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Rapper e produtor musical, Pregador Luo, fala sobre o novo álbum

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Com uma longa e consolidada carreira, Pregador Luo é um dos nomes mais respeitados no meio da cultura Black e Hip-Hop no Brasil, além de ser uma das principais vozes da música cristã brasileira, sendo o inventor do rap-gospel nacional. Rapper, compositor e produtor musical, Luo já lançou ao todo dezesseis discos e dois DVDs, vendendo mais de 1 milhão de cópias.

O rapper paulistano também é conhecido por ser um dos fundadores do icônico grupo Apocalipse 16 e proprietário da gravadora independente 7 Taças. Além de suas canções, Pregador Luo coleciona um grande histórico de parcerias e colaborações na música, trabalhando com artistas como: Charlie Brow Jr, Fernanda Brum, Racionais MCs, Emicida, entre outros. O cantor também tem uma forte ligação com o MMA, sendo responsável pelo tema de entrada de diversos lutadores de grande nome no UFC como Vitor Belfort, Cosmo Alexandre, Pedro Rizzo, e Anderson Silva.

Atualmente o rapper está lançando o disco “Retransmissão”, seus 16º disco e segundo na parceria com a gravadora Universal Music. São 18 faixas todas de sua autoria, em versões remix. O novo álbum conta com a participação especial do cantor Luciano Clau e da banda KLB.

Com 29 anos de carreira, você conseguiu se consolidar como um dos nomes mais respeitados dentro da cultura Black e hip-hop no Brasil. Mas como foi o começo, como o rap entrou na sua vida?
Pregador Luo – Cara eu comecei a ouvir Rap na verdade por causa do meu pai. Ele era um Dj amador e a gente morava em um cortiço na periferia e lá eles juntavam todo mundo e arrumavam as mesas pra fazer um churrasco e um bingo comunitário. Todo mundo levava um monte de vinil e meu pai que só tinha uma pick up e um toca disco, ia colocando o vinil pra tocar e colocando as fitas, só fazendo fade out e fade in, era assim que eles faziam naquela época. Então teve uma noite que já era tarde, tipo meia noite e eu já estava dormindo e ele colocou pra tocar uma música do Afrika Bambaataa e aquilo começou a bater de um jeito que começou a tremer as paredes e tremer tudo. Eu já ouvia Black music na época, mas quando ele tocou aquilo, foi diferente, me despertou atenção e eu desci pra escutar. Dali em diante eu comecei a procurar mais músicas assim, até que em 88 surgiu o “Cultura Hip-Hop” que foi o primeiro disco de rap brasileiro lançado no país, onde tinha o DJ Mc Jack que foi um dos caras que eu mais me interessei na época, seguido do Thaíde & DJ Hum. Ali começou a minha trajetória cara, eu comecei a cantar e gravar-nos toca fitas as músicas deles, até começar a escrever as minhas músicas. O rap começou assim pra mim.

Então da pra ver que foi tudo muito orgânico né? A música sempre fez parte da sua vida.
Sim cara, graças a deus. Eu tinha um tio que era do Mato Grosso do Sul que tinha uma dupla sertaneja, era a única pessoa da minha família que eu lembre que tinha envolvimento com a música. E olha que eu tenho tio pra caramba, só por parte de mãe eram 18. Mas depois que eu me envolvi com a música, alguns primos começaram a tocar ou cantar rap, hoje em dia tem uns 4 ou 5 na família que são envolvidos na música.

