfera ampla. Isso denuncia o projeto como um todo, quando não temos acesso a uma fotografia que fuja desse enquadramento restrito. Antunez não tem um passado dos mais felizes esteticamente falando (vide Polícia Federal), mas aqui o projeto pedia um pouco mais de carinho. 

Ao contrário desse cuidado, temos um dos piores trabalhos de caracterização do cinema brasileiro recente. Não estou fechando a discussão na impressionante (no pior sentido) maquiagem disponibilizada para Rodrigo Faro, mas no conjunto das tarefas, que passam inclusive por toda a construção imagética da família de Silvio; sua filha mais velha é um caso específico de como não vestir uma peruca em alguém. A aplicação do material é todo desastroso, e isso é triste especialmente porque compromete o trabalho dos atores. Por exemplo, não é possível avaliar a performance de Faro, porque não temos como prestar atenção no profissional se suas bochechas estão deformadas, ou seu queixo está esfarelando, ou o ator encostou as próteses em algum lugar, e isso deforma ainda mais o material. 

A grande surpresa de Silvio não é deixar o espectador absolutamente órfão de compreender a história de Silvio Santos, em suas ideias e motivações, mas de criar uma situação policial que bloqueie qualquer interesse em relação ao que é, de fato, o protagonista do filme. Saímos empáticos ao sequestrador, e desconhecendo a trajetória do homem no pôster. Isso também é possível porque uma pessoa sai intacta desse projeto: Johnnas Oliva. Em momento de muita exposição (esteve em O Sequestro do Voo 375 Domingo à Noite) o ator carrega o que deveria ser a vilania do personagem tão cheio de humanidade, que é impossível não criar empatia genuína com o personagem. E aí, quem deveria sequestrar Silvio Santos, acaba também cometendo um segundo “crime”, o de roubar um filme cheio de problemas para si. 

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