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“Bugigangue no Espaço” é uma animação retrógrada disfarçada de ficção científica

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bugigangueAs coisas que vivemos quando somos crianças nos acompanham pela vida inteira. As vezes como saudosas memórias de um tempo em que éramos felizes e a vida era leve, as vezes como os momentos cruciais que nos transformaram em quem somos, momentos que nos marcaram seja para o bem ou para o mal, e moldaram nosso caráter e nossas escolhas futuras.

Muitos filmes beberam e bebem dessa mística em torno das aventuras vividas pelos personagens enquanto crianças. Filmes como ET, os Goonies, Conta Comigo. Assim como o recente Stranger Things, Bugigangues no espaço, parece reverenciar esse universo, não só com a temática, mas também, como uma série de referências concretas que parecem perpassar pelo filme.

Um grupo de amigos que se vê às voltas com o projeto de ciências, depois de arrumarem uma grande confusão e receber a missão de refazer tudo no fim de semana para uma apresentação, é surpreendido por um grupo de alienígenas verdes e bonitinhos. Os amigáveis Invas caem na terra, após serem expulsos de uma convenção interplanetária por um vilão, Gana Golber, que quer, obviamente, dominar o universo. Os amigos mergulham assim numa aventura pelo espaço para ajudar os Invas e salvar o mundo.

A temática é simples e velha conhecida do público, desajustados e perdedores que heroicamente mergulham numa aventura para salvar o mundo. Há um clamor social, cada vez maior para a desconstrução de certas ideias, e principalmente, no que diz respeito a produtos voltados para o público infantil, e um importante cuidado com as ideias que se reproduz. Então, o filme peca gravemente ao reforçar a ideia do nerd esquisito, do gordinho atrapalhado, da loira burra e superficial. Outro bom exemplo é o sotaque do interior para retratar os alienígenas, como seres bobos e ingênuos. A quantidade incontável de estereótipos ruins e clichês no roteiro de McHaddo, faz com que o roteiro seja a pior coisa do filme

A animação é um gênero que tem um grande alcance , à medida que cada vez vemos nos filmes, abordagens que acabam abraçando tanto adultos quanto crianças isso se solidifica. O longa tenta explorar esse alcance de público, mas acaba de certa forma ficando preso em uma espécie de limbo em que não domina por completo nenhum de seus públicos alvo, dando por vezes a sensação de ser muito infantil para adultos e muito adulto para crianças. Mas o grande problema do roteiro que não consegue de maneira alguma ser satisfatória.

O mercado e a produção brasileira de animação estão em expansão e possui algumas animações muito bem-sucedidas, principalmente se considerarmos algumas limitações técnicas com relação ao mercado. Filmes como “O menino e o mundo”, o Grilo feliz, Minhocas, são exemplos de um mercado que há muito tempo se encontra em expansão. Apesar das limitações, a identidade visual dos personagens é bem bacana, mas eles possuem limitações na animação, perceptíveis na execução de alguns movimentos e expressões, as vezes com a sensação de estar inacabado.

O uso excessivo de estereótipos por si só já seria um problema, mas, infelizmente o filme vai além. Há um momento que ilustra, de forma grave, o quão problemática é a abordagem feita pelo filme. Em um filme de animação infantil, ainda que com devaneios de atingir o público adulto, a sexualização de uma das personagens, é gravíssima! A personagem de Mariana aparece na tela com seu traje espacial, extremamente sensual e é recebida com um sonoro “gostosa” por Gustavinho. São personagens de 10 anos em um filme para crianças.

Honestamente, poderia concluir que Bugigangues no espaço é um filme simples que não alça muitos voos e que tem momentos divertidos em que as referências são o grande acerto, junto com a dublagem de Guliherme Briggs e a canção original, “Martelinho de ouro”.

Porém, considerando a gravidade dos problemas, eu diria sociais, do roteiro, acho que o filme acaba sendo um grande exemplo do que não fazer. Enquanto tentamos ensinar para as crianças novos valores, quebrar estereótipos e mudar o fato de as mulheres serem objetificadas e mal retratadas no cinema, Bugigangues no espaço é um desserviço, se mostrando um filme retrógrado disfarçado de ficção científica.

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