- Publicidade -

Três amigas: Emmanuel Mouret se inspira em filme de Woody Allen

Publicado em:

Poucos diretores hoje em dia tem o olhar para o microcosmos emocional particular em pequenezas, quanto Emmanuel Mouret. Talvez Hong Sang-soo se aproxime, e isso os torna tão singulares em um tempo onde os eventos e as proporções arrancam as pessoas de casa para os cinemas. Aí chega Mouret, com sua filmografia de pequenas causas e muitas vezes ainda menores efeitos, mas cujo avassalador é primordial em seus tipos. Essa semana estreia Três Amigas, que em seu título, em seu olhar para as personagens e em sua investigação, recorda Hannah e sua Irmãs em muitos pontos, e Woody Allen como um todo em sua própria gênese. Isso não é exatamente um problema, e a inspiração não diminui nem um autor nem o outro, apenas um feliz encontro de gerações. 

Três Amigas

Diminuí-lo a um pastiche de Allen, é reducionista a sua obra, e a qualquer análise de seus códigos. Mas Mouret, que já entregou obras do tamanho de Crônica de uma Relação PassageiraRomance à Francesa e que espera pacientemente seu Amores Infiéis estrear aqui há cinco anos, flerta com uma ideia de contemporaneidade maior do que com, exatamente, uma linha de pensamento de planos e personagens que o aproximem da picardia agridoce do novaiorquino. Prestes a completar 55 anos, o francês ainda não é devidamente reconhecido nem dentro de casa, o que mostra o atraso da França em reconhecer autores que não celebrem o espetacular, mesmo entre as mazelas humanas. 

A narrativa não pode ser mais absolutamente banal: Joan não ama mais seu marido e isso a incomoda. Já Alice, não vê muita dificuldade em estar com alguém de maneira morna, exatamente como é seu casamento. Rebecca é a terceira amiga de ambas, que sem o conhecimento delas, está tendo um caso justamente com o marido de Alice. A tessitura dessas relações, no entanto, é deflagrada com uma naturalidade tão espontânea, e ao mesmo tempo tão cosmopolita, que Três Amigas até pode se assemelhar com muitos autores na História (além de Allen, Eric Rohmer também é uma referência), mas essencialmente é mais um grande filme de Emmanuel Mouret. 

Porque o autor não apenas filma com extrema proximidade e intimidade de suas figuras, como o faz sempre da maneira mais humana possível. Não fossem Camille Cottin, India Hair e Sara Forestier três estrelas, diríamos quase estar diante de um documentário observacional – e muito invasivo. Essa é uma particularidade de Mouret, estar tão próximo emocionalmente ao que filma, que nossa principal motivação é conversar com o que vemos. Em Três Amigas, isso mais uma vez acontece, e nos pegamos interagindo entre os desencontros das protagonistas, e suas vidas amorosas tão verdadeiras. Embalados por um roteiro que entende suas personagens e cria personalidades distintas a cada um dos citados, parece que pedimos algo óbvio, ou celebramos um feito trivial, mas é com brilhantismo que os nós são feitos e desfeitos na nossa frente, ainda que pareçam simples. 

As três atrizes citadas, por exemplo, já demonstraram grandeza antes, mas aqui temos especialmente em Forestier (César por Os Nomes do Amor) e Hair (de Na Vertical) suas melhores intérpretes. Elas, aliadas à participação de Vincent Macaigne (também conhecido como ‘o melhor ator francês da atualidade’, fetiche do diretor), transformam Três Amigas em programa obrigatório. Não que o resto do elenco esteja aquém ao que o trio faz, apenas quis enfatizar nomes dentro de um grupo que pode vir a ser o melhor do ano. Porque não apenas decidem extrapolar as amarras da interpretação, mas em oferecer o material mais acertado possível, não apenas adequado, mas um conjunto que é elevado por cada componente. 

Não se trata de um trabalho exclusivo de um autor roteirista, mas de um homem que cria imagens. Três Amigas cria então uma intersecção na obra de Mouret por elaborar um conceito fantástico, e transformar essa interação com o impossível, possível. Isso está no tratamento da fotografia, na maneira como são criados os campos de luzes de cada plano, e no tom que sua decupagem apresenta. Não escapa de seu trilho a vitalidade que os gêneros compõem do campo de imagem; o real e o irreal estão lado a lado, como representar essas duas ideias que podem se anular, caso o emprego não seja acertado? Esse não é um problema com o qual tenhamos que nos preocupar aqui, por Emmanuel Mouret entrega um dos filmes mais bem acabados de 2025. 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -