“Complexo de Hamlet”: Uma reflexão de dentro do personagem

“Complexo de Hamlet”  traz Luciano Caldas, um ator experiente, de Goiás, dando vida e argumento a uma das figuras mais significativas da dramaturgia universal de todos os tempos. A tradução, adaptação e direção de Celina Sodré conferem sua marca de densidade nas escolhas cênicas e permitem uma performance otimizada da parte do ator.

A experimentação – apesar da consciência e domínio total da linguagem e do conteúdo -, o soturno, a questão central do homem – e a angústia do existir – tomam corpo na figura lânguida de Luciano. Soluções e estímulos cenográficos criativos complementam a encenação.

O texto permite momentos de direcionamento direto ao espectador, mas também de reflexão e de presença dentro da personagem shakesperiana. A premissa do príncipe que enxerga a infidelidade materna e a desonra de seu pai é muito bem defendida e explorada com a adaptação em questão. Estamos falando de certa síntese da peça elisabetana e da fraglidade da condição do ser.

“Me mostre o que você vai fazer. Vai chorar? Vai lutar? Vai jejuar? Vai se rasgar? Vai beber vinagre? Comer um crocodilo? Eu vou fazer tudo isso”, disse Hamlet. O que fazer quando a dúvida está em exatamente em existir? As indagações deste ícone teatral estão na base de toda a arte e, como diz Celina, “é a chave para qualquer personagem”.

Elementos pontuais como a pintura artística de Antônio Sodré Schreiber e a iluminação de Maurício Fuziyama maximizam a experiência. É um espetáculo que privilegia a essência da artes cênicas, onde o espectador não é subestimado e cuja temporada é curta, portanto, aproveite, espie.