O Grande Sertão: Veredas – clássico da literatura brasileira em cartaz no CCBB

Foi levantado no Rio espetáculo visionário, trazendo à vida as palavras escritas por Guimarães Rosa, em sua opus magnum, “O Grande Sertão: Veredas”. Esta joia da literatura brasileira traz o melhor do modernismo, regionalismo e da tarefa de construir uma epopeia em cima do material bruto do mundo dos jagunços, dos sertões, onde o homem sofre e é tentado pelo diabo.

Bia Lessa conta com um elenco de atores geniais que desempenham seus papéis em uma grande estrutura inspirada em uma gaiola, bem debaixo da famosa claraboia do CCBB. É inovador, tanto na locação quanto nas escolhas cênicas, que transformam os corpos dos atores em partículas eletrizadas, em formações de pássaros carniceiros, sapos, outros bichos e de gente. Caio Blat vive Riobaldo, que se relaciona com figura andrógena e indefinida de Diadorin.

Foi preocupação da concepção de Bia falar do homem jagunço, mas em escopo universal, de forma que aquele drama pudesse traduzir da mesma forma os dilemas da vida de um camponês na China, em qualquer parte. Muito dos neologismos foram adaptados, mas a fusão do arcaico com o a coloquialidade são ainda marcantes. Hermógenes, Zé Bebelo, Medeiro Vaz, Joca Ramiro, Diadorin são personagens que fazem do espaço cênico (verdadeira instalação de arte, por si só) uma arena onde são travas lutas, onde são vivedas descobertas, onde o “homem humano” escolhe entre o que é bom e o que é mau.

A montagem é realmente sem igual e deve entrar para antologias e livros de teatro. Maiores descrições são dispensáveis. A experiência é da ordem do indizível. Se você aprecia bom teatro, vá conferir.