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Os Radley: Família de vampiros chega aos cinemas

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Baseado no livro de Matt Haig (o mesmo autor de A Biblioteca da Meia-Noite), a adaptação para Os Radley é uma produção britânica que não foi bem vendida, ao menos não em seu material gráfico. O que é sugerido é uma comédia com o humor tipicamente inglês, que em raros momentos se faz presente. O que está sendo mostrado aqui é mais complexo e humano do que uma comédia despretensiosa gostaria de aparentar. Então embarcamos em uma jornada para conhecer os limites dos nossos desejos, e investigar quantos esqueletos escondemos para apagar a concretização dos mesmos, quando proibidos. O resultado é um filme que nem sempre consegue dar o tom necessário ao que é tentado, mas cuja profusão de clichês embaça os intentos. 

O diretor Euros Lyn, responsável pela adorada série “Heartstopper“, ao conhecer essa série (e gostar dela) fez toda a diferença na forma como se encara Os Radley. O filme abre com uma narração que só é retomada no encerramento, e isso mostra que muito provavelmente o livro também possui a narração, que é dispensada pela produção na maior parte do tempo. Ela serve para nos orientar diante do verdadeiro protagonista da obra, Rowan, vivido por Harry Baxendale de maneira muito honesta. O adolescente é filho de um casal de vampiros, e nem ele e nem sua irmã sabem disso, vindo à tona quando ela tenta se proteger de um estupro. A partir dessa cena logo no início da produção, percebemos que a comédia possível seria um norteador para a resolução de uma história sobre a manutenção do desejo, e suas vertentes dissidentes. 

Ao contrário da série, extremamente ensolarada e alto astral até quando apresenta um conflito mais sério, aqui o tom é de uma constante introspecção, que vai sendo minado enquanto os eventos se aprofundam. Sim, estamos diante desse dilema em descoberta, quando um quarteto de vampiros lida com dois momentos distintos de sua jornada. Enquanto os mais velhos precisam resolver questões do passado, os jovens se dividem entre o admirável mundo novo, uma revolta que muda suas personalidades (compreensivelmente) e a explosão de múltiplos quereres. Com um olhar condescendente ao que ocorre, como se paternalisasse as atitudes de seus personagens, Os Radley avista essa profundidade moral, e não sabe muito bem como desenvolver suas questões além do chavão. 

Por trás do que é “novo” (a identidade vampírica), o que temos são os clichês de sempre em filmes que brincam com essa narrativa: o desconhecimento dos tipos, seu posterior fascínio pela condição, as “vítimas” que cairão pelo caminho e o personagem que representa o investigador, sempre a um passo da verdade. Se não trata-se de um produto de desenvolvimento original, ao menos ele tenta sempre avançar na discussão que apresenta. Desse jeito, Os Radley é uma diversão que se mostra cada vez mais tristonha mesmo quando quer representar os desejos concretizados de seus personagens. É uma história que corre em círculos para mostrar com delicadeza um universo que geralmente se apresenta mais violento; aqui, mesmo esse lugar é comedido. 

O elenco, além do rapaz, tem Kelly MacDonald (de Onde os Fracos não têm Vez) e outro destaque na composição de Damian Lewis para sua dupla de gêmeos. Ator conhecido e premiado por Homeland, a sutileza com que ele suporta entre dois tipos de rosto igual, gestos até compatíveis, mas personalidades completamente diferentes, nos conectam ao que está sendo montado. Graças ao desempenho do coletivo, Os Radley não deixa de ter suas narrativas desencontradas, mas pelo menos compramos bem cada uma das interações ali. Assim como o vindouro O Macaco, muitos tiros são dados em muitas direções diferentes, mas a quantidade de acertos aqui não justifica o tiroteio. 

O que não poderia ser mais britânico em cena é a maneira comedida com que os temas são desenvolvidos. Estamos falando de desejo carnal, e em Os Radley ele é visto quase em fogo brando, tirando a virulência que seus personagens deveriam externalizar. Fácil de acompanhar até seu desfecho por conta de um tema sempre fascinante como a existência de vampiros entre nós, sobra ao filme armas para brigar, mas falta a vontade de entrar na guerra. Durante toda a projeção, o “quase” acompanha cada cena, até percebermos que o clima escolhido foi esse mesmo, chegar perto de acertar e ficar observando tais acertos sem tocar neles. 

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