- Publicidade -

M3GAN 2.0: Terror vira arma de guerra em sequência

Publicado em:

Faz todo sentido que a segunda parte do bem sucedido nas bilheterias M3gan tenha abandonado a data de lançamento original, era janeiro, própria para o sucesso de filmes de terror – para se aboletar no meio do verão americano, em busca de bilheterias ainda mais volumosas. Notícia 1: a estratégia, diante das previsões de arrecadação, dará bastante errado. Notícia 2: M3gan 2.0 não é mais um filme de terror, amarrando todas as afirmações acima. Com isso, 50% do seu charme é diluído, e o que sobra no lugar, acaba por empalidecer uma ideia divertida e corriqueira, deixando em seu lugar um filme/ideia que é difundida há pelo menos quarenta anos no imaginário da cinefilia, desde que O Exterminador do Futuro original foi concebido.

A verdade é que a ideia original não era realmente dotada de originalidade, vide que Chucky existe quase há tanto tempo quanto que a chegada de Arnold Schwarzenegger nu no nosso tempo para exterminar o Messias que deteria a revolução das máquinas. Mas M3gan, por si só, era já a versão 2.0 desse conceito – que também não tinha se originado ali, lembrando que até Anthony Hopkins jovem já tinha feito filme de boneco assassino (Magia Negra). No entanto, apesar da falta de atributos estéticos que lhe conferissem algum carisma, a história do robô babá que, adestrado por uma IA do mal, descontrola-se aos píncaros dos crimes fatais, caiu nas graças do espectador, movida por marketing violento e uma certa dancinha do mal que pegou.

O lado bom dessa picardia do texto continua nessa segunda parte, o que garantem algumas risadas sinceras com os absurdos que seus personagens proferem como a própria M3gan, na maior parte do tempo. Alison Williams continua muito boa em cena, e se entrou como produtora dessa continuação, é porque confiou no potencial que lhe foi apresentado. Cessam aí os atributos de M3gan 2.0, um filme quase inexplicável em sua tentativa de deturpar o que foi apresentado anteriormente. Se alguém tiver passado por um período de coma nos últimos três anos, e entrar na sessão dessa estreia da semana, terá a certeza que a primeira parte foi um filme de ação/aventura com propósitos de redimir a imagem da inteligência artificial no mundo. Esse propósito, que no capítulo anterior, soava como deboche diante do todo, agora parece se confirmar como uma ideia “para se pensar”. 

O resultado desagradará profundamente os admiradores dos conceitos originais, e deixará o fã de terror especialmente irritado, acredito. Independente da comparação boba (ser melhor ou pior que o anterior, inerente a qualquer produto continuado), o que fica evidente é que o projeto sofreu uma lavagem cerebral e perdeu suas características de gênero, para se tornar algo ainda mais genérico do que já era. Precisamos de mais um libelo pacifista, que defenda o uso da inteligência artificial de maneira consciente, nos unindo a ela, em um momento de discussões tão sérias a esse respeito? O original era uma galhofa sem consequências, que divertia no mesmo tanto que deixava aguda suas implicações filosóficas; M3gan 2.0 abre mão do humor em diversos momentos, para se dedicar a mudar uma postura. Nesse percurso, nada é pior que o filme abrir mão de sua natureza, e que lhe conferia particularidade, para ser qualquer um. 

Sem fazer uma defesa de causa pela “manutenção do pobre gênero desprezado que é o terror”, porque é um gênero que mensalmente conta com novos títulos a sua disposição (inclusive dois dos melhores filmes do ano são dessa fatia, Pecadores e Extermínio: A Evolução), é feio o que foi feito aqui. Porque é uma traição aos fãs do original, uma traição aos fãs do gênero, e uma deturpação sem qualquer propósito da obra original. Seria esperado que M3gan 2.0 adquirisse traços de comédia mais acentuados porque o original já se colocava nesse lugar, mas fica a sensação de que também isso foi diminuído. Afinal, a intenção é montar quase uma Ethan Hunt ambígua, uma salvadora da humanidade tão artificial quanto o que ela luta contra. O resultado é uma experiência, no mínimo, frustrante.

A jovem atriz Violet McGraw cresceu e sua relação com a boneca tem um novo revés, isso também adicionado como algo até positivo do roteiro. Mas sendo o diretor Gerard Johnstone o responsável por ambos (e o único responsável pelo roteiro do segundo), fica clara que a ideia de reformular a rota da produção foi aprovada por todos a contento. M3gan 2.0 continua sendo uma produção muito barata (ainda que tenha custado três vezes o valor original) e agora poderá ter uma censura padrão para uma aventura familiar. Não vou duvidar que, para um possível próximo episódio, sua personagem-título, já absolutamente tornada heroína, se transforme em uma versão robótica do Tom Cruise. Longa vida aos produtos sem qualquer vida produzidos por Hollywood, que chegaram ao ponto aqui de abolir sua base para, literalmente, começar do zero. Com e sem trocadilho. 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -