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Anônimo 2 entrega o que o público quer ver: uma diversão inofensiva e sanguinária

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No auge da pandemia, em pleno 2021, a Universal resolveu bancar nos cinemas uma produção modesta e o resultado foi muito bem sucedido: Anônimo era um filme bem conduzido, uma produção cheia de bossa com o ator certo, Bob Odenkirk, o eterno protagonista de “Better Call Saul”. Mesmo no Brasil ainda vivendo o tanto de sofrimento que estivemos imersos, o filme aconteceu e foi um sucesso mais a frente ainda maior no streaming. Ainda bem que não esperaram décadas (como se faz hoje) para lançar a continuação, e Anônimo 2 chega aos cinemas com as mesmas funções do original: diversão escapista com um personagem central imbatível, vivido por um ator que entende na pele cada um de seus dilemas. 

A direção é assumida por Timo Tjahjanto, cineasta de origem indonésia, em sua primeira incursão pelo Ocidente. A experiência do cineasta em longas repletos de adrenalina resulta em uma produção onde o corpo está em primeiro plano, na convocação das cenas. Não que o título anterior tivesse outra natureza, mas sinto que existe uma base de leitura aqui partindo de um pressuposto de cada reflexo externo. Anônimo 2, também na conversa com o original, é um filme que elabora as ausências de cada personagem, desde a sequência de abertura. Ainda que esse desenvolvimento não seja amplificado quando o filme mais precisa, é um lugar que a própria Hollywood desenvolve com menos interesse que no passado, a despeito de John Wick e seus congêneres. 

O filme conta com uma disposição de sua narrativa, que parece buscar o que de mais solitário cada um daqueles personagens poderia dispor, para extravasar tais ausências através de pulsões de ação. Isso está muito bem estabelecido, óbvio, no protagonista, na sua esposa, no vilão que no futuro será humanizado, e até em um dos mais sanguinários em cena. Mas para Anônimo 2 funcionar sobre as bases que o interessa, ele precisava antes de tudo formatar melhor sua espinha dorsal, que é o núcleo familiar principal. E a partir do momento que um dos personagens frontais dessa situação perde a voz e não consegue expor suas carências, o filme não pode se sentir honesto ou bem sucedido em sua totalidade. Porque em sua carga emocional, o peso do filme esvaiu-se e nada foi substituído por essa falta. temos apenas um personagem que tenta se colocar, que o filme não busca. 

Já no quesito, o filme cumpre o que promete, ao menos na aparência. Anônimo 2 serve muita pancadaria bem coreografada, e ao menos uma sequência da produção funciona de maneira uniforme, que é o do galpão após o sequestro. Essa é a cena onde todas as fatias de público se encontrarão: desde o fã da catarse descerebrada quanto o admirador do ‘cinema vulgar’ estarão em pé de igualdade na empolgação que tal momento causa. Mas o filme é menos recheado de ação do que deveria, e toda a demonstração de saber o que está fazendo que Tjahjanto deixa explícita aqui, mostra como o diretor não foi completamente atingido como poderia, e sua equipe foi pouco percebida pelo filme. 

Além do Odenkirk e da Connie Nielsen reprisando os seus papéis, o elenco aqui tem duas adições de peso, pelo menos. O personagem de Nielsen tem pelo menos uma complementação de peso, que inclusive agregam a uma ideia do politicamente correto nos momentos finais do título, enfiada de maneira gratuita pelo roteiro. A ele resta repetir um tipo que ele conhece bem e interpreta com o pé nas costas. Já nas adições bem-vindas, Colin Hanks (sim, o filho desaparecido de Tom) sai muito de sua zona de conforto para viver um xerife nas raias da psicopatia, entregando algo bem diferente do mocismo que seu pai nos acostumou. E a musa Sharon Stone está perfeita como a mulher absolutamente amoral e multifacetada que encabeça a linhagem de vilões do filme, e a única ressalva é ela ter tão pouco tempo de cena. Ressalta sua imensa qualidade de intérprete que sempre foi menosprezada pela indústria. 

Em linhas gerais, Anônimo 2 é um filme muito curto (mal chega a 1h e meia) que entrega o que o público de shopping quer ver: diversão inofensiva, regada a sangue que o estúdio não consegue decidir que deve ser ostensiva ou moderada. Ou seja, nem o quesito violência gratuita (e esperada) é um protocolo que o filme consiga bancar como um todo. O resultado não consegue apagar os senões coletivos, mas o filme nunca deixa uma marca ruim na nossa expectativa. Entendemos como um produto que precisa ser vendido, e superior a coisas ainda mais manufaturadas, aqui existe um cérebro por trás das soluções gráficas e dos temperos utilizados. 

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