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A Favorita do Rei reconstitui o romance entre o monarca Luís XV e a cortesã, Marie-Jeanne Bécu

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Atriz desde criancinha, Maïwenn Aurélia Nedjma Le Besco chamou a atenção das plateias da França, seu país natal, quando tinha uns 7 anos, interpretando a versão mirim da personagem de Isabelle Adjani em “Verão Assassino” (1983), de Jean Becker. Naturalizada argelina, em respeito às raízes de sua família materna, ela passou a década de 1980 atuando, também na TV, até pausar sua carreira após um casamento com o diretor Luc Besson, com quem começou a namorar aos 15 anos. Teve uma filha com ele, Shanna, e parou tudo para cuidar da menina. Sua relação amorosa com o realizador de “Subway” (1985) acabou em 1997, quando ele a deixou para namorar Milla Jovovich, mas a vida seguiu, e plena. Maïwenn não apenas retornou às câmeras como criou uma carreira (bem-sucedida) por trás dela, como cineasta. Estreou na direção com um curta, “I’m An Actrice”, em 2004, e passou aos longas dois anos depois, com “Pardonnez-moi”, sem jamais largar o formato. Rodou outros cinco títulos, entre os quais “A Favorita do Rei” (“Jeanne du Barry”), que abriu o Festival de Cannes em 2023, o que elevou seu cacife na indústria na audiovisual europeia. Chegando agora às telas nacionais, essa produção, orçada em cerca de US$ 22 milhões, virou “O” sucesso de público do Festival Varilux, no Brasil.

A Favorita do Rei

Apesar de austera, um tanto morna sua narrativa (paradoxalmente) contextualiza a desmesura afetiva, os arroubos do querer. É um tema recorrente nos filmes dirigidos por Maïwenn, o que lhe deu status de diretora autoral, em especial depois de “Meu Rei” (2015). Em tom de folhetim histórico, a trama de A Favorita do Rei é baseada em fatos reais, reconstituindo o romance entre o monarca Luís XV (1710-1774) e uma cortesã, Marie-Jeanne Bécu (1743-1793), conhecida como Madame Du Barry, vivida pela própria diretora. 

No longa, o governante de uma França pré-Revolução – já chacoalhada por uma série de tormentas sociais – é vivido (e muito bem) por Johnny Depp. Aliás, este filme foi o primeiro longa estrelado por ele após a batalha judicial contra sua ex-mulher, Amber Heard. De fato, foi uma escalação bastante polêmica, mas tornou-se positivamente simbólica, a julgar pelo engajamento de Maïwenn nas batalhas feministas, sobretudo pela equidade de gêneros nas oportunidades profissionais no mercado cinematográfico.

Prestigiado por 765 mil pagantes nas telas de sua nação de berço, A Favorita do Rei foi definido pela imprensa europeia como se fosse uma mistura de “A Favorita” (2018) com “Uma Linda Mulher” (1990), sendo muito atacado pela forma pudica como retrata o erotismo inerente ao jogo de sedução entre seus protagonistas. Esperava-se um tratamento mais caudaloso de uma cineasta que esse especializou na abordagem dos desatinos inerentes ao verbo gostar. O que se vê em seu filme é um gostar com G maiúsculo, uma paixão cercada de impasses impostos pela moral vigente.  

Nota-se fogo na fotografia de Laurent Dailland, bastante cálida na temperatura de cor com que recria o Velho Mundo do século XVIII. Na direção de arte, o rebuscado design de produção de Angelo Zamparutti amplia o calor das cenas, optando por elementos de cores retintas, numa aposta (inteligente) no excesso. A abordagem de Maïwenn na construção dos planos com seu elenco, a mise-en-scène, é que vai pelo caminho da brandura. A taquicardia de seu “Políssia” (Prêmio do Júri em Cannes, em 2011) parece ter ficado para trás. 

Reflexivo, A Favorita do Rei conversa melhor com “DNA” (2020), o filme mais tocante de Maïwenn (até hoje), no qual ela explora sua vinculação com a cultura argelina nas raias do melodrama, gênero em que a cineasta mais se destaca. Nesse filmaço lançado no Festival de San Sebastián no auge da pandemia, ela celebra o feminino a partir de uma discussão sobre identidade, no caso, territorial e institucional, ao refletir sobre o papel político da família como instância identitária. 

O tema da identidade explode uma vez mais em A Favorita do Rei, conforme Jeanne Du Barry vai enfrentando tabus para se afirmar para além de rótulos, livrando-se da pecha de amante. Essa explosão, contudo, não é furiosa, uma vez que Maïwenn parece trocar a fúria pela delicadeza. Seu trunfo para capturar plateias reside aí, pela doçura, mas aquela Maïwenn tempestuosa de outrora, cinematicamente, era mais potente.  

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