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Documentário sobre Rogéria retrata a travesti da família brasileira

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Todo brasileiro sabe quem é Rogéria. Gostando ou não, a artista foi uma das personalidades mais icônicas do país, seja por sua carreira nos palcos e nas telas, seja por sua persona, que combinava glamour e falta de papas na língua. Foi assim – como ela mesma definia – que se tornou “a travesti da família brasileira”. E é exatamente este aspecto da diva que o documentário de Pedro Gui busca explorar.

 Para isso, o diretor opta pela estrutura de um docudrama, alternando entre encenações teatrais de momentos da vida de Rogéria e depoimentos de amigos e familiares, que contam a história da diva desde a infância no Cantagalo, quando ainda era o Astolfinho, passando pelo começo da carreira como maquiador, o início da vida artística em plena ditadura militar, a ida para a Europa e o estrelato.

Além disso, o documentário começou a ser produzido quando Rogéria ainda era viva, então também há uma série de depoimentos da própria artista, o que ajuda a humanizar o objeto de estudo da produção – assim como a interação com os fãs no momento em que a estrela volta, após décadas, à Galeria Alaska, onde se localizava o teatro no qual ela estreou nos palcos durante os anos 60.

 Com isso, o filme se torna muito mais interessante e divertido – uma vez que Rogéria era uma pessoa muito engraçada justamente por não ter vergonha de nada. No entanto, o documentário peca ao passar muito tempo exaltando os sucessos da estrela e apenas comentar muito en passant os momentos difíceis da vida de sua biografada e outros aspectos interessantes, como o acidente que deixou uma grande cicatriz no rosto da artista – que, na época era chamada de “a mulher mais bonita do Brasil” -, levando-a a uma profunda depressão ou a maneira como ela lidava com relacionamentos e sexualidade.

              Por outro lado, a produção acerta em investir nas explicações – dadas pela própria artista – sobre as duas fortíssimas personas que habitavam o mesmo corpo: o Astolfo e a Rogéria. É muito interessante ver como ela lidava e alternava essas duas pessoas, que, mesmo sendo tão diferentes, eram complementares. Isso ajuda a amenizar o aspecto “Arquivo Confidencial Conceitual” da produção.

              Assim, iniciando com “Non Je Ne Regrette Rien” e contando com ricos depoimentos de pessoas como Betty Faria, Bibi Ferreira, Jô Soares, Aguinaldo Silva, Nany People, Rita Cadillac, Jane di Castro e Brigitte de Búzios, além da própria estrela que dá nome ao longa, “Rogéria – Senhor Astolfo Barroso Pinto”, apesar de preferir relembrar as histórias mais divertidas e não se aprofundar muito nos temas mais pesados da vida deste ícone da cultura brasileira, é uma produção que vale muito a pena ser assistida, não apenas pelos fãs da artista, mas pelo público em geral, que, talvez, não saiba da importância da “blonde bombshell dos trópicos”, a “Marilyn Monroe brasileira”. Quem gostou do documentário “Divinas Divas”, de Leandra Leal, com certeza, vai adorar.

Foto: divulgação

 

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