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Corações Jovens apresenta melancólica narrativa sobre descobertas na adolescência

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Há três anos, o cinema mundial foi assolado por uma pedrada belga: Close, de Lukas Dhont, saiu com o segundo lugar do Festival de Cannes daquele ano, e foi indicado ao Oscar de filme internacional. Nas telas, a história de uma amizade infanto-juvenil que é interligada ao amadurecimento de seus protagonistas, uma tragédia em seu caminho e vários questionamentos de orientação sexual na juventude. Belíssimo, o filme emocionou quem o assistiu com sua melancólica narrativa acerca do início de um entendimento acerca de quem somos. A mesma Bélgica não demorou a produzir uma espécie de resposta a Dhont, e o resultado é Corações Jovens, dirigido por Anthony Schatteman, e que vai bem mais a fundo no que seu conterrâneo só pincelou, em resultados ainda mais surpreendentes. 

Tratar a existência LGBTQIAPN+ com toques de melancolia, até efetivamente buscar um desfecho trágico avassalador, é esperado entre 8 de 10 filmes sobre o assunto. Mesmo obras aclamadas por suas excelências esbarram na derrocada emocional como um balizador para essas existência, vide o próprio Close e também MoonlightMe Chame pelo seu NomeBrokeback Mountain e tantos títulos. Ainda assim, um respiro existencial para um outro tratamento, que percorra alguma tristeza sem precisar ir até os limites da dor, é uma forma também de dizer para o espectador que não apenas de depressão e flagelo vive a comunidade queer e suas relações. 

O que Corações Jovens faz então não é um processo de auto reflexão acerca da culpa (em relação a si mesmo e ao que se sente), mas de encontrar dentro do horror prometido uma fonte de beleza e paz. Óbvio, trata-se de uma história de amor e mais que isso, de descoberta do amor, na adolescência – ou início dela – ou seja, um período onde todas emoções estão multiplicadas por 10. Logo, esse é um roteiro que compreende a carga emocional que tais personagens impingem uns aos outros, mas principalmente a si mesmos. Para esse olhar, o destino trágico que é ainda aventado pelas referências ao Romeu + Julieta, adaptação do clássico de Shakespeare pelas mãos de Baz Luhrman, ele espreita a narrativa, como se nos dissesse a respeito da capacidade dessa história em descambar para o campo do fatal. 

As escolhas de Schatteman, no entanto, evocam o que de mais profundo e belo existe na inocência do primeiro amor, que eventualmente não está mais alocado no tradicional menino e menina. A cada nova investida de seu protagonista Elias em uma tentativa de entendimento particular, a resposta é motivada pelo desconhecido traduzido pela incompreensão. Em cena das mais bonitas, o protagonista assume para seu escolhido, Alexander: “eu nunca vi um menino apaixonado por outro”. A falta de referências do amor entre iguais, e da auto estima que é repetidamente arrancada de grupos ditos minoritários agrava o que a adolescência já maltrata de maneira natural. E Corações Jovens acaba por mostrar ao seu personagem central que tais dúvidas são normais, quando se percebe apaixonado por quem está tão avançado nas mesmas questões. 

Toda a delicadeza empregada em uma narrativa como essa aqui encontra o aval na direção que torna toda a ambientação iluminada, para nunca cair no óbvio de tornar escura uma situação que já não é necessariamente alegre, ao menos em sua abordagem inicial. Corações Jovens já carrega esse estigma inicial da falta de auto aceitação em torno do que se é, seja essa definição para um adolescente hetero ou para uma figura gay. O filme então se vale de cores fortes, como um eterno verão, onde a juventude empregada pelo filme tenha suas desavenças sentimentais, mas mantenham-se unidas acima de tudo, Não se trata de uma visão edulcorada de fantasia para um universo que guarda o oposto na vida real, mas de uma colocação sem o peso da tragédia que geralmente é empregada em realizações assim. Sem perder de vista o horror tradicional, sempre à espreita. 

Na cabeceira de Corações Jovens, o trabalho de Lou Goossens impressiona pela maturidade com que cada camada de sentimento é trabalhada em cena, e em como seus conflitos estão cada vez mais aflorados, sendo o seu próprio corpo e rosto os vetores de novos andamentos do filme. Em um dos muitos clímax que seu personagem enfrenta, enquanto pede para o carro da família parar, suas reações físicas, a forma como ele porta sua estrutura cênica, o coloca como um sério candidato à melhor performance masculina da temporada, mesmo sendo tão novo. É um trabalho de inteligência emocional profundo, que permite nossa conexão de maneira tão rápida; são seus olhos e sua expressão corporal que nos carrega para dentro de um dos filmes mais verdadeiros e humanos de 2025. E, porque não, repleto de atalhos para a felicidade, que precisamos de tempo para enxergar. 

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