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Nouvelle Vague: Richard Linklater nos convida a uma viagem no tempo

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Nenhum outro diretor teve um ano tão brilhante quanto Richard Linklater. O autor de novos clássicos como ‘Boyhood‘ e a trilogia ‘Antes do Amanhecer’ entregou dois novos títulos onde é difícil compreender qual o mais brilhante. Enquanto ‘Blue Moon‘ não estreia, ‘Nouvelle Vague‘ serve como uma bússola de uma temporada onde o Arte esteve em pauta, na feitura e na matéria-prima do próprio cinema. Tema de obras como ‘Valor Sentimental’, ‘Jay Kelly’, ‘Hamnet’, ‘Kokuho‘ e tantos outros, Linklater nos convida a uma viagem no tempo. O que deveria ser, de acordo com uma sinopse livre, um retrato sobre a realização de uma das principais obras cinematográficas da História, o que presenciamos é um conto sobre amor ao cinema, amizade à toda prova e a convicção de que a pretensão só é maldita quando não há o que ser ser feito dela. Em alguns casos, tal característica é absolutamente necessária dentro de um mecanismo coletivo.

O título é tão auto-explicativo quanto doce na sinceridade de sua pretensão, sim, ela não está apenas no protagonista, mas também em quem o conduz. E quem não é protagonista mais evidente para um filme batizado de ‘Nouvelle Vague’ que Jean-Luc Godard? O mítico gênio por trás de ‘O Demônio das Onze Horas’, ‘Adeus à Linguagem’, ‘Uma Mulher é uma Mulher’ e tantos outros era apenas “mais um” crítico de cinema e jornalista da Cahiers du Cinèma quando o flagramos aqui. Bom, a bem da verdade é que nada é simples ou corriqueiro em ‘Nouvelle Vague’; estão entre os personagens toda a lista da nata do cinema do período: François Truffaut, Claude Chabrol, Robert Bresson, Roberto Rossellini, Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg, Agnès Varda, Jacques Demy e tantos outros pilares do Cinema. Sim, estamos diante do momento onde Godard se percebe atrasado na condição de estreante nia cinemas, e começa a fazer nascer da sua inquietação um marco: ‘Acossado’.

Além disso, ‘Nouvelle Vague’ também é uma deliciosa aproximação de um diário de filmagens em close, e não qualquer filmagem ou qualquer filme. Uma das obras seminais para a construção de uma nova ordem de linguagem cinematográfica nasce junto de ‘Acossado’, e do artista que a concebeu – enquanto persona e enquanto figura idiossincrática. Mas a obra de Linklater não está nem um pouco interessada em cercear suas ideias ao caráter observacional de um registro artístico em particular. O cineasta de ‘Jovens, Loucos e Rebeldes’ revela o curso de um tempo essencial para a compreensão do Cinema cono o conhecemos, ainda que as escolhas de cada indivíduos sejam anti-godardianas. Recorte específico de um período essencial, o filme não se iinibe para invadir apenas uma iconicidade, mas referendar uma série de elementos que nos ajudam a ler um extrato social da cultura francesa nos anos 50 a partir de todos os seus aspectos e valores. O resultado é um mergulho bem mais amplo do que o anunciado, com um registro delicado de jovens cinéfilos em busca de decifrar o significado de liberdade.

O comportamento dos personagens, sua maneira de vestir, agir, comunicar e mesmo existir em seu tempo pode soar arrogante e histérico para alguns espectadores, mas de verdade grande parte daquelas pessoas ou tinha certeza que estavam construindo o futuro, ou ao menos não queriam perder o embalo das vozes ao redor. Da maneira como foi concebida, a nova onda francesas chega para redefinir padrões estéticos e imagéticos, narrativos e conceituais, para uma indústria que parecia simplesmente esperar por eles. Dessa maneira, o que o filme arrisca é filmar a deflagração de um novo capítulo estilístico em seu nascimento, e empregar na fotografia, no figurino, na montagem, na trilha, um sabor muito específico. ‘Nouvelle Vague’ poderia se contentar com um lugar de contemplação da nostalgia, a partir do gesto de um de seus criadores. O que vemos é um coral de sensações e mostragens que está no rosto de cada um, e no relevo do que cada personagem pede. 

O trabalho fotográfico a cargo de David Chambille (de ‘France’) é das coisas mais desveladas de 2025. Porque engloba todas as característicaa da obra inicial de Godard, absorvendo suas o sessões estéticas, mas também tem o discernimento de entender que existe um painel sendo montado, e que sua colocação é criar transposição, sem deixar de montar um palco para o orgulho de um tempo. Está a cargo da luz e das lentes aqui a formação de uma decupagem que se preocupa verdadeiramente com cada entrada em cena, que não procura beatificação de seus tipos, mas não consegue ignorar suas presenças. A imagem, que os registra de maneira frontal, é também a mesma imagem que pontilha de brilho nas insinuações que a narrativa emprega para aquelas relações, sejam da ordem que for. Estamos gradativamente mais próximos de deuses, mas a luz os torna mortais, sem o esmero da cor, sem o conforto da exaltação a esse ou aquele por meio da imagem. A disposição é a mesma, os códigos são os mesmos.

Acima de tudo, exala de ‘Nouvelle Vague’ um espírito de rebeldia juvenil, de necessidade de transformação, de elegia ao frescor de mexer-se sempre para a frente, que são predicados essenciais também ao cinema de Linklater. É para o registro dessa amizade que precisa das mãos conscientemente unidas em torno de um bem maior e comum que o filme gira e propaga. É no mínimo inspirador assistir não apenas à concretização de mitos, mas acima de tudo, do olhar para cada uma de suas mundanices. Do simples e do afetuoso por trás de cada grande nome, do aspecto de coletividade que abre e encerra o filme, deixando claro do que se tratam aquelas pessoas: amigos com uma paixão incontornável em comum, dispostos a vivê-la com unhas, dentes e com tratamento restrito de humildade. 

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