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Lobisomem: Leigh Whannel reinventa clássico

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Leigh Whannel é um artesão das imagens, e sua visão autoral dentro do horror é, ao mesmo tempo, um diferencial para o gênero e também um adendo crucial em um momento onde nunca o terror foi tão valorizado, aceito em premiações e teve sua popularidade tão aplaudida. Mais do que um grande artista visual, Whannel também é um roteirista que consegue desenvolver suas narrativas de maneira acima da média, criando paralelos entre o cinema de gênero e uma vida comezinha, como encontrado nas produções mais prestigiadas fora do seu escopo. Apesar disso, Whannel só conseguiu ser valorizado em sua autoralidade em seu trabalho anterior, O Homem Invisível. Agora com a estreia de um novo trabalho, Lobisomem, espera-se que não precisemos da aprovação de premiações para considerar seu trabalho no lugar que merece.

É bom lembrar que Whannel é o homem por trás da origem de Jogos Mortais, da franquia Sobrenatural e do alucinante Upgrade. Portanto, o que vimos nos últimos anos não é mais do que a devida valorização de seu manancial de conhecimento do que realiza. Mais uma vez, a origem demasiadamente humana de seus filmes transforma nossa ligação com o material. Uma outra característica do que é feito com o gênero de maneira mais comum do que imaginamos, é a falta de conexão estabelecida entre o que é filmado e o quem assiste. Isso resulta em títulos onde a contagem dos cadáveres é a única apreciação possível do material. Quando algo com a preocupação de Lobisomem se faz presente, deveria ser um sinal para outros projetos reverem suas prioridades. 

Lobisomem abre com o que obviamente percebemos ser o preâmbulo para uma tragédia anunciada. De maneira positiva, Whannel evoca tal tragédia e a adia ininterruptamente, mesmo que isso esteja sempre no plano principal dos eventos. Quando o horror efetivamente entra em cena, foram tantas as deixas para que isso acontecesse sem ocorrer, que o resultado é alcançado com louvor – estamos diante de um ‘jumpscare‘ não apenas que funciona, mas que também é necessário para encerrar nossa construção mental diante da obra. E o mais interessante é que esse momento (comum na trajetória de seu autor) não tem qualquer ligação com os códigos do gênero, e sim a vida sendo absolutamente desgraçada, e enfiando seus personagens no mais absoluto desespero. 

A essa altura, já nos importamos demais com as duas gerações de uma mesma família apresentadas – Blake e seu pai, assim como o núcleo que ele constituiu 30 anos depois da abertura do filme. Está na relação de cuidado que o pai tinha com ele, que herdou com o nascimento de Ginger (temos uma referência a Amaldiçoada aí, cujo título original é Ginger Snaps?). Lobisomem, além de voltar a tocar na destruição que a masculinidade tóxica provoca mesmo quando é só um vislumbre, acima de tudo é um filme cuja ordem familiar é preponderante para personagens que não sabem como fazê-la funcionar, apesar das melhores intenções possíveis. 

Com os atores certos desempenhando seus lugares, o campo armado previamente para que todo o envolvimento do espectador aconteça, é bem facilitado. O cinema ainda precisa se dar conta do quanto está desperdiçando Christopher Abbott (de Jack White, uma das melhores interpretações masculinas dos últimos 15 anos, que infelizmente pouca gente viu), e Lobisomem é um belo palco para que ele estimule instintos, racionais ou não, a respeito da paternidade e da fragilidade do controle. Julia Garner (muito premiada por Ozark) está em posição parecida, precisa de mais percepção para um talento muito evidente, tirando sua personagem dentro de um escopo de culpa para um campo de frustração e melancolia. 

Não precisa de mais do que o diálogo muito bem escrito encenado entre os dois na escadaria do jornal onde ela trabalha para que todo Lobisomem seja significativo, em suas perdas e dores futuras. É sobre a falta de comunicação quando a violência ganha palco principal, e maneira como Whannel resolve tal ideia vai além da eficiência e encontra a excelência, ainda que graficamente não seja agradável. Mas a ideia de separar, pouco a pouco, uma família que parecia tão disposta a não se perder, é um dos acertos de um filme que nos prega peças em momentos onde já não os esperávamos. É a delicadeza de compreender o afastamento que figuras paternas constantemente exercem sobre as gerações futuras; existirá o trauma, mesmo que não haja o propósito dela. 

No campo do terror propriamente dito, Whannel não deixa nada a desejar no sentido de maquiagem – talvez uma das criaturas mais humanas já concebidas, e por isso tão impressionante. Com o acréscimo de todo esse material humano, Lobisomem não tira os olhos do que precisa ser feito para arrebatar o fã do imediato. Uma sequência de acidente consegue mais uma vez arrebatar, e as escolhas imagéticas que faz tanto incluem os efeitos especiais quanto prescindem dele, em nome de uma sugestão do qual poucos de valem hoje. Um programa que pode agradar a muitos paladares diferentes, 2025 é aberto com um filme que pode fazer bonito pela temporada, seja em bilheteria quanto em manter o terror em alta. Se entre seus elementos foram adicionadas colheres cheias de importância emocional, esse é um mérito de seu autor. 

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