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Barrage e a catarse de seus personagens em dramas reais

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A responsabilidade de uma avó, o dever de uma mãe, a dor de uma filha e os sentimentos crus das três são o tema de Barrage, novo longa-metragem da diretora Laura Schroeder. O filme belga acompanha o retorno de Catherine (Lolita Chammah) para Luxemburgo no intuito de se reconectar com sua filha Alba (Thémis Pauwles), a quem abandonou quando bebê devido a problemas de saúde. Sob os cuidados da avó Elisabeth (Isabelle Huppert), a garota de dez anos cresceu escutando críticas, até que a vinda inesperada da mãe, as leva para uma jornada de reconciliação. Contudo, o perdão não vem fácil.

As mudanças radicais na vida das mulheres as fazem questionar quem são, e as escolhas de suas vidas. A partir da clássica interação: criança madura e adulta infantil, a narrativa se constrói em relações complicadas, pessoas desajeitadas e tentativas desesperadas de conexão. O diálogo todo é conduzido em um tom baixo e monótono que nina o público. O fato deste filme pertencer ao Festival de Cinema do Rio, e não em circulação popular, vem desse elemento. Essa despreocupação com o interesse do público, e uma macro percepção de que há uma história para ser contada ali, pode soar como um ato egoísta da diretora, mas dá um senso de pertencimento próprio à história.

O clichê dita como regras, independe. Se este fosse um filme clássico de sessão da tarde, em que uma família sai para se conectar, haveriam vários momentos em que os pais se atrapalhariam e acabariam quebrando a dureza dos filhos a partir das risadas. Barrage se distancia dessa quebra a partir do humor, é trazer mais do concreto e da realidade para a situação, em que a reconciliação se dá pelo lento e doloroso processo de conhecer o outro e ter a empatia de compreender as escolhas que levaram as duas a estarem ali.

Além do caminho percorrido pelas personagens, há aquele percorrido pelas atrizes. Isabelle Huppert (indicada ao Oscar em 2017) se sente muito à vontade nesses dramas da vida. Logo, não é surpresa, que apesar de aparecer pouco, esteja plena em todas. Para Lolita Chammah e a pequena Thémis Pauwles foi diferente, as duas fizeram um trabalho razoável, e apesar de não terem sido nada muito destacável, não deixam a desejar. Talvez a falta de emoção seja uma característica das atrizes, ou talvez seja consequência da diferença cultural entre os belgas e brasileiros. E se tem algo que é extremamente elogiável na Bélgica, é o cenário florestal do lugar onde mãe e filha se refugiam e aventuram em sua tentativa de criar laços.

É uma espécie de catarse o que as personagens experimentam naquele lugar. E é causado pela ligação natural do ser humano consigo mesmo quando isolado de influências externas, ao lado da natureza. Apesar dessa boa relação entre história e espaço, um erro grotesco da diretora foi a escolha da trilha sonora. Em uma obra tão íntima, em que os sentimentos estão sempre à flor da pele, a última coisa que se espera ouvir é uma música EDM eletrônica da dupla de djs The Chainsmokers, com o hit “Don’t let me down”. É difícil encarar essa decisão como qualquer coisa além de uma falha da direção, ou no mínimo na edição do material.

Algumas más escolhas podem passar despercebidas se houver suficiente boas decisões para contrapor a primeira. Contudo, “Barrage” se distancia muito de uma linguagem comum ao público brasileiro. Dessa forma, enquanto a barreira entre mãe e filha se desfaz, a do público com a história, infelizmente, só cresce.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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