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Jay Kelly: George Clooney faz contraponto pessoal em novo filme de Noah Baumbach

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O que seria de Jay Kelly se não fosse George Clooney? Escolhido pelo diretor Noah Baumbach como protagonista de seu novo projeto, o astro vencedor de dois Oscars (como ator por Syriana e como produtor por Argo) não apenas corresponde ao personagem título do filme, porque Jay Kelly não é um homem comum. Trata-se de um astro de primeira grandeza em Hollywood, de carreira consagrada e dono de um carisma excepcional. Ao longo da produção, Clooney vai emprestando mais que o corpo ao papel, mas suas próprias vivências, suas características principais, seu estilo e algumas marcas registradas. Na sequência final da produção, uma grande homenagem é feita, e ela foi concebida para quem: Jay Kelly ou George Clooney?

Parecem vazias essas questões, mas Jay Kelly faz com que tais chaves de leitura sejam possíveis, ao embaralhar as questões do filme com as de seu protagonista. Para o espectador, é fácil confundir os dois mundos criados em tela e questionar a validade das questões, afinal, se Clooney não aceitasse protagonizar o filme, toda a admiração (que parece genuína) que o filme elabora por seu ator estaria dedicada a outra pessoa então. E dessa forma, as homenagens prestadas então não são tão genuínas assim, o que transmite uma atmosfera artificial que retira da produção algum resquício de inocência. Sobra um projeto que estaria pronto para promover essa homenagem a qualquer um que aceitasse a escalação, e a força naturalista que o cinema estadunidense independente representa aqui, iria desfazer-se. 

Na tela, Jay Kelly sofre um baque ao perceber que a juventude de suas duas filhas se esvaiu, ele não acompanhou e essa sensação não é transformada em nenhuma qualidade posterior; no extracampo, Jay Kelly é um risco para todos os envolvidos, mas talvez para Baumbach um pouco mais. Porque o diretor parece cada vez mais longe do que um dia vendeu como essência, em filmes como Frances Ha ou O Solteirão, porque cada vez mais é engolido pela máquina hollywoodiana, que, em tese, o obrigaria a performar dentro da seara do que um cineasta como ele precisa entregar para se mostrar coerente e artisticamente ativo. Qual a diferença entre Baumbach e James Gray? Bom, só um deles parece obcecado com a indústria de premiações, seus desdobramentos e suas demandas. 

Ao observar esse ângulo, seu novo filme parece pouco orgânico, mas exatamente disposto a cumprir um papel fundamental nessa cadeia alimentar do cinema feito nos Estados Unidos. Independente de suas qualidades (e ele as tem), tudo aponta aos fins para qual Jay Kelly foi feito. Dito isso, Baumbach consegue ler muito bem a indústria e as engrenagens do qual faz parte, e esse é o tipo do projeto onde vazam das suas curvas todo o detalhamento de relações às quais esse universo submete seus habitantes. Existe o astro devotado ao trabalho que perdeu parte de sua vida e humanidade com o que é supérfluo, existe o empresário dedicado a ele – e que também precisa manter outras dedicações coletivas, existe a família com graus de mágoa diferenciadas, existe o grupo de apoio imenso que segue tais estrelas. No roteiro escrito a quatro mãos (Baumbach recebe a co-autoria da atriz Emily Mortimer), todos ali exibem sua humanidade, para com isso contornar os laços da produção com a sinceridade coletiva.

No centro da narrativa, Clooney exibe tudo o que o personagem pede, mas o fato de estar ancorado em vivências muito particulares restringe o ator (ou seria nossa percepção?) em entregar além da primeira camada. Em contrapartida, o empresário vivido por Adam Sandler exala alguns clichês narrativos pontuais, mas é regado de tanta energia pelo ator, que se desdobra para ambientar seu corpo em composição sutil, que acaba se tornando a grande motivação para adentrar Jay Kelly. O formidável elenco ainda é composto por Laura Dern, Greta Gerwig, Stacy Keach, Billy Crudup, Patrick Wilson, Jim Broadbent, mas a relação parasitária (de ambas as partes) entre Jay Kelly e seu empresário é o arco de maior fruição da produção, o mais completo e o mais bonito. 

Além dos clichês narrativos, o filme ainda conta com algumas passagens cuja metáfora não é nada suave (os passeios perdido pela floresta, por exemplo), mas todas as questões são amenizadas porque Baumbach sempre irá se salvar ao olhar para o que seus atores podem entregar de melhor, e regar de veracidade seus tipos e intérpretes. Com a arte sensorial do encontro dominando as sequências, Jay Kelly consegue mostrar que a montagem não é das melhores, mas seus atores carregam seus diálogos com o peso – ou a leveza – necessárias para devolver relevância ao filme. No centro da narrativa, uma história de amor maior do que a do pai por suas filhas, mas de um homem pela percepção na direção de quem nunca o abandonou, com todos os seus defeitos. 

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