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“Joga Bunda”: Aretuza Lovi, Gloria Groove e Pabllo Vittar lançam aposta para o Carnaval

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“Tô chegando/Se prepara pra jogar/Vittar, Gloria Groove, A-re-tuza”, assim começa a música “Joga Bunda”, aguardada parceria entre as drag queens Aretuza Lovi, Gloria Groove e Pabllo Vittar e que promete ser um dos hits do carnaval 2018. E para lançar o clipe oficial desta colaboração, as três cantoras se reuniram com fãs e a imprensa para uma apresentação exclusiva do vídeo nesta sexta, 19, no Solar de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

O vozerio de empolgação preenchia a sala antes da chegada das artistas, que, assim que subiram ao palco, aproveitaram para cantar parabéns para a drag paulista, que completou 23 anos na última quinta, 18. Após a exibição do clipe, Pabllo revelou que ainda não havia assistido à produção e, por isso, estava tão empolgada quanto os fãs. “É muito importante a comunidade LGBT dar as mãos e se unir”, declarou a drag.

Além disso, um dos pontos levantados durante uma das falas se Aretuza foi a amizade de longa data das três cantoras, que já participaram juntas do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo. “Justamente por causa da nossa amizade, as pessoas nos cobravam muito quando nós iríamos gravar uma música juntas e, chegou essa música pra gente, que foi um verdadeiro presente”, contou.

Aretuza aproveitou para agradecer à Felipe Sassi, diretor do clipe – também responsável por “Pesadão”, da IZA, e “Cheguei”, de Ludmilla – e ressaltar a importância deste projeto, assim como a necessidade de divulgá-lo. “Nós precisamos mostrar que não fazemos músicas só para um meio segregado”. E Gloria completou: “Quero ver todo mundo jogando muito a bunda no carnaval!”. Logo em seguida, as cantoras realizaram uma live nas redes sociais para lançar oficialmente o clipe, liberado no YouTube às 12h.

E antes mesmo de a transmissão ser iniciada, o sucesso da música já podia ser atestado: ao meio-dia, “Joga Bunda” já estava em primeiro lugar no Top 50 Virais do Brasil no Spotify. Já, após o encerramento da live, às 13h, Aretuza, Gloria e Pabllo se juntaram à imprensa presente para uma coletiva, onde as cantoras explicaram como surgiu o conceito do clipe. “A gente queria fugir do convencional, contar uma história lúdica. Eu já tinha feito dois clipes, “Catuaba” e “Vagabundo”, e que queria trabalhar isso”, explica Aretuza. “Não é porque a música se chama ‘Joga Bunda’ que a gente tinha que seguir esse caminho das outras duas”.

E foi na busca de como abraçar este lado lúdico que Aretuza, em conjunto com o diretor Felipe Sassi, chegou à ideia de usar o cinema como pano de fundo. “Foi uma mistura de muitas ideias: Carnaval, sereia, anos 80, filme de sereia… E a gente foi seguindo por esse caminho”, conta Sassi. “A gente sempre tentou bater nessa tecla do exagerado, do irreverente, que é o meu perfil. E, aí, surgiu essa ideia de três garotas que estão acomodadas, infelizes com aquele trabalho que elas estão fazendo e querem se transformar em grandes estrelas do cinema, e como eu sou apaixonada por sereias, é um filme sobre isso”, complemente Aretuza.

No entanto, apesar do resultado, não foi fácil conciliar as agendas das três cantoras para a realização do clipe, filmado em 19 de dezembro de 2017, exatamente um mês antes do lançamento. “Parece que foi há três dias! Foi muito exaustivo, principalmente para achar uma vaga na agenda de todas”, Gloria brinca. “Quando a Aretuza me ligou, eu falei que queria estar no clipe, que eu dava um jeito, desmarcava alguma coisa ou então a gente gravava na minha folga”, lembra Pabllo. “Conseguir uma data nas agendas dessas três pessoas neste momento está muito difícil, graças a Deus!”, comemora Gloria.

REPRESENTATIVIDADE, POLÍTICA E PRECONCEITO
A respeito da representatividade, Gloria afirma que é muito emblemático que o trabalho de três drag queens possam atingir um público tão amplo e diversificado. “É muito simbólico que a gente possa existir, que a gente possa ter a repercussão e o êxito que a gente têm e poder contar com a força do nosso público mesmo vivendo no país que mais mata LGBT’s no mundo! E isso é uma coisa para se pensar: como assim a gente está aqui acontecendo e, paralelo a isso, nós vivemos nesse lugar?”, Gloria indaga.

