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Mariana Nunes fala sobre carreira, vaidade na profissão e o Movimento Feminista

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Atriz que interpretou a escrava Blandina em “Liberdade, Liberdade”, já trabalhou com o cineasta Claudio Assis em “Febre do Rato”, foi par de Cauã Reymond em “Alemão” , além de grande carreira no teatro e na televisão. Seu mais novo desafio nos cinemas, foi interpretar a mãe do craque Pelé em biografia, ainda a ser lançada. Abaixo, a talentosa atriz conta sobre o inicio da sua carreira, fala sobre vaidade na profissão e a importância dos Movimento Feminista. Confira a entrevista abaixo:

Você começou no teatro e depois seguiu para televisão e cinema. São escolas diferentes. Qual a importância deles na sua carreira? Tem alguma preferência?

Não tenho preferência entre teatro, televisão ou cinema. Comecei no teatro e lá construí minha base. Acho bastante importante essa formação. No teatro o trabalho é coletivo, de grupo, aprende-se muito. O cinema é uma arte de mais tempo, não como no teatro pois no teatro, geralmente, se ensaia durante meses. Mas o cinema, apesar de ser tida como a arte do diretor, o ator tem que se conhecer, entender os tempos da história, da câmera. É um trabalho muito junto da câmera. Agora a TV… a TV é para os atentos! Rs… Na TV é tudo muito rápido.

O que te levou a ser atriz?

Vontade de me comunicar, de falar, de ser ouvida. Eu tenho uma coisa com a fala, uma sensação de que as pessoas não se colocam, de fato, interessadas no que o outro fala. Sempre senti que precisava de um lugar, uma situação para falar. Encontrei isso no teatro. Ser ator é, de alguma forma, defender pontos de vista, trazer reflexões. Me sinto importante com o meu trabalho.

A vaidade vai além do personagem?

Não sei se entendo bem a pergunta, mas acho que a vaidade vem antes do personagem. Muitas vezes, rola também do personagem questionar sua vaidade, colocando-a em um lugar de fragilidade. Acho que, como em qualquer profissão, quando você alcança sucesso e reconhecimento, a vaidade pode se tornar um atrapalho. O grande lance da profissão de ator é que quando se tem reconhecimento, fama ou sucesso, acaba sendo um grande desfio não se deixar enganar por esses valores.

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Você interpreta a mãe do Pelé no filme que conta a vida do craque de futebol, como foi o processo de construção e desconstrução da personagem?

Interessante essa pergunta. Se fala tão pouco soube desconstrução, né? Esse personagem é algo perto de uma realidade que eu já conhecia: uma mãe pobre, negra, rígida, que faz de tudo para tentar dar uma boa educação e uma condição digna para que o filhos tenham um futuro melhor. Essa é a história das minhas avós, principalmente da mãe do meu pai. Eu fui com muita vontade fazer esse personagem. Esse trabalho foi tão bem resolvido que depois das filmagens eu só precisei dormir e descansar. Essa foi a minha desconstrução.

Em “Liberdade, Liberdade” você interpretou uma escrava, teve dificuldade em encarar esse projeto?

No começo sim, mas acho que foi mais um estranhamento da linguagem da televisão que ainda é muito nova pra mim. Também tinha o enredo que era muito triste pra nós atores negros. Estávamos ali contando uma parte da história do Brasil, mas principalmente do nosso povo!

Ainda ocorre resistência em colocar negros em papéis de destaque?

Claro! Quantas atrizes ou atores negros vemos fazendo papéis de destaque? Se somos a maioria no Brasil, tem algo errado nessa conta, não?

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Estamos num momento no Brasil em que muitos movimentos, movimentos feministas negros, principalmente, buscam mudar a imagem da mulher negra na mídia. Ha uma busca pela reconexão com as raízes e a cultura negra, buscando uma maior valorização e fuga dos clichés, que passa inclusive pela estética. Você leva isso em consideração ao escolher os trabalhos dos quais vai participar?

Sem dúvida alguma! Estamos em um momento de tolerância zero. A escolhas dos trabalhos que faço passa primeiramente pela minha vontade em relação a aquele trabalho, passa pelo próprio trabalho (roteiro, personagem, relevância da história) e pela forma como o diretor/diretora se coloca em relação a todas essas questões colocadas na pergunta. Não dá pra ser dirigida por alguém que não perceba toda essa mudança que está acontecendo e que não seja minimamente aberto/a ao debate, `a conversa, a ouvir o que uma atriz negra tem a dizer sobre sua própria imagem. A conversa tem que ser presente pra entendermos como esses personagens são representados e o que reforçamos ou o que renovamos no nosso olhar com a nossa arte.

Existe um movimento grande de mulheres negras por exemplo com relação ao cabelo, um movimento que busca assumir as características identitárias negras que foram tão reprimidas, qual é a importância desse movimento?

Esse movimento não é tão só importante como é fundamental para que possamos caminhar para frente. Como posso identificar meu corpo ou me identificar no meu corpo sem ver o que ele é de verdade? Começamos a nos assumir há muito pouco tempo e isso é só o começo.

Fotos: Ricardo Penna

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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