Sabemos que o rap é um estilo musical com voz muito ativa e que luta para derrubar estigmas na sociedade, mesmo assim acaba sofrendo muito preconceito no Brasil, sendo visto de forma marginalizada. Você já sofreu algum preconceito musical no meio evangélico?
Pregador Luo – Cara sofri pra caramba e sofro até hoje e isso vindo dos meus sabe. Por exemplo, agora eu tô com os dreads no cabelo e eu fico postando as fotos nas minhas redes sociais e lógico que eu não tenho como cortar a minha cabeça quando eu filmo ou tiro foto, né. E as pessoas chegam e falam que é ridícula a minha atitude, usando esse cabelo de maloqueiro. E você pensa, pô o que essa cara ta falando, quem disse que ele pode me falar essas coisas. E isso vem de pessoas evangélicas, porque sempre terminam a frase ou usam em algum momento as palavras “mas isso não é coisa de Deus”, “você precisar se converter”, “isso não é coisa de cristão” ou “vai dar um bom testemunho a partir de sua aparência”. A vontade é de mandar essas pessoas pro quinto dos infernos, mas eu não faço isso porque se não eu vou estar compartilhando do mesmo sentimento ruim deles sabe, eu tenho buscado um equilíbrio, já não é de hoje, para ter misericórdia e compaixão por essas pessoas. Não deixar ter nenhum pensamento negativo ir na minha cabeça. Porque essas pessoas são ignorantes em relação a amor ou a quem é Jesus, o que ele pregava, porque eles deveriam estar em sintonia não comigo sabe, mas com o universo que Deus criou. Mas elas se acham no direito de chegar numa rede social e falar algo assim, mas até ae tudo bem, porque na internet a gente pode excluir um comentário, mas o certo é que eles deveriam estar semeando o amor e não a palavra de ódio. Fora que ainda entra a questão da cor, as questões sócio-econômicas e até mesmo a questão geológica sabe, o pensamento de quem vem de certo bairro não presta. Então cara a gente tem que fortalecer muito e eu acredito que Deus já moldou o meu espírito de uma maneira muito forte pra suportar tudo isso e seguir o meu caminho tentando ser luz aqui no mundo. Porque cada vez que você escuta algo assim é como se você sentisse que sua energia positiva, seus raios de amor e luz fossem anulados, mas eu graças a Deus me recarrego com o senhor e essas coisas que já me entristeceram não me tiram o foco, só me dão mais força.

Você é um músico respeitado tanto no meio gospel, como nos demais, conseguindo atingir os dois públicos. Acha que existe alguma diferença na hora de conversas com esses públicos?
Pregador Luo – Olha, eu não consigo separar as duas coisas, eu pessoalmente falado penso quem não tem isso de música boa e música ruim, acredito que tem música que me faz bem e música que me faz mal. A intenção que a gente coloca na música sabe, a palavra colocada na música tem uma força que afeta as pessoas. Por exemplo foi feito uma experiência com um físico japonês, que colocou música pra tocar na água meio congelada. E músicas que tinha uma mensagem positiva ou discursos positivos como de Martin Luther King, deixavam a água com uma imagem linda, transformavam a água. Agora quando ele colocou músicas com discurso de ódio ou o discurso de Hitler, a água ficava horrível. Então eu não consigo distinguir isso de criar música pensando se trás público ou não, ou qual público vai agradar mais. Agora só acho que a gente tem que ter cautela, porque o ser humano não se nota como coletividade, ele constrói seus guetos e grupos e se fecha ali, ficando difícil se comunir com pessoas que já tem conceitos pré-estabelecidos de como a vida é. Mas eu nem fico mais pensando tanto nisso sabe, em criar um discurso que essas pessoas aceitam, porque Jesus que é o meu líder maior, minha inspiração maior, ele não pensou nisso. Ele falou às coisas que estavam no coração dele, que ele acreditava e que precisavam ser ditas.