Outro ponto levantado no quesito representatividade foi acerca de letras politizadas na música pop. Gloria, cujos trabalhos anteriores se destacam pelo teor político, afirma que é preciso buscar o que as pessoas precisam ouvir, em todos os sentidos. “O que falta chegar ao ouvido do brasileiro, o que essas pessoas anseiam para escutar, para sentir? Eu estou fazendo o caminho oposto. Agora que estou indo para um caminho mais pop e eu conto muito com as meninas [Aretuza e Pabllo] para isso, porque elas são as minhas inspirações pop do dia-a-dia. E, se três gays juntos não sabem fazer pop, quem sabe?”.

E Pabllo afirma que a própria figura de uma drag em um palco cantando para milhares de pessoas em um país com o maior índice de morte de LGBT’s já é um posicionamento político. “Essa é a minha posição política. Eu amo a música que eu faço, eu acho que esta é a Pabllo Vittar que vocês conhecem a aprenderam a gostar”, declara a cantora, ao que Aretuza complementa: “O Brasil dá dez passos para frente e vinte para trás com uma bancada que não nos representa. Nós não temos direitos, a gente luta por direitos. O simples fato de sermos meninos vestidos de meninas cantando e batendo de frente com pessoas de opiniões diferentes, brigando por uma causa já é um posicionamento político”.

Além disso, Gloria afirma: o fato de ser famosa não faz com que ela sofre menos preconceito, muito pelo contrário. “Moro em um país em que eu posso virar totem de ódio em um segundo e sofrer um ataque enquanto estou fazendo o meu trabalho”. Com isso, Pabllo lembra do episódio em que sofreu uma ameaça de prisão ao levar sua turnê para uma cidade do interior. “A gente ri disso agora, mas eu fico perplexa”. E, sobre isso, Aretuza destaca: “Ninguém precisa te aceitar, ninguém precisa te engolir, mas precisa respeitar, não só como artista, mas como ser humano”.

Já Aretuza salienta que um artista tem que buscar e apresentar a própria verdade dele. “A gente faz música com a nossa verdade. Nesse meu primeiro álbum, eu tive o cuidado de passar a minha verdade. Eu posso cantar de maneira irreverente assuntos políticos. Nós somos artistas nós temos que nos experimentar e poder cantar o que a gente quer”. E outra questão levantada foi a respeito dos ataques dos haters, sobre a qual Aretuza afirma que é inevitável. “O desrespeito sempre vai existir, o preconceito não vai acabar porque o nosso país é munido de muita falta de educação”.

A cantora ainda afirma que, atualmente, tenta não absorver os comentários para sua vida. “Existe a crítica construtiva e existe o ataque gratuito. As pessoas não conhecem o seu trabalho, não sabem pelo que você passou, então, é muito fácil apontar o dedo. Difícil é você estar ali todos os dias com a sua bandeira armada. O simples fato de você ser homossexual no Brasil e sair na rua, você já sofre preconceito, às vezes com um olhar você é atacado. Nós somos artistas, a vida já é muito chata com nomenclaturas e gêneros, nós somos seres humanos que estão aqui como artistas, então eu tento não absorver mais tanta energia ruim, criando uma parede entre o que pode me fazer mal e aceitar aquilo que possa me acrescentar”.

Já Pabllo afirma que, como artista, recebe as críticas – tanto as positivas quanto as negativas – de uma forma muito tranquila por ter consciência de sua posição. “A gente é artista, então a gente dá a cara a tapa todos os dias. Da hora de acordar à hora de dormir, a gente está sujeito a isso. Mas eu me banho nos pensamentos positivos dos meus fãs, nos comentários que eu sei que vão agregar à minha carreira. Eu sou uma pessoa muito feliz porque eu tenho o carinho dos meus fãs, das pessoas que trabalham comigo, então, porque eu vou ligar para comentários ruins?”.

Além de falar sobre o clipe, as cantoras também afirmaram que é preciso lembrar que o movimento drag existe há muito tempo. “Nós não podemos esquecer que vieram outras antes da gente e isso abriu muitas portas. É uma forma de arte, o ano de 2017 é um ano revolucionário e a Pabllo fez parte disso, ela chutou muitas portas”, declarou Aretuza. E os planos das três artistas é dar prosseguimento a este legado. “Daqui a dez anos, eu desejo experimentar, cantar outras coisas que eu tenho vontade de cantar, porque, quando você é drag você ‘só pode apresentar em boate e só pode cantar bagaceira’, então, eu tenho vontade de cantar coisas que também são a minha verdade. Por exemplo, eu sou fã de Clara Nunes, então, por que não?”

