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Todd Haynes brinca com diferenças temporais das gerações, em Sem Fôlego

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Duas crianças surdas, com cinquenta anos de diferença. Como essas duas vidas podem se conectar além do tempo? Em Sem Fôlego, a história de Ben e Rose se cruzam por meio de um livro de curiosidades que dá o título original ao longa: Wonderstruck, que apresenta a história de museus, especialmente o Museu de História Nacional, localizado em Nova York. O drama baseado no best-seller de Brian Selznick, foi adaptado em um belo longa assinado na direção por Todd Haynes (conhecido pela produção premiada com 5 globos de outro em 2016 de Carol).

Ao atender um telefonema, em Gunlint, Minnesota, 1977, o garoto Benjamin (Oakes Fegley) é atingido pelo reflexo de um raio, que caiu bem em sua casa. Esta situação faz com que ele perca a audição, logo quando descobre uma pista de onde seu pai pode estar: uma livraria em Nova York. Em 1927, a jovem surda Rose (Millicent Simonds) foge de sua casa em Nova York para encontrar sua mãe, a consagrada atriz Lillian Mayhew (Julianne Moore). A vida destes dois garotos que não conseguem mais ouvir está interligada a partir de um livro que os leva ao Museu de História Natural.

Há uma habilidade inexorável no diretor de brincar com as diferenças temporais das gerações. Apesar de haver indicativos narrativos das épocas em que os protagonistas se inserem (observadas pela moda e pelas notícias que, no caso de Rose, é a chegada de filmes falados ao cinema), o diretor escolheu separar as narrativas pelo uso das cores. A história de Rose é contada em preto e branco e a de Benjamin em colorido. No livro, essa divisão também estava presente, mas o que acontecia com Ben era tratado na narrativa escrita enquanto Rose na narrativa visual, no estilo história em quadrinhos.

A trilha sonora do longa também condiz com a época de Ben (anos 70), e David Bowie canta “Space Oddity” movendo os sentimentos do garoto preocupado com a localização do pai e suas raízes do passado. Já para Rose, não há falas em sua história, apenas legendas da leitura labial que ela compreende. A trilha tem um significado de maior importância em sua parte, já que é basicamente o termômetro de suas emoções. O diretor Todd Haynes procurou editar o som combinando com cada movimento da garota em relação as pessoas com quem se encontra em sua aventura em Nova York, preocupada com os frutos de seu futuro.

E nessa árvore narrativa, a história é contada inteiramente pelos olhos de crianças inocentes e espertas, com medo da cidade grande, mas coragem e curiosidade de seguirem seus sonhos e ideais. As transições entre épocas poderiam ser melhor trabalhadas se evocassem o sentimento da conexão a cada cena, aproximando similaridades entre cada época, destacando e valorizando ainda mais o trabalho de edição. É ainda necessário falar sobre uma das últimas cenas, que transforma completamente o estilo do filme para uma animação feita em uma maquete que mistura bonecos, fotos e animações para dar vida e respostas para Ben e Rose.

Esta aventura divertida e angustiante, faz o público tentar prever seu final e as reviravoltas ao longo do caminho. A atuação da atriz mirim Millicent Simonds se destaca por traduzir tantas emoções sem proferir palavras, mas Oakes Fegley também é bom no que faz, e Julianne Moore, como esperada, dá aula e rouba a cena de forma maravilhosa. É claro que o que se espera dizer é que o filme é “de se tirar o fôlego”, e a beleza e construção do longa são tão diferentes que de fato se aproximam disso, porém o clichê da frase impede a afirmação, enquanto a moral de Sem Fôlego permanece e não se esquiva, apesar de válido, clichê em perseguir seus sonhos sem medo das consequências.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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