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Karate Kid: Lendas limpa o assoalho sentimental Pop refrescando a franquia de Daniel san

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Alicerçado numa viga de autoralidade hoje menos valorizada do que merecia, chamada John G. Avildsen (1935 – 2017), Karate Kid é uma das franquias Pop que mais e melhor alfabetizaram o público brasileiro nas cartilhas hollywoodianas de redenção a partir de sucessivas (e hoje saudosas) transmissões dubladas na “Sessão da Tarde” da TV Globo. Mesmo seus derivados que mais se aproximaram do formato soap opera teen (tipo “Malhação”), como a série “Cobra Kai” (2018-2025), preservaram o brio afetivo de Avildsen, que trazia um Oscar no currículo, conquistado em 1977, por “Rocky, Um Lutador”. A educação sentimental que se fez notar na trilogia carateca rodada por ele de 1984 a 1989 é retomada no regresso da franquia aos cinemas, na forma como o realizador Jonathan Entwistle (egresso de seriados como “I Am Not Okay With This”) foca mais no amadurecimento do que na pancada. O Avildsen outonal de “O Poder de um Jovem” (1992) é o que mais transpira desse diálogo arejado com o drama esportivo. 

Karate Kid

Apesar de o coração nerd da gente disparar a cada aparição de Ralph Macchio ao lado do Buster Keaton de Hong Kong, o diretor e ator Jackie Chan, é o jovem Ben Wang que nos conduz por uma jornada de superação da China a Nova York, passando por um casarão na Califórnia. Aliás, o guri é astro nato e seu talento incandesce “Lendas” na criação de um protagonista perseverante, com um dilema essencial aos demais personagens centrais de “Karate Kid”: a migração.

Li (Wang) deixa sua vida em terras chinesas para acompanhar a mãe, médica, em NY, na esteira da morte de seu irmão. Deixa para trás a escola do sensei Han (papel de Chan, aqui dublado por Marco Ribeiro), que lhe deu o beabá da defesa pessoal. Em seu novo lar, o menino vai cair de amores pela funcionária de uma pizzaria, a aguerrida Mia (Sadie Stanley); vai ajudar seu futuro sogro (Joshua Jackson) a voltar ao boxe; e vai encarar a temperatura e a pressão de um ferrabrás, Connor (Aramis Knight, uma besta fera). Tem isso tudo pela frente, mais a tarefa de se apaziguar com o luto pelo mano morto e mais a pós-graduação em socos e pontapés com Han e com o Karate Kid de antigamente, o hoje sensei Daniel LaRusso (Macchio, na dublagem de Nizo Neto). Esse treino ocupa pouco do longa, que se dedica mais ao amadurecimento de Li no Novo Mundo.

Além disso, no quesito de “crônica do amadurecer”, a narrativa de Entwistle conta com o frescor de edição de Dana E. Glauberman e Colby Parker Jr. Eles harmonizam elementos gráficos de TikTok e mídias afins dos anos 2020 adaptando um molde importadk dos anos 1980 para os novos tempos. Tiram o cheiro de naftalina e agilizam os distintos eixos do roteiro, sobretudo o fato de Li treinar o pai de sua amada. É uma premissa que isenta “Lendas” da acusação de ser uma xerox genérica do que Avildsen fez la atrás. Quem caçar na web o documentário “King of Underdogs” (2017), que Derek Wayne Johnson fez sobre o cineasta, vai entender como ele foi crucial para o trâmite da Nova Hollywood para a Era Ploc.

Deleite vespertino da Globo nos anos 1980 e 90, apoiado numa dublagem antológica, “Karate Kid – A Hora da Verdade” (1984) é a prova de que o olhar político (marxista) de Avildsen, iniciado em 1973 com “Sonhos do Passado” e revitalizado em “Rocky” (1976), soube se adaptar à febre de juventude do fim do século XX. Um de seus acertos foi transformar o supracitado Daniel LaRusso (o adolescente que, depois de espancado por lutadores, torna-se um ás do tatame) num ícone do pop, fazendo de seu intérprete, Macchio (hoje um senhor de 63 anos), uma celebridade juvenil. Presenteou o cinema ainda com outro sol, o Sr. Miyagi, grisalho zelador que lutava um como Bruce Lee. Seu bordão, “Limpe o assoalho, Daniel San”, dublado por Magalhães Graça, virou um sintagma de sabedoria. O personagem rendeu a seu intérprete, Noriuki Pat Morita (1932-2005) uma indicação ao Oscar.

Era magistral o desempenho de Morita no longa original, que custou US$ 8 milhões e faturou uma baba (US$ 130 milhões planeta adentro). Avildsen rodou duas sequências, uma (brilhante) em 1986 e outra (bem descartável) em 1989. Nesse mesmo ano, a DIC Entertainment, a produtora Saban e a Columbia Pictures Television realizaram uma série animada de LaRusso e Miyagi, que passou aqui no “Xou da Xuxa”. Um quarto filme, com Hilary Swank, foi lançado em 1994, com direção de Christopher Cain, mas fracassou fragorosamente em circuito, enterrando a cinessérie.      

Em 2010, a Sony decidiu ressuscitá-la, com o cineasta Harald Zwart no comando, responsável por reciclar a premissa do jovem que, depois de virar saco de pancada, ganha a tutoria de um bamba das lutas e encarar seus detratores numa competição. O enredo foi deslocado para a China e, no lugar de LaRusso, entrou Dre Parker, vivido por Jaden Smith. Seu sensei foi Han, que volta aos cinemas agora, às vésperas de Chan receber o troféu Pardo alla Carriera no 78. Festival de Locarno, na Suíça, em 9 de agosto. Até lá, “Lendas” – quem tem um epílogo pós-crédito de rachar de rir – tem tudo para arrecadar cifras astronômicas. Já é, de longe, o filme pipoca mais divertido de 2025, nestes seus primeiros cinco meses.

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