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Os Filhos do Padre

Publicado em:

filhos-do-padreO jovem padre Fabian fica preocupado ao descobrir que há muito mais funerais que nascimentos na ilha onde vive. Quando o vendedor de preservativos vai se confessar, Fabian tem a brilhante ideia de aumentar o índice de natalidade através de um método inusitado: furar todas as camisinhas antes de serem vendidas, causando um baby boom e muita confusão.

Vinko Bresan é conhecido pelo seu humor ácido ao retratar o conturbado panorama sociocultural da Croácia, como nos seus filmes anteriores: How the war started on my island (1996), Marshal Tito’s spirit (1999), Witness (2003) e Will not end here (2008). O seu quinto longa mostra, desde a primeira cena, que não é uma comédia comum, ao trazer para as telas a controversa peça homônima de Mate Matišić, dramaturgo e responsável pela adaptação do roteiro.

E fez sucesso: arrecadou a maior bilheteria da Croácia no ano de lançamento. Um dos principais motivos é o seu inusitado argumento. O jornaleiro Petar (Niksa Butijer), que vive numa pequena comunidade numa ilha da Dalmácia, é meio que forçado pela sua mulher (Marija Scaricic) a se confessar, já que ele “matava pessoas que ainda não tinham nascido”, ao vender camisinhas. Como costumava administrar sacramentos funerários, mas ainda não havia registrado nenhum nascimento, e depois do que lhe é narrado no confessionário, o padre Fabian (Kresimir Mikic) resolve intervir “para o bem da sua pequena paróquia”. Para combater a reduzida taxa de natalidade, ele passa a furar as camisinhas comercializadas por Petar, com a sua ajuda. Mas percebem que isto não é o suficiente. E é assim que, “para atacar nas duas frentes”, homens e mulheres, o farmacêutico Marin (Drazin Khun) compõe o trio ao trocar anticoncepcionais por vitaminas.

No início, o filme pode até lembrar (pelo avesso) o “musical” de Monty Python em The meaning of life (1983), mas, nesta produção croata, a comédia se forma pela combinação do insólito argumento, da ironia reflexiva, da sequência de situações bizarras, da repetitiva trilha sonora regional de Matišić e cenas surreais. E é através desta combinação que Bresan faz um filme leve com temas pesados, como o nacionalismo croata, advindo da relativamente recente independência da ex-Iugoslávia, bombas plantadas no território pelos “inimigos” (que gera um dos mais hilários diálogos do filme), pedofilia, limpeza étnica e os usos e abusos da Igreja Católica. Este é, sem dúvida, o principal alvo do filme. A crítica, no entanto, é recente, mas não atual, já que o coral da paróquia faz uma apresentação ao Papa Bento XVI que, todo mundo se lembra, “pediu pra sair”.

As alfinetadas destinadas à Igreja passam pela política de proibição do uso de contraceptivos em geral, e se estendem à rigidez de dogmas e sacramentos que contradiz o envolvimento de sacerdotes em escândalos sexuais e descontrolados gastos de verba pública.

Os atores desta comédia de humor negro, que às vezes beira o pastelão, não são conhecidos pelo público brasileiro, mas mandam bem, seja através de caras e bocas estereotipadas, seja através da boa interpretação de um texto divertidamente crítico, como na chegada do bispo à ilha e, na sequência, sua conversa com o padre Fabian.

Apesar de a Dalmácia, às margens do mar Adriático, ser um cenário recorrente nas primeiras obras de Bresan, a sua filmografia não é tão divulgada do outro lado do Atlântico. Com muitos momentos engraçados e recheado de surpresas. Vale a pena conferir.

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