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Débora Lamm em uma tragédia dotada de elementos conceituais

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Está em cartaz no Galpão Gamboa a peça “Mata teu pai”, de Grace Passô, com direção de Inez Viana. Trata-se de um monólogo, livremente inspirado no mito grego de Medeia, traduzido na tragédia clássica de Eurípedes, e agora vivido por Débora Lamm. A peça, em seus moldes contemporâneos, foi escrita especialmente para a atriz, em um projeto da Cia OmondÉ.

A mais que talentosa e incansável Débora Lamm vem com tudo em um papel que a tira da zona de estabilidade, fazendo transparecer que ela domina além do gênero humorístico, também a tragédia e também o temas épicos, ou clássicos. A tragédia, dotada de elementos conceituais e transplantada para o tempo presente, fez muito bem à atriz e teve o êxito de provocar reflexão e inquietação no público – que, de toda sorte, é parte integrante do espetáculo.

É respeitada a forma clássica em alguns aspectos, como na presença do coro – composto por senhoras moradoras da região da Gamboa -, mas inova ao apresentar certos elementos de transgressão e narrativa segmentada por registros diferentes. O uso da primeira pessoa e o direcionamento direto à plateia são recursos típicos de monólogos pós-modernos, mas que caem bem à tecitura carregada da dramaturgia escolhida. A peça propõe-se, em vários momentos, a causar impacto no espectador.

Uma história que traz a totêmica figura feminina, materna, que busca a vingança pela traição conjugal e que volta-se contra sua própria prole, é explorada com brilhantismo por uma Débora plena e imponente. As compleições psicológicas percorridas pela personagem, assim como os registros de voz escolhidos na composição são surpreendentes. A título exemplificativo, o início da peça é marcado pela sustentação prolongada de um estado de afetação e histeria incomuns, e este dá lugar a exacerbações de amargura e vilania no decorrer do texto.

A iluminação compõe estruturalmente o espetáculo. É uma grande oportunidade para assistir de perto o trabalho de uma artista tão especial e tão versátil. Apesar de ser permeada pelo taciturno e pelo desconforto, a peça é necessária e enriquecedora, em especial para os amantes de carteirinha do Teatro. Se você é um, tente não perder.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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