Suas letras são sempre muito elogiadas, retratando em forma de poesia as lutas e dificuldades, sendo até um reflexo de vivencia de sua vida e de pessoas ao seu redor. Como é o seu processo de composição?
Pregador Luo – É uma coisa muito louca, porque é algo que flui muito fácil. Já houve momentos em que eu fiquei travado, porque eu escrevi o meu primeiro rap em 87 e depois eu participei de três grupos conhecidos da cultura de hip-hop aqui de São Paulo. Então quando eu me converti em 93, eu fiquei um tempo estudando a bíblia, frequentando cultos e convivendo com o pessoal da igreja eu parei pra pensar bem no que eu deveria falar nas minhas músicas. E naquela época eu tinha era um pouco fundamentalista, tanto que eu peguei a bíblia e tratei ela num sentido muito literal. Mas não foi por causa do meio não, era pela minha ignorância mesmo, e quando eu sai do estúdio em 97 depois de gravar o meu primeiro disco eu pensei e agora o que eu vou falar daqui pra frente, será que eu vou conseguir compor coisas novas? E graças a Deus, eu consegui depois disso eu já lancei 16 álbuns com uma média de 15 músicas em cada, e nesse meio tempo de 96 pra cá eu trabalhei com mais de 400 que artistas que queriam colaboração pros discos deles. Só que quando foi o final de 2014 me deu um apagão sabe, porque eu fiquei com muito em dúvida do que falar em minhas músicas, eu já tinha escrito mais de 200 músicas nos meus discos e nesse tempo surgiu a proposta pra assinar com a Universal Music. Acaba que tem aquela questão né , poxa o que eu vou falar agora. Por que não que antes não fosse sério, mas agora tem uma multinacional por trás te apoiando sabe e o que será que ela acharia do que eu tenho pra dizer. Porque é aquilo, quando você faz uma música que não tenha tanta expressão, você acaba não alcançando tantas pessoas e a gravadora pode achar que isso não é legal, ou a você pode faze ruma parada muito maneira que a gravadora percebe que é bom e eles vão continuar investindo em você. Fora a questão do público, ta ligado, que pode achar que você mudou agora que faz parte de uma grande gravadora. Só que isso aconteceu pra mim em um momento que na minha concepção eu já estava consolidado artisticamente e economicamente, então o que pesava pra mim era o que dizer que fosse relevante. Eu estava saindo de um disco que era chamado “Único Incomparável”, que eu não pensei em público nenhum. Eu queria me comunicar com pais, filhos e família. Foi muito legal porque foi um disco mais soft e eu mesmo me senti mais brando, mais leve, era quase um rap Nutella sabe. Ae eu tinha que fazer esse disco pra Universal e pensei em fazer quase igual eu fiz o outro, começar com algo mais pesado e depois vir com um mais leve. Porque eu não sigo uma tendência, eu sigo o que está no meu coração, minha alma e ta lá. Depois disso passou sabe, eu hoje estou compondo dois álbuns novos ao mesmo tempo, um deles mais pesado, pra levar uma mensagem de conscientização ta ligado, passar aquela sensação de guerra, das batalhas do dia a dia.

O disco “Retransmissão” é o seu 16º projeto, que conta com versões remix de algumas de suas canções de sucesso. Como foi revisitar essas canções?
Pregador Luo – Cara essas músicas ficam ecoando na minha cabeça o tempo todo. Pois elas são os meus ideais né, são as coisas que eu acredito, Então volta e meio uma vem na ponta da minha língua. Tipo a música que abre o disco (Arrependa-se), ela tem 22 anos já. Pra muita gente a música é uma pura pregação, mas ela é mais que isso, essa é uma música raiz mesmo, bem roots, puramente Pregador Luo do princípio. Ae eu fui selecionando as músicas nessa maneira sabe, mas pensando sempre em tratar elas como músicas novas pra quem não conhece. Tantando manter o máximo o flow original, da levada de cantar a música. No caso da Arrependa-se, acabou sendo a mais diferente de todas, porque eu mudei o jeito de cantar até pra ficar mais atual e funcionar até melhor nos shows. E a ideia do nome Retransmissão, o nome missão ta em destaque, porque eu não posso mudar o objetivo da minha missão que sempre foi pregar o evangélico, não levando as pessoas pra minha igreja, mas passar a luz de Cristo para as outras pessoas. É era isso que eu queria fazer retransmitir isso pras pessoas que me acompanham, porque eu tenho muito público que cresceu comigo, eles vão com família nos shows e a minha mensagem e traduzir tudo que eu vejo como vontade de Deus para eles, essa é a minha retransmissão.

