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Festival Atos de Fala chega a sétima edição

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Criado há 14 anos pelos curadores Cristina Becker e Felipe Ribeiro, o festival Atos de Fala está de volta à cena para sua sétima edição. Pela primeira vez, o evento será realizado no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, entre 13 e 23 de novembro de 2025. Na abertura, a artista Gabriela Carneiro da Cunha apresenta “Tapajós”. Inédita no Rio, a performance discute a contaminação por mercúrio das águas do Rio Tapajós e dos corpos dos seres humanos e não humanos que o habitam. Atos de Fala é apresentado pelo Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Política Nacional Aldir Blanc, e conta com o patrocínio do Banco do Brasil.

Segundo um dos diretores artísticos, Felipe Ribeiro, “nesta edição, o mote da programação parte da obra do quilombola Antônio Bispo dos Santos (popularmente conhecido como Nêgo Bispo), que preferia ser chamado de tradutor em vez de pensador.” Bispo exaltava sua habilidade de traduzir os saberes quilombolas para a escrita, utilizando uma linguagem que não apenas transcreve, mas também reconstrói e ressignifica – ele mesmo se descrevia como um “lavrador de palavras”. Ao traduzir e compartilhar os saberes locais com o mundo, Bispo deu voz e legitimidade aos povos quilombolas e originários, contrastando com a tradução imposta pela cultura dominante.

Com concepção e direção de Gabriela Carneiro da Cunha, “Tapajós” (13 e 14/11) transformará o Teatro III em um laboratório de revelação fotográfica analógica, fazendo com que imagens e histórias surjam em meio ao risco de desaparecimento. Há mais de dez anos, a artista conduz o projeto de pesquisa “Margens sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes”, no qual mergulha nas histórias que cercam os rios brasileiros em situação de catástrofe, sobretudo os da região Norte do Brasil, para escutá-las e ampliar seus testemunhos. 

“Tapajós” emerge de uma aliança multiespécie entre mães (da região do Tapajós, mães Munduruku, mães do Sairé, a mãe do peixe, a mãe da floresta e a mãe do rio), propondo que todo corpo pode ser habitado por uma mãe. Gabriela continua desenvolvendo sua linguagem artística alimentada pela escuta dos rios amazônicos, pela investigação das fronteiras entre ritual e performance, pela participação ativa do público e pela conexão simbólica entre o mercúrio que revela o ouro na água e o processo fotográfico.

“Terra Nullius – Má Criação” (14 e 21/11) é um espetáculo-percurso da artista portuguesa Paula Diogo, que convida o público a caminhar pela cidade em grupo, com fones de ouvido, num trajeto estabelecido pela artista. O ponto de partida é a Praça Tiradentes, de onde o público segue a pé até o CCBB RJ. Baseado na ideia de “terra de ninguém” (terra nullius), um termo do direito internacional para territórios sem dono, a performance ultrapassa os limites da sala de teatro e ocupa a geografia urbana da cidade. Para cada local, um novo percurso é desenhado, criando uma sobreposição com a faixa sonora pré-existente. Para a artista, o termo terra nullius também traz um significado poético, uma ideia de território inexplorado, território não reclamado onde é possível viver fora de leis de mercado e de produção, uma espécie de oásis de liberdade onde seria possível recomeçar e repensar uma ideia de sociedade.

Com concepção e performance do artista maranhense Tiyê Macau, “NIÑ(H)O – Ou uma Casa Provisória para o Nascimento do Invisível” (15/11) pode ser uma palestra, uma performance ou um espaço de esterilização da visão colonial. A obra propõe transformar o que foi silenciado pela colonização em novas formas de expressão e escuta. Um gesto para confiar a cura numa existência do impossível, afropindorâmica (afro e indígena), transmasculina e amazônica, que se manifesta no tensionamento entre os gestos, onde o corpo e a voz se alternam entre falar, dançar e ouvir.

Na segunda semana de festival, a programação apresenta “Reconhecer e Perseguir” (20/11) e “Manejo” (21/11), performances criadas pelo polo de criação e produção de dança Pérfida Iguana, que investigam a dança pela via da história e da fabulação. Em “Reconhecer e Perseguir“, um grupo de pessoas tenta criar, repetidamente, um chão para dançar. Para produzi-lo, lançam mão de fragmentos históricos da dança e além. A cada tentativa, um novo chão surge, e abre caminho para outro futuro possível. No entanto, o chão tanto quanto o futuro são instáveis e seguem se transformando constantemente pelo esforço do grupo, revelando o poder do trabalho humano de construir coisas e destruí-las simultaneamente. O trabalho tem direção e performance de Carolina Callegaro, Raul Rachou e Renan Marcondes.

Já em “Manejo“, os artistas Carolina Callegaro (bailarina e coreógrafa) e Renan Marcondes (artista visual e performer) retomam uma série de vídeos produzidos durante a pandemia entrelaçando-os a ações performáticas. Os vídeos pesquisam a relação entre movimento e o mundo das plantas, enquanto os artistas reencenam, na forma de depoimento, o percurso de questionamentos que suas obras sofreram por parte do poder público sobre a sua legitimidade como uma obra de dança. O relato aborda o longo processo jurídico desencadeado a partir disso e mostra como sua resolução transformou a percepção do grupo sobre o contexto de produção no Brasil.

Criado pela performer e teórica da performance Eleonora Fabião, “T R A M A” (22/11) é um projeto fruto de uma residência artística no setor público. O trabalho resultou em um livro e agora ganha um desdobramento: uma nova performance com o mesmo nome e o lançamento da obra. A palestra-performance apresenta uma ação colaborativa entre artistas, servidoras e servidores municipais de diversos setores, com apoio de movimentos culturais cariocas. Ao longo de 2023, eles se reuniram em locais de poder para imaginar coletivamente projetos para a cidade e formas de executá-los. O resultado foi a elaboração de 19 propostas que, por meio desta publicação, continuarão a ser encaminhadas à Prefeitura do Rio de Janeiro.

A artista plástica e cineasta cearense Darks Miranda e a filósofa, artista visual e performer Juliana Fausto assinam texto, direção, vídeos e dramaturgia de “Os Pombos Não São o que Parecem” (23/11). A performance é um filme ao vivo, dividido em três atos, em que pombas moram no Arquivo Nacional e buscam os mapas de volta para casa, galinhas põem ovos incessantemente e não são ouvidas por seus vizinhos, e morcegos são como armas mortíferas. 

SERVIÇO De 13 a 23 de novembro de 2025 / Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Teatro IIIEndereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro

Apresentações no Teatro III

13 e 14/11, às 19h – “Tapajós”

15/11, às 19h – “NIÑ(H)O”

16/11, às 18h e dias 17 e 19/11, às 19h – Mostra Laboratório de Criação

20/11, às 19h – “Reconhecer e Perseguir”

21/11, às 19h – “Manejo”

22/11, às 19h – “T R A M A”

23/11, às 18h – “Os Pombos Não São o que Parecem”

14 e 21/11 – Espetáculo-percurso “Terra Nullius – Má Criação” 

16h30 – Ponto de encontro na Praça Tiradentes

17h – Início do percurso em direção ao CCBB RJ

Ingressos à venda na bilheteria do CCBB ou no site bb.com.br/cultura  Classificação: 16 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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