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A ESTRADA 47

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Por alguma destas coincidências, “A Estrada 47″, filme sobre a participação de um grupo de soldados brasileiros na Segunda Guerra, de Vicente Ferraz, chega aos cinemas na mesma época que o jornalista William Waack relança “As Duas Faces da Glória”, livro que desmistifica a participação do Brasil no mesmo confronto. Repórter competente, ele foi à Europa entrevistar sobreviventes, revirou arquivos e jornais até esbarrar em uma verdade inconveniente: a de que os militares que tomaram o poder em 64 engrandeceram os feitos tupiniquins em solo italiano com a intenção de usá-los como bandeira do novo governo. Não que os pracinhas não tenham tido nenhum mérito, tiveram, sim. Por outro lado, muitos soldados do outro lado do fronte desconheciam a participação dos nossos compatriotas.

Mesmo que em determinados momentos fique claro, de acordo com a fala de alguns personagens estrangeiros, o desconhecimento em relação à presença dos brasileiros na guerra, Ferraz não fez um filme totalmente alinhado com o livro de Waack. Contudo, isto não quer dizer que o cineasta tenha seguido a cartilha da maioria das obras de Hollywood e realizado uma louvação à pátria da qual os milicos da ditadura se orgulhariam. Não. Seu longa-metragem se posiciona em uma zona neutra, onde o mais importante não são os tiros, escassos e resumidos a praticamente duas cenas. Seu foco é o destino de cinco bravos homens, tenente Penha (Julio Andrade), sargento Laurindo (Thogum Teixeira), Guima (Daniel de Oliveira), Piauí (Francisco Gaspar) e o jornalista Rui (Ivo Canelas); em meio à missão de desbloquear uma estrada minada, eles lutam por algo muito maior: sobreviver.

Ao optar por contar esta história, o diretor evoca um dos melhores e menos conhecidos filmes de guerra: “Agonia e Glória” (1980), do cineasta maldito Samuel Fuller. As semelhanças entre ambos são evidentes. Cinco homens e a luta pela sobrevivência. Tudo narrado pelo prisma de um deles, neste caso, o personagem de Daniel de Oliveira. Outra semelhança é o capricho técnico das duas produções. Assim como no clássico americano, A Estrada 47 foi rodada no local onde a trama se desenrola, a Itália. Não foi poupado um único centavo nesta que é a primeira superprodução deste tipo feita por aqui. Logo, uma película única na cinematografia nacional em que o belo trabalho de design de produção e a fotografia (um pouco escura apenas na cena inicial) ajudam a mergulhar o espectador no clímax da ação.   
Com roteiro de autoria do próprio Ferraz, reside aí o calcanhar de Aquiles do longa-metragem: os diálogos, que vão do tosco ao comovente com imensa facilidade. Em seu melhor momento, em uma tomada feita dentro de um tanque, Piauí e sargento Laurindo usam o futebol como linguagem universal para se entenderem com um prisioneiro alemão (Richard Sammel, que atuou em ‘Bastardos Inglórios’, 2009, de Tarantino). Infelizmente, em outras passagens, o texto abusa de um humor forçado, e até inconveniente, para situações de grande tensão. No entanto, nada capaz de ofuscar o brilho de um raríssimo exemplo de filme de gênero feito no Brasil.
 
Desliguem os celulares e ótima diversão.               
 
Crítica também publicada no Blah Cultural 
Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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