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“Monólogo Público” com Michel Melamed estreia no Sesc Ginastico

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Ele está em cena. Criou-se o clima. E lá veio a história. E lá veio o show. Gerações passadas vinda da Europa, experiências sexuais, complexos, tudo há e de todo jeito.

Alguns risos viciados antecederam o real entendimento pela plateia da profundidade do espetáculo ali posto, mas logo percebeu-se entre os espectadores o tamanho da sacudida que estava por vir em uma noite especial, para um trabalho igualmente deslumbrante. Michel Melamed chegou ao Rio com seu “Monólogo Público” – de grande beleza -, coroando uma carreira vanguardista e de sucesso.

Por minutos, a inércia introspectiva tinha lugar e, por outros, uma coreografia espasmática e desajeitada dava conta de passar ao público um grande desabafo teatral.

Sob os holofotes, no escuro, no chão ou no céu: surpreendente. Em um périplo autorreferente, filosófico, político e, por vezes, metalinguístico, o artista explora a cena de variadas formas. Há um domínio completo do canal, dos códigos, e do conteúdo, de maneira que emissor e receptores mais do que se comunicam, brincam. O conteúdo chega a ser secundário, em meio a tanta riqueza de ideias, estilos e modos; predomina a pós-linguagem.

Percorre-se vários registros de fala e certamente todas as possibilidades de uso do espaço cênico. Um autor em sua maturidade, excelência, e um texto que tem a medida do porte artístico de Michel, que o permitiu experimentar e inovar, depois de já ter demonstrado fundamentos clássicos. É menos um drama bem estruturado que um recorte de falas e sequências narrativas proferidos no tempo e na embocadura do ator-pessoa.

Em momento nenhum o ator-autor subestima o intelecto do espectador, pelo contrário, o instiga. São pequenos desafios que equilibram-se na corda bamba da falta de sentido. Piadas frouxas, corriqueiras, dão um semblante trivial e despretensioso a uma obra que em verdade é rara e muitíssimo lapidada. Não temos tantos textos desse tipo sendo encenados cotidianamente – talvez não devesse mesmo e, talvez, seja isso que confira viço a este texto -, mas seria agradável se este formato fosse replicado, se influenciasse outros textos, de outros artistas. É teatro profissional e experimentado feito com a jovialidade de um estreante, feito com amor.

Em termos de narrativa, parte-se do particular, do indivíduo, para depois entrar no geral, no político. Há referências aos mais diversos espectros da vida interna de uma pessoa e também da coletiva. O objeto do monólogo são pensamentos, elucubrações, devaneios, nada que seja extraordinário pela grandeza, mas mais pela significância que tem para o sujeito e pela ressonância nos presentes.

Há espetáculos que acabam por reduzir o trabalho de crítica e críticas que reduzem o trabalho realizado no espetáculo. Neste caso, qualquer palavra da crítica é insuficiente e meramente classificatória. Vale a pena simplesmente assistir e nada mais, sem preocupar-se com adjetivos posteriores.

Serviço:
MONÓLOGO PÚBLICO 
Temporada: De 2 a 25 de junho
Sextas e sábados, às 19h. Domingos, às 18h.
Ingressos a R$ 25
Local: Sesc Ginastico (Av. Graça Aranha, 187)

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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