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‘Curto-circuito’ relembra que rir, com Luiz Fernando Guimarães, dá barato

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Quando quer (e parece raro não querer), Luiz Fernando Guimarães é uma simbiose viva de Dom Quixote com seus moinhos de vento: seu humor é raio, estrela e luar. O delírio quixotesco se combina, surpreendentemente, com pragmatismos do cotidiano a cada fala, gesto ou caco do ator. A prova disso é a capacidade ZERO que a gente, na plateia, tem de parar de rir diante do muito que ele faz ao se apropriar da dramaturgia em segmentos “Curto-Circuito”, aplicando-lhe a sabedoria cênica que lhe é peculiar.

Quando fazia “5xComédia” e interpretava um atleta todo pimpão, ao se lançar em modalidades esportivas com sanha de vencedor, Luiz Fernando Guimarães fazia a gente lembrar do Pateta, da Disney, nos Jogos Olímpicos. Com ambos – o intérprete de “Os Normais” e o amigo maluco beleza do Mickey -, o riso vem da cinemática, do movimento. Até o jeito de LFG respirar provoca graça. 

O diferencial da peça que celebra seus 50 anos de carreira é ver seu tom Buster Keaton de comicidade em sintonia com um dramaturgo que é expoente de inquietude, em textos cheios de dor: Gustavo Pinheiro. Bastou uma peça, “A Tropa” (2016), para ele, em conexão com um titã (Otávio Augusto), conquistar respeito nas artes cênicas. Aliás, chegou chegando, pois escreveu bem demais, e se manteve. 

Quem viu seu “Alair” (2017), de onde tirava capetas da alma de Edwin Luisi (titânico também), notou que seu talento não era um fogacho. Tem pavio ali para detonar muito incêndio. O curioso é ver seu fogo arder num terreno de risada rasgada, como o de Luiz Fernando Guimarães. Deu match!  

Sob uma direção no fino azeite português com raminhos de alecrim de Gustavo Barchilon, “Curto-Circuito” é um sistema dramatúrgico de casos isolados que se costuram sob uma unidade temática: limites de pressurização na paciência nossa de cada dia. O arranque se dá num segmento voltado para a tensão de um astro antes de subir ao palco. 

Sua amígdala cerebral (Letícia Augustin, firme em cena, em suas tiradas críticas) é sua testemunha. Ela vê a tensão dele em falhar. Talvez seja ele quem se despedace em cada um dos outros personagens que está por vir, numa ciranda à moda Pirandello. Talvez não. Talvez ele seja só mais um personagem. 

Fato é, o estudante tenso diante do Enem, é disparadamente, a figura mais hilária entre os tipos que Luiz Fernando esculpe em cena. As situações que vivencia vão do mais corriqueiro, como um exame de ressonância, ao inesperado, como o caso de um avião em zona de turbulência na qual o comissário de bordo faz as vezes de piloto, confiante na experiência que tem ao jet-ski. 

Há ainda espaço para um desfile na Sapucaí, onde uma celebridade homenageada se vê em apuros no alto de um carro alegórico. Nada beira o extraordinário, a não ser a imitação de garça que virou assinatura de LFG, numa mistura de aquecimento com “autoesculhambose”. 

Enfim, a proximidade dos pequenos enredos encenados com o dia a dia, mesmo frente a situações de pressão, ressalta o traço de cronista de Pinheiro, que encontrou em LFG um titã a mais para seu Panteão. Periga ser a peça mais engraçada de 2025. 

Saiba mais sobre a peça!

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