E, para complementar a fala de Aretuza, Gloria manda um recado: “Eu sinto muito por quem pensa que momento das drags na música vai ser efêmero, que nós vamos sumir com o vento. Eu quero dizer para essas pessoas que a gente está só começando a mostrar a nossa pluralidade, as nossas possibilidades e a nossa vontade de fazer isso acontecer”. E o diretor Felipe Sassi destaca que o movimento drag brasileiro é um dos mais fortes – senão o mais forte – do mundo. “Por exemplo, a RuPaul [famosa drag queen americana] nunca teve uma música em primeiro lugar. Então, ao mesmo tempo em que estamos vivendo um retrocesso, é uma coisa linda para a comunidade LGBT ver uma artista drag queen alcançando este posto”.

Ao abordar esta questão, Aretuza lembrou que o público brasileiro tem por hábito vangloriar tudo que for americanizado, ignorando a diversidade nacional. “O Brasil é um dos países mais ricos cultural e musicalmente. Todo mundo vem para o Brasil, todo mundo quer conhecer o samba. A gente está vivendo um momento de nacionalismo e isso é muito importante, valorizar os produtos e os artistas daqui, que são muito bons. Eu posso falar, sem sombra de dúvidas que a produção de ‘Joga Bunda’ não deixa nada a desejar para qualquer outra produção brasileira ou internacional e isso é se consolidar”. E Sassi completa: “É mostrar que o Brasil pode ser referência lá para fora e a gente já está fazendo isso, mostrando que a gente é capaz de fazer um trabalho igual e até melhor do que o que a gente consome”.

Além disso, o grupo também falou sobre a sensação de fazer parte de uma leva de artistas LGBT’s que estão ajudando a levar as produções desta comunidade para o mainstream. “Eu fico muito feliz mesmo, porque eu jamais imaginaria isso na vida. Quando lancei o meu EP, eu queria só lançar a minha música e, hoje, eu sinto muito orgulho de todos quando vejo que o drag saiu do ungerground, da noite, e hoje todo mundo dança todo mundo curte”, declara Pabllo. Aretuza também lembra que, por muito, a arte drag era banalizada até mesmo na mídia. “Nas novelas, nos programas de TV, sempre colocavam uma figura muito caricata. Não que isso seja um problema, mas dentro do nosso meio, tem a drag que canta, a que dança, a que atua”. Na opinião de Gloria, personalidades como RuPaul e Pabllo Vittar trouxeram mais consciência para as pessoas. “A gente começou a enxergar a drag queen como uma estrela em potencial. A gente não via essa possibilidade antes. Então, de pensar no que a gente fez de 2014 para cá… Dá muito orgulho”.

IMPACTO
E, conhecendo um pouco mais sobre a resposta que as artistas recebem, é perceptível uma mudança de pensamento na sociedade. “Eu recebo muitas mensagens de crianças de 10, 11 anos. É muito legal. Por isso o nosso cuidado, porque nós já temos uma sexualização e uma marginalização gratuita muito grande em cima do nosso trabalho, pelo fato de a gente se montar. Além disso, muitas pessoas ainda não sabem distinguir as coisas, falam ‘Adoro aquela trava da Pabllo’… E se eu fosse ‘trava’, qual o problema?”. E Gloria afirma que tem uma “inveja branca” das crianças de hoje em dia. “Elas têm a gente na TV. Nós não tivemos um ídolo drag para olhar, para se inspirar. Mas, se a gente não tive isso para poder ser isso para alguém… Perfeito”.

Ainda em relação ao público e a representatividade, Aretuza afirma: “Nós não estamos aqui para incentivar… Se tiver que ser, vai ser. Por isso que no clipe nós tivemos muito cuidado com isso. A música fala de bunda, então, automaticamente, pensa-se que só vai ter bunda, mas não. Tem uma historinha muito lúdica, que criança pode assistir, qualquer um pode assistir. Jogar a bunda é uma atitude, você pode jogar na cara do preconceito, essa música fala sobre empoderamento, você não precisa de ninguém que não te agregue para ser feliz”. E a cantora ainda revela que tem muita vontade de fazer um projeto para crianças. “É a sucessora natural de Larissa Manoela”, brinca Gloria.

Aliás, as crianças são um público que chamam a atenção de Aretuza, que tem uma filho de três anos. A cantora conta que, uma vez recebeu uma DM [Direct Message] no Instagram de uma garota cuja irmã tinha câncer em estado terminal e toda vez que ela se sentia mal, ouvia as músicas da Aretuza e se sentia mais feliz, segundo o relato da mensagem. “Foi nesse momento em que eu me perguntei: ‘qual é o tamanho do meu trabalho e até onde ele chega?’. A partir disso, eu comecei a me comunicar com essa menina. Tem um vídeo dela ouvindo a minha música e dançando na cama do modo que ela conseguia. Quando eu vi isso o meu coração disparou. Um dia, a irmã dela me ligou e falou que ela ‘virou uma estrelinha, mas ela te amou muito e você fez ela muito feliz’. Então, você não sabe o poder da sua vida, do seu trabalho”, declara a cantora.

Fotos: reprodução internet

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