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“Ideias para adiar o fim do mundo” leva trajetória do líder indígena Ailton Krenak para os palcos

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Pela primeira vez no teatro, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” perpassa obras, falas, o pensamento e a trajetória do líder indígena Ailton Krenak, imortalizado pelo seu protesto na Constituinte de 1987. Após meses de processo colaborativo, a dramaturgia de João Bernardo Caldeira e de Yumo Apurinã, diretor artístico e protagonista do espetáculo, investiga as raízes da colonização que, como aponta Krenak, segue em curso, produzindo extermínio, etnocídio, devastação ambiental, expropriação de terras e tragédia climática, por meio de tiro, fogo, bíblia, soja, boi, estrada e cimento.

Para tratar desse Brasil que ignorou os direitos dos povos originários até a Constituição de 1988, o espetáculo enfoca a trajetória de vida de Yumo Apurinã, há seis anos radicado no Rio de Janeiro. Um indígena do povo Apurinã, nascido na Aldeia Mawanaty, no território Cinta Larga, em Rondônia, conhece o teatro ao frequentar a Igreja e decide ser ator. Em conflito com as ideias de pecado e de expulsão do paraíso, que separa humanidade e natureza, ele confronta o cristianismo em busca de sua ancestralidade, solapada pelos processos coloniais.

“Eu não sei a minha língua”, constata, atônito. Sob memórias de massacre, desmatamento e evangelização, a pergunta fundamental do best-seller de Krenak é então colocada: “Somos mesmo uma humanidade?”

Ao investigar os costumes e o passado de seu povo, o Demiurgo Tsurá, o ritual Xingané, o poder de cura dos Kusanaty (pajés), esse indígena vasculha a si mesmo, enquanto desvela o etnocídio, a expropriação de terras e o sistemático aniquilamento do povo indígena e de seus direitos, inclusive em todas as constituições até a de 1988.

Em cena, esse corpo racializado pela sociedade, que lhe imputa a pecha de “índio”, vasculha os estereótipos, enquadramentos e racismos vivenciados inclusive em sua carreira como ator. É na escola que Yumo descobre que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral e escuta dos colegas: “Você é índio de verdade? Você come carne de macaco?”. Com frequência, suas personagens usam roupas rasgadas, não possuem família, usam cocar ou têm os pés descalços.

“Sou fruto de histórias de sobrevivência. Nasci e cresci num mundo já cristão. A minha referência de força espiritual é estar ajoelhado, abrir mão dos meus desejos e renunciar a minha vida. Quando me dei conta disso, foi assustador. Eu não sou contemplado por esse pacote de vivência dolorida que a bíblia oferece”, afirma Yumo. “Prefiro acreditar no encantamento desta vida do que numa vida eterna no paraíso ou no inferno”.

“Durante o processo de ensaios, Yumo decidiu que, a partir das palavras de Krenak, ele precisava contar a sua história e compartilhar conosco a sua própria busca”, conta João Bernardo, diretor, idealizador, produtor e autor do texto do espetáculo, ao lado de Yumo. Ao constelar as trajetórias de Yumo e Krenak, “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo” nos descortina os procedimentos visíveis ou menos evidentes da sistemática violentação sofrida pelas populações indígenas ainda hoje. “A colonização ainda está acontecendo”, diz. “O racismo, o sexismo, a expropriação de terras e a monocultura ainda formam os pilares da sustentação socioeconômica deste país”.

Serviços: Temporada: 28 de novembro até dia 22 de dezembro / de quinta a domingo, às 20h / Classificação: 12 anos / Local: Teatro Futuros – Arte e Tecnologia (Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo)

Ingressos: IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO em Rio de Janeiro – Sympla

Sessões com intérpretes de libras:

Novembro: dias 28 e 30

Dezembro: dias 01, 08, 12, 14, 19, 21 e 22

Sessões com audiodescrição:

Novembro: dia 28 e 30

Dezembro: 01, 08, 12, 14, 19 e 21

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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