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Bolero: A Melodia Eterna, uma biografia sobre Maurice Ravel

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Não existe, provavelmente, um só ser humano que não conheça a melodia do ‘Bolero de Ravel’, uma das peças clássicas mais importantes do século passado, e a harmonia francesa mais executada na História. A peça foi composta por Maurice Ravel a pedido da bailarina russa Ida Rubinstein, na qual ela encenaria em solo único, durante os 17 minutos de duração da mesma. Sua ideia de trazer o calor espanhol em conotação erótica foi acatado pelo compositor, que assim viu nascer sua obra mais famosa. Bolero: A Melodia Eterna poderia ser uma biografia tradicional sobre o artista atormentado, mas concentra-se na composição específica do título, mas aos poucos consegue conjurar um tanto sobre o músico atormentado consigo mesmo, e o que ele imprimiu em sua obra. 

O filme é dirigido por Anne Fontaine, que também é atriz, e possui alguns longas bem acima da média no currículo, como Agnus DeiMarvin ou Lavagem à Seco. Mas ela também tem um bom punhado de “títulos de produtor” na carreira, como Coco Antes de Chanel ou Bolero: A Melodia Eterna, que parecem seguir uma padronagem específica que não acrescenta muitas camadas ao que vemos, ou tantas insinuações ao que é narrado. Ao contrário da esfuziante estilista francesa, o compositor que faleceu aos 62 anos tinha uma personalidade que contrastava com sua obra, e sobre a qual a diretora prefere dar vazão. O resultado é um filme com as principais características do que seu protagonista é acusado durante o mesmo. 

As acusações, no entanto, não são nada boas. A todo momento o personagem é descrito como um homem frio, como um músico sem paixão, alguém que não se entrega ao que sente, e cuja obra transpira desses mesmos predicados. O que vemos em Bolero: A Melodia Eterna é um tratamento parecido dado à experiência cinematográfica, que não se conecta com a urgência do que é visto, da tradução do momento psicológico que o personagem passa, em crise e sob pressão. Não é um arco muito largo, mas o filme consegue capturar a fugacidade de um espaço-tempo que precisa ser completado. Nessa ideia surge a dicotomia por trás do que vemos, um ambiente absolutamente controlado e prestes a entrar em colapso; no entanto, isso mais parece uma ordem narrativa do que sua realização empreende em tela. 

Infelizmente essa não deveria ser a textura apresentada aqui, e nem me parece ser o caso da direção ter buscado essa saída. O motivo são os espasmos que o filme consegue quando sua música-tema entra em cena, revelando o tesão que não está presente em nenhum outro momento. O personagem, a cada nova acusação, reage de maneira previsível e clichê, só que não subverte seus interlocutores. Com essa toada, Bolero: A Melodia Eterna compreende o que precisa fazer para dar sentido ao que está contando. O resultado, no entanto, soa sem a energia que o filme sobre um compositor e maestro precisaria ter, principalmente porque o momento escolhido para o retrato é de tensão contínua, que o filme recusa a abraçar. 

O elenco não tem qualquer culpa sobre os eventos, incluindo é dele que surge grande parte da inquietação que não vemos na obra. Grandes atrizes como Doria Tillier ou Emmanuelle Devos não tem papéis que justifiquem suas presenças em cena, já Jeanne Balibar aproveita todos os momentos possíveis. É muito bonito ver um galã como Vincent Perez envelhecer sem perder o talento e o charme, e o jovem Raphaël Personnaz justifica as apostas que forem colocadas em seu colo. Compenetrado e com uma ausência precisa, sua atuação tão imersiva é talvez o grande motivo para se conectar com Bolero: A Melodia Eterna do início ao fim. 

Apesar dos pesares, do ritmo irregular e do desperdício de uma ideia tão cheia de possibilidades, Bolero: A Melodia Eterna tem o charme presente em obras que precisam retratar um recorte que parece ínfimo do ponto de vista histórico. Não é o debruçamento mais dedicado que o roteiro faz ao todo, mas ao mesmo tempo não estamos diante de um recorte comum. Essa contradição faz bem a um filme que conta com seus acertos pontuais para nos fazer esquecer como esse todo está mal distribuído. Nem tocar a música inteira sem interrupção, um processo que duraria menos de 20 minutos, Fontaine decidiu colocar em cena, mesmo com o misto de atração e repulsa que seu protagonista sente por seu próprio talento. 

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