Além da assinatura com a Universal Music, recentemente a sua carreira passou por outra situação que te colocou mais em destaque, que foi com o boom do MMA, como começou essa relação com o esporte e qual foi o primeiro lutador a receber uma música sua?
Pregador Luo – Cara a minha relação com o esporte é muito próxima, por exemplo nesse momento eu to usando uma camisa do Bruce Lee, e quando eu era pequeno eu queria ser japonês por causa dele, sendo que eu nem sabia que na verdade ele era chinês. Então eu implorava pra minha mãe pra fazer aula de Kung Fu, mas ela não deixava por achar muito violento, ela acabou achado uma academia de Judô e me matriculou lá. Ali começou forte a minha paixão, mas quando o rap ficou mais forte eu acabei parando um pouco, mas nunca deixei de gostar. Com o começo do MMA televisivo nos anos 90, com o UFC, eu assistia na TV e alugava as fitas nas locadoras, mas quando foi em 2001 eu comecei a treinar Jiu-Jitsu e de 2004 a 2006 eu treinava com o Vitor Belfort que estava morando em São Paulo na época e ele me pediu pra escrever uma música pra ele. Mas antes disso eu tinha gravado uma canção chamada “Apaga Mas Não Bate”, que fala de Jiu-Jitsu, mas fala de outros lutadores como Maguila e Popó. A canção apresenta uma simbologia ligada ao esporte com a mensagem de não desistir. Mas é complicado conseguir manter sempre, por causa da minha rotina que é pesada, tem vezes que eu passo o dia todo pegando estrada e voando pra fazer os shows e isso ligado a algumas lesões eu acabei ficando afastado um tempo. Mas agora eu já estou mais recuperado e voltando a treinar. Mas é aquilo eu to com quase com 4.2, tem hora que o fator X-Mem não funciona tão bem, e eu não vou cantar o resto da vida, vai chegar a hora que eu vou pendurar o meu MIC, sabe meio que eu já fiz o que tinha que fazer, sabe e eu também não vou conseguir treinar mais como eu treinava antigamente, que eu queria ter uma carreira paralela, isso hoje não ta mais nos meus planos. E isso de parar de cantar profissionalmente é algo que eu já venho desenhando a um tempo sabe e já está bem definido na minha cabeça, talvez mais uns 3 anos e é isso.

E qual seria o seu planejamento pra quando pendurar o microfone? Pretende ainda ter algum envolvimento na indústria da música?
Pregador Luo – Cara, eu vou começar a fazer faculdade de sociologia agora em 2018. Eu também tenho visitado muitos lugares, as vezes sem a necessidade de estar envolvido com a igreja, fazendo ações sociais digamos que de forma avulsa. E isso é algo que tem estado bem forte no meu coração sabe, por exemplo eu to indo pros Estados Unidos esse mês pra fazer um trabalho com dois lutadores de MMA, quando eu voltar eu to indo pra África, pra fazer duas apresentações, visitar umas tribos, quero passar um tempo ali com as pessoas entende. E isso é uma coisa que tem nascido muito no meu coração, e eu não quero ir pra lá pra catequisar ninguém sabe, eu quero ter um momento feliz, um momento como se de alguma maneira a minha presença possa abençoar eles, assim como eu vou me sentir abençoado com os gestos, os abraços, o estilo de vida que eles tem, que com certeza engrandece todo mundo que vai lá. Porque às vezes eles só têm água e farinha em casa e ainda de coração aberto dividem com o próximo. Sem dúvida é uma experiência que te muda você não volta o mesmo, aquela utopia de mundo que você tem cai por terra, porque não da pra ser feliz sozinho ta ligado, enquanto você sabe que do outro lado do mundo os seus irmãos estão passando essa realidade.

 

 

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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