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Equívoco de Cláudia Raia demonstra desconhecimento social sobre acessibilidade e inclusão

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Por Fernanda Shcolnik – No último dia 15 de setembro, repercutiu na mídia e nas redes sociais o fato ocorrido na peça de Cláudia Raia, em que a atriz repreendeu um de seus espectadores que usava um fone de ouvido preso ao celular. Ela solicitou a retirada do fone e lembrou ao homem que ele estava praticando um ato inadequado, estando em um teatro.

O que a atriz não sabia era que o homem era pessoa com deficiência visual e estava usando audiodescrição, recurso de acessibilidade para eventos audiovisuais como cinema e teatro. Como indica o nome, ela consiste na descrição das imagens em áudio para o pleno acesso de pessoas cegas e com baixa visão aos eventos artísticos. A audiodescrição pode ser realizada ao vivo ou ainda por aplicativos com sincronização. Em ambos os casos, é preciso usar o fone de ouvido.

Embora Cláudia Raia tenha se retratado diretamente junto ao espectador e também publicamente, através de suas redes sociais, a atitude demonstra o grande desconhecimento ainda vigente em nossa sociedade acerca de acessibilidade e pessoas com deficiência. Nesse sentido, cabe esclarecer que as deficiências são diversas, podendo ser visual, auditiva, física, intelectual e psicossocial, além de neurodivergências, como o transtorno do espectro autista. Para cada uma delas, deveria haver um recurso de acessibilidade específico, para que as pessoas possam gozar de plena participação social. 

Pensando em teatros e cinemas, é preciso, por exemplo, haver espaços que comportem cadeiras de rodas e andadores, e ainda espaços para manobra destes objetos. Também é necessário disponibilizar audiodescrição com empresas especializadas e intérprete de LIBRAS (língua brasileira de sinais), utilizada por parte das pessoas surdas. Além disso é , certamente, fundamental também a disponibilização de abafadores para pessoas no espectro autista, que podem necessitar deles devido à maior sensibilidade a estímulos auditivos. 

Embora existam resoluções da ANCINE sobre a necessidade de audiodescrição nos cinemas, o Brasil ainda carece de legislação sobre o tema, para que a acessibilidade plena seja garantida como obrigatoriedade em eventos culturais e também esportivos. 

Em relação ao fato envolvendo Cláudia Raia, é importante trazer esclarecimentos sobre a terminologia usada pela atriz ao se retratar. Em seu vídeo no Instagram, ela afirmou não saber que o espectador era “portador de baixa acuidade visual”, quando o correto seria pessoa com deficiência visual, já que o termo “portador” já caiu há tempos, sendo incorreto dizer “portador de deficiência”, “portador de necessidades especiais” ou “pessoas especiais”. Hoje, o correto é dizer PESSOA com deficiência, sempre a palavra “pessoa” vindo na frente, já que pessoas com deficiência nada portam, mas, sim, têm uma deficiência, que deve ser vista como característica, e não um marcador de inferioridade.

O cerceamento da participação de pessoas com deficiência em diversos espaços faz surgir e crescer a luta anticapacitista, contra esta forma de discriminação que oprime pessoas com deficiências, tratando-as como inferiores nos aspectos funcional e estético, já que são comumente associadas ao feio, ao abjeto e, principalmente, à incapacidade. Trata-se de uma luta complexa, que envolve a inclusão social em várias frentes, como educação, lazer e trabalho, luta esta que deve ser de todos, se quisermos construir uma sociedade justa, igualitária e livre das opressões. 

Nesse sentido, é papel de atores e atrizes, músicos, diretores e produtores culturais conhecer os recursos de acessibilidade necessários e exigir sua garantia em todos os espetáculos. Só assim conseguiremos efetivar verdadeira inclusão.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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