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Cynthia Nixon é Emily Dickinson em “Além das Palavras” de Terence Davis

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“Além das Palavras”, dirigido por Terence Davis propõe-se a ser um tributo à Emily Dickinson. Conta-se, por meio de linguagem sustenida e da função poética, o que houve para além dos poemas que encantaram o mundo.

Parece ser o objetivo da narrativa descortinar o universo da poetisa: uma mulher cujo recato, ou o orgulho, a impediu de casar-se; uma mulher muito ligada a seus pais e irmãos; alguém tão devotada a seu ofício que negligenciou todos os outros aspectos de sua vida, o emocional, em particular. É uma jornada de uma hora e alguns minutos que leva o espectador a contemplar o desvencilhamento da América em relação ao puritanismo e para isso cria um ambiente bastante verossímil.

A princípio, parece que os atores não dão conta da linguagem de época, mas com o passar do filme, eles pegam o jeito e a gente se acostuma com aquele jeito de falar e de agir pseudo-arcaico. A ambientação em meio a Guerra de Secessão americana também é um ponto forte do enredo, que, em verdade, não pretende ser mais do que a própria vida de Dickenson: saraus e cultos na juventude, o casamento do irmão, a morte da tia, do pai, da mãe, a doeça renal. São todos elementos que poderiam muito bem figurar como atributos de pessoas que nos cercam, mas o amor da protagonista por sua literatura é o que a faz intangível. A trancendência por meio da Arte. É uma mesagem nobre. A vida, certamente, requer sacrifícios e pode mostrar-se odiosa com a velhice. Emily passa por tudo isso diante de nossos olhos.

A atriz Cynthia Nixon – sim, a Miranda de “Sex and the City” -, parte para uma personagem bastante oposta da moderna advogada nova-iorquina. Aqui, imbuída os valores quase rurais, mas influenciados pelas ideias iluministas de sua época – ela vive uma Emily Dickinson modesta, resignada com a secundariedade de sua existência. Rebelde na juventude e amarga na velhice, a personagem de Cynthia a transporta para um lugar que não parece lhe ser habitual. O próprio peso do passado remontado transparece na telona. Outros assuntos como o crescente nacionalismo e a identidade americana, a não escravidão e a força do patriarcado são aventados com o trabalho da atriz principal. Todo o elenco segue no mesmo nível, com ótimas atuações de intérpretes pouco conhecidos do público brasileiro.
É um filme, digamos, próprio do mercado anglo-saxão e para este pensado.

O diretor inglês parece ter se especializado em histórias melancólicas e até soturnas – contudo, palatáveis. Bons recursos de câmera são usados e técnicas pouco vistas no cinema em geral são têm espaço. É um trabalho de um diretor que tem uma assinatura. São outros trabalhos dele: “Amor Profundo, “Uma Canção ao Pôr do Sol”, “Ao fim de um longo Dia”, “A Essência da Paixão”.

Filme cabeça, topas?

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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