- Publicidade -

Mickey 17: Bong Joon-Ho adapta romance de Edward Ashton

Publicado em:

Quais os próximos passos após experimentar o maior momento de sua carreira? Essa pergunta deverá ser respondida em breve por cineastas tão diferentes como Christopher Nolan e Greta Gerwig, que há dois anos se estabeleceram como comandantes dos fenômenos Oppenheimer Barbie, respectivamente (e vem aí A Odisseia As Crônicas de Nárnia, para ambos). Em igual proporção, Bong Joon-Ho esteve nesse mesmo lugar quatro anos antes, pilotando seu formidável Parasita. Nesse momento, seu ‘capítulo seguinte’ tem a missão de suceder um feito histórico, cuja qualidade não é questionada. Em Mickey 17 , o cineasta aposta e consegue equilibrar positivamente, marcando suaa filmografia com novos desafios de outras ordens, que arranha várias convenções propostas como o universo da própria produção. 

Mickey 17

O filme é uma adaptação do romance de Edward Ashton, e mostra mais uma vez o interesse de Bong pela ficção científica, que ele já tinha apresentado em títulos como Okja Expresso do Amanhã, guardando algumas semelhanças de detalhes entre os dois. Do primeiro, a fala sobre uma tentativa de preservação humanista do planeta, e os conceitos a respeito da empatia que valem para além do que é  humano. Do segundo, a atmosfera claustrofóbica de um ambiente limitado e em pleno funcionamento futurista, com sua população vivendo às margens de um controle pesado. A neve que embala as imagens de um, e um grupo de criaturas cuja fofura é irresistível também estão na receita das sinopses de seus precursores, e também estão em Mickey 17, em um balaio de reciclagem que não retira de sua nova produção os valores de descoberta. 

Através de uma ala de suas produções, o humanismo pelo qual Bong se debruça sempre parece atravessado por algo maligno, como aliás costuma acontecer nos mais realistas cenários. Em Mickey 17 isso não é diferente, o que se contorce no que é apresentado aqui é a maneira como ele consegue mostrar-se em sua voz mais clara da humanidade diante do que, em tese, não a representa. Os tipos que poderíamos chamar de protagonistas, aqui, tratam-se de um dupla de clones (no filme, Dispensáveis) e uma, digamos, população animal de uma mesma espécie extraterrestre. Aliás, esses personagens aqui acabarão demonstrando, a despeito de não o serem, uma gama de sentimentos demasiadamente humanos, uns pelos outros inclusive. Se não acabam por ensinar didaticamente a quem os acompanha algo de mais valioso, ao menos as “lições” foram dadas das maneiras mais claras. 

O que corrompe alguma parte dos méritos de Mickey 17 é o errático trabalho de montagem de Jinmo Yang, que quase ganhou um Oscar pela festa que Bong promoveu na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com Parasita. Creio que seja justo creditar parte desse problema concentrado aqui nos esforços de seu diretor em congraçar muito de sua narrativa na tela, e não dispensar os arranjos que cada momento precisa para se alastrar em cena. Todo detalhamento narrativo que o filme propõe parece diminuir nosso interesse de maneira progressiva, porque são resultados que só acrescentam volume de duração ao filme. O resultado é um filme que em diversos momentos soa como redundante e até excessivamente expositivo, recuperando o ritmo de tempos em tempos. 

No elenco, Robert Pattinson mais uma vez mostra porque não cansa de ser visto como alguém subestimado ainda, e até ligeiramente subvalorizado. Interpretando, na maior parte do tempo, dois personagens que estão juntos, com personalidades estranhamente conflitantes para uma dupla de cópias, o ator não se prende ao que o roteiro considera rarefeito. O atropelo, sem arrogância, que apresenta a seus colegas com uma representação cheia de nuances, cuja sensibilidade nunca é questionada, é mais uma prova de seus predicados de intérprete. Naomi Ackie (de I Wanna Dance with Somebody) e Steven Yeun (de Minari) acompanham de perto sua performance com uma parceria muito verdadeira, e Anamaria Vartolomei (de O Acontecimento) é astuta com sua personagem. Já o geralmente excepcional Mark Ruffalo, dessa vez, entrega um tipo estereotipado que não interessa muito. 

Exatamente como em Okja, existe uma fina linha que separaria o excesso de ingenuidade que perpassa a obra de uma mensagem mais assertiva. Menos aqui do que na incursão de 2017, Mickey 17 parece apostar numa percepção para o humanismo que esbarra em um certo bom mocismo. Não que seja obrigação de um cineasta ser cínico;, Frank Capra era um mestre do altruísmo. Porém Bong ainda não conseguiu acertar a mão quando sua seta mira exclusivamente em questões de apelo universal, quando fala estritamente para uma aldeia, uma comunidade, uma família nuclear mais focada, o acerto inevitavelmente acontece. O problema surge quando ele desata a entregar resultados para as grandes questões da humanidade indiscriminadamente. Ainda assim, enquanto escapismo, estamos diante de um exemplar bem sucedido desse cinema, mais direto ao ponto nas imagens e na comunicação. 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -