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HELI

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heliComo fã de Quentin Tarantino jamais poderei dizer ou escrever que não aprecio filmes violentos. Seria uma contradição de minha parte. O cinema, quando usado como expressão da realidade, pode e deve contar histórias violentas. Afinal, topamos com estas o tempo todo. Nas ruas do nosso bairro ou nas páginas policiais dos jornais. Entretanto, há uma concessão que não gosto de fazer: a violência precisa servir a um propósito no filme. Mostrá-la simplesmente por mostrar, é exibição gratuita e de mau gosto.

Aplaudido no mundo todo, “Heli”, dirigido pelo catalão Amat Escalante e em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, dia 8 de maio, é bem feito. Os prêmios que recebeu até hoje falam por si só: melhor película no Festival de Havana, melhor diretor em Cannes, isto sem falar das 14 indicações ao Ariel, considerado o Oscar mexicano. Contudo, apesar das qualidades técnicas, com destaque para a sua árida fotografia, infelizmente, ele se enquadra no caso que expressei acima.

O jovem Heli (Armando Espitia) vive com a esposa e um filho recém nascido, no interior do México. Visivelmente castigada pela seca, a miserável região parece bastante com diversos lugares do sertão nordestino. Igualmente pobre é o casebre que eles dividem com o pai e a irmã caçula de Heli. Enquanto os homens trabalham em uma fábrica de carros, as mulheres possuem outras ocupações: Sabrina (Linda Alvarez) cuida da casa e do filho. Já a menina, Estela (Andrea Vergara), estuda e namora Beto (Eduardo Palácios), um militar de poucos músculos e nenhum cérebro.

Até aí, a trama aparentemente faz sentido. Chama atenção por sua dureza, mas parece ter um propósito. No início do filme, em uma cena que logo descobriremos estar fora de sequência, quando um corpo é pendurado no alto de uma ponte, simulando um suicídio, os estômagos mais fracos podem querer ir embora. Entretanto, a curiosidade já foi despertada e mesmo o espectador menos curioso desejará conhecer os fatos que levaram a história até àquele momento. Na verdade, os problemas começam depois.

Jogada a isca, o roteiro assinado pelo próprio cineasta se estende demais. Subtramas e personagens são lançados de pára-quedas no âmago da história. Imagina-se que, lá pelas tantas, tudo aquilo fará sentindo. Não faz. Quando menos se espera, o filme termina de forma abrupta, deixando no ar a sensação de que ficou faltando alguma coisa. E se não bastasse isto, ao longo deste trajeto inconclusivo, a violência é praticada em seu nível mais degradante. São chocantes as cenas em que um homem tem sua genitália queimada e um cachorro leva um tiro na cabeça.

Se o filme termina sem sentido, se trama e subtramas não são bem amarradas, qual é o propósito desta violência desenfreada? A meu ver, nenhum. Em uma entrevista concedida na época do Festival de Cannes, em 2013, Escalante disse que seu objetivo não era impressionar, mas fazer com que os mexicanos encarassem sua triste realidade. Disse tudo. Por mais que existam semelhanças, “Heli” não se passa no sertão nordestino, consequentemente, é um filme localizado e restrito a um público específico.

Desliguem os celulares.

BEM NA FITA: A fotografia e o desempenho de seus atores principais.
QUEIMOU O FILME: A história que vai do nada a lugar nenhum. Violência sem propósito na trama, usada unicamente com o objetivo de chocar.

Crítica também publicada no Blah Cultural

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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