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Novo filme de Scorsese, “Silêncio” busca pela verdadeira essência da fé

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Existem certos diretores que independente do projeto que eles se envolvem, o interesse da crítica e do público é sempre imediato. Assim quando vemos o nome do mestre Martin Scorsese, só podemos ter a certeza de uma única coisa: qualidade. Até porque se tem algo que esse grande diretor nos ensinou em seus cinquenta anos de carreira é que à sempre uma maneira dele se reinventar e surpreender a audiência. Com isso em mente chegamos ao lançamento de Silêncio, sua nova produção estrelada por Andrew Garfield, Adam Driver e Liam Neeson. O filme que para muitos foi considerado um dos grandes esnobados do Oscar 2017, conquistando apenas uma indicação na categoria de melhor fotografia.

Com uma criação em um rigoroso ambiente católico, Scorsese ainda criança encontrava conforto na igreja para fugir das duras ruas de Nova York, chegando a tentar ser padre durante um período de sua vida. E essa obsessão do diretor com a religião já se encontra presente em algumas de suas principais, tendo o espectro do catolicismo presente na moralidade da máfia em Caminhos Perigosos, o aspecto da teologia apresentados em A Última Tentação de Cristo e até mesmo referências a estigmas em Taxi Driver e Cabo do Medo. Mas foi o fascínio do diretor com as histórias dos missionários que o fez seguir quase por uma peregrinação ao longo dos 25 anos de planejamento e produção de Silêncio, transformando essa em uma das obras mais pessoais do diretor.

O filme é baseado no livro ficcional de mesmo nome lançado em 1966 pelo autor japonês Shūsaku Endō. Acompanhamos a história de dois padres jesuítas que viajam para o Japão com a intenção de propagar o catolicismo e localizar o seu mentor que segundo rumores havia praticado apostasia, ou seja, abdicado de sua fé. Isso durante o século 17, período dos Kakure Kirishitan (cristãos escondidos) em que ocorria uma brutal perseguição contra a igreja católica, no Japão. Obrigando os japoneses a praticar o cristianismo em segredo, utilizando principalmente de quartos secretos em suas casas.

O que poderia facilmente se transformar em um filme com os paradigmas do “bem contra o mal”, segue um caminho muito respeitoso, colocando as questões das opiniões e crenças diferentes que vão se debatendo durante as 2 horas e 40 minutos de exibição. Conseguindo explorar as contradições de um modo muito inteligente e sempre dentro da fé católica. Outro ponto interessante é tratar o “silêncio” quase como um personagem, “o peso do seu silêncio é terrível”, o chamado silêncio de Deus que tanto assombra o protagonista.

Uma dura história sobre a busca pela verdadeira essência da fé que se faz representada em grandes atuações, em especial Andrew Garfield que se entrega completamente na jornada do Padre Rodrigues.

Tecnicamente um dos mais belos filmes que você irá assistir nesse ano, desde a bela fotografia de Rodrigo Prieto que consegue transformar as cenas em belas pinturas vivas, até ao formidável design de produção que acertam na mise-en-scène do filme. Outro ponto interessante é a trilha sonora de Kim Allen Kluge e Kathryn Kluge, presente apenas para pontuar o filme, que sabe fazer muito bem do uso do silêncio, abdicando das icônicas trilhas sonoras presentes nas outras produções de Martin Scorsese.

No final, Silêncio pode não conter o apelo popular de Os Infiltrados ou de O Lobo de Wall Street, mas ele mais uma vez comprova o talento do diretor que chega aos 74 anos de vida com o vigor de um garoto. Apresentando com muita paixão uma história que continua com o espectador mesmo após o fim da sessão.

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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