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“Sobre Ratos e Homens” oferece uma trama condensada e comovente

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A história de dois homens que andam pela Califórnia, a procura de trabalho e com o sonho de um dia terem sua terra, foi escrita em 1937 e se mistura com a própria história norte-americana, o momento da Grande Depressão e com as tragédias humanas deste período. George e Lennie são companheiros durante a miséria e apesar das dificuldades, mantém-se confiantes na possibilidade de um futuro feliz. George é o mais esperto e Lennie, que parece padecer de algum mal intelectivo, permanece extremamente dependente em termos afetivos.

Os dois chegam a um fazenda onde já trabalham alguns homens e onde o filho do dono, casado com uma bela mulher, procura afirmar-se por meio de brigas e confusões. Neste ambiente, o autor nos conta um pouco sobre a natureza humana e nos propõe questões morais, que elevariam ou diminuiriam nossa condição em face de outros animais. Não se trata de um peça leve – a mensagem de Steinbeck, muito bem adaptada pelo diretor, é indigesta.

O que pode se sobrepor à amizade? O que é a amizade afinal? Até onde os sonhos aguentam? Somos senhores de nosso destino? Temos todos escolha, poder de decisão sobre nossos atos? Onde se esconde a maldade em nós? O que faz de um homem um homem?

Um texto robusto, completo, e ao qual só atores maduros poderiam dar voz, da maneira em que foi concebido. O trabalho de todos os artistas envolvidos é realmente especial e deve ganhar fôlego com o transcorrer da temporada. Há uma apropriação acurada da época e das questões vividas pelas personagens, e os climas que entremeiam as cenas, cada um deles, são transmitidos ao público com um zelo especial. Não me arriscaria a dizer, mas parece um trabalho bem cuidado.

Cada ator executou sua partitura de maneira hábil e despojada. Não se podia observar vaidades ou apegos a forma, em verdadeiro prestígio do conteúdo, da ideia central. Em especial, a dupla Ricardo Monastero e Ando Camargo merece congratulações e, em geral, todos os intérpretes.

A iluminação condiz com o capricho demonstrado, contudo, não há elementos de trilha sonora ressaltáveis. O espetáculo parece render, conforme a trama se desdobra no tempo, mas, no final, tem o tamanho certo. Quem procura o teatro em sua forma comovente e provocadora deve assistir.

SERVIÇO
SOBRE RATOS E HOMENS
Local: CCBB (Rua Primeiro de Março 66 – Centro) – Teatro 1
Temporada: 23 de março a 30 de abril – de quarta a domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Bilheteria: de quarta a segunda-feira (fecha terça), das 9h às 19h30
Venda antecipada: inicia-se na segunda-feira da semana anterior à do evento, restrita a quatro ingressos por pessoa.
Duração: 100 minutos. Classificação etária: 10 anos.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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