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MOSTRA SAMBA PEDE PASSAGEM – ENTREVISTA COM GABRIEL MEYOHAS

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Em comemoração ao Dia do Samba, a Caixa Cultural do Rio de Janeiro está realizando a Mostra de Cinema “O Samba Pede Passagem”, que traz clássicos sobre um dos ritmos musicais mais importantes do país. Confira a entrevista com Gabriel Meyohas, um dos curadores da mostra para o site Rota Cult.
Qual é a sua relação com a temática da Mostra?

Fui criado no subúrbio do Rio de Janeiro, numa família que durante anos costurou fantasias para a escola Estácio de Sá. O espaçoso quintal da minha bisavó, no Cachambi, sempre recebeu ilustres convidados para rodas de samba realizadas embaixo de uma enorme mangueira que resiste até hoje. Foi ali, crescendo entre o pandeiro e os paetês que eu adquiri uma verdadeira paixão pelo samba. Mais tarde, aprendi cavaquinho e percussão e, em simultâneo, me formei em cinema. Na faculdade, conheci o Thiago Ortman, que é o outro curador dessa mostra. A partir da união entre música e cinema surgiu essa ideia.

Quanto tempo de pesquisa foi necessário para a realização da mostra?

Desde que recebemos a notícia de ter passado no edital, até hoje, foi algo em torno de um ano de conversas, de estruturar ideias de abordagem e de correr atrás de filmes que valessem fazer parte do recorte.

Após tantos longas e curtas sobre o samba e seus mestres, há alguma vertente que, de seu ponto de vista ainda precisa ser abordada pelo cinema e qual?

Falar sobre samba, no cinema ou fora dele, pra mim não é algo que se esgota. Falar sobre samba, seja em meio de resgate, pesquisa, perfis, é sempre construtivo. Samba é, acima de
tudo, uma força afro-brasileira de importância seminal. Não só musical, mas que atua em diversas áreas do meio social, antropológico. Muda realidades, discute preconceitos. Esse tipo de movimento tão relevante precisa sempre estar em voga.

Qual o papel do samba na sociedade contemporânea, não apenas como estilo musical mas também como agente modificador?

Continuando o que falei acima, o samba nasce da mistura entre o batuque religioso africano e os instrumentos europeus góticos. Depois, sofre apropriações diversas que através do tempo construíram uma rede fecunda de possibilidades. Porém, ele é, e nunca deixará de ser, uma expressão negra, que nasceu marginal e que só agora “adentra os salões”. É preciso dar a ele esse caráter de importância. Samba é música que narra espaços, tem força política, expõe mazelas, mas também é uma ferramenta de aceitação social. Ele é democrático, revolucionário, engloba.

O que faz com que as composições tenham uma identificação profunda com quem as escuta?

O samba é herdeiro direto da tradição oral africana, dos cantos transcendentais. Do lamento que uniu África e Brasil, de uma força de revolta pelo sofrimento da escravidão. É uma forma de narrativa atemporal. Conta histórias, amores, desilusões, alegria e sofrimento. Isso une seres humanos, independente das referências culturais e sociais.

Qual a maior relevância do samba na influência direta das características culturais daqueles que escutam e como vem sendo as modificações com o passar do tempo?

Compreender o espaço do outro, construir uma relação com o passado, com a história da diáspora do povo negro, entender a importância da cultura africana como peça fundamental na construção do Brasil. Saber que de gênero perseguido ele se tornou vitrine mundial do país. O samba estabelece vínculos sociais importantíssimos. Quebra barreira entre classes.

O samba de raiz sempre presente na cultura brasileira, retrata muito a vida do trabalhador e deu origens a composições que são obras primas da música nacional, qual o papel do cinema para que o samba esteja presente nas gerações futuras?

O cinema tem importância absoluta na perpetuação da ciência de qual foi, de qual é e de qual será a relevância do samba para o Brasil. Através de diferentes movimentos e diferentes olhares dedicados ao samba, construiu um mosaico muito didático com relação ao caráter social do mesmo. Como o ritmo tão africano e tão brasileiro atravessou a história do país e como nós enxergamos e fizemos parte desse movimento.

Juliana Meneses
Juliana Meneses
Jornalista, pesquisadora de comunicação, fotógrafa e escritora. Apaixonada por literatura, cinema, teatro, música e fotografia. Viciada em café e livros, nasceu para escrever e viver cercada de histórias.

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