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Sergio Andrade, diretor de Antes o tempo não acabava, fala sobre a questão do indígena urbano

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A coprodução Brasil/Alemanha, Antes o tempo não acabava dirigida por Sérgio Andrade e Fábio Baldo, que também assina o roteiro  trata sobre o conflito entre tradição e modernidade, vivido pelos grupos indígenas em grandes centros urbanos. O longa conta com um elenco indígena de diferentes etnias e é falado em português, Tikuna, Sateré Mawé, Neenguetu, Tariano. O filme estreou internacionalmente na Berlinale, em 2016. Confira abaixo nossa conversa com o diretor.

A intenção do filme é provocar a discussão sobre a questão indígena?

É uma discussão em beneficio da questão indígena, do indígena urbano, né. A gente quer mostrar que é uma sociedade que vive na periferia de Manaus, especificamente, e que praticamente o Brasil, o mundo não conhece. Eles veem de suas aldeias fazem uma migração e começam a viver na periferia da cidade em verdadeiras comunidades, são várias etnias vivendo ali, e o que nos impressiona e que eles vivem nessa dualidade cultural na vida de uma cidade urbana, uma metrópole branca, trazendo toda aquela cultural ancestral deles.

Você acha que possível reafirmar a cultura indígena através do filme?

A gente fala dessas relações dentro dessa sociedade indígena que migra para periferia. A gente reafirma sim, embora, não seja aquela visão estereotipada ou exótica se submetendo as regras da sociedade branca. Eles têm também as dificuldades e problemas deles seja em relacionamentos ou em choques de gerações. É para reafirmar a cultura indígena sim, só que através do indígena urbano.

Como foi o processo de construção do filme?

O filme é uma ficção, fruto de pesquisa, de observação, de contato com esse mundo. Cada historia que tem ali, cada detalhe que tem no filme é muito inspirado em questões que acontecem no cotidiano de Manaus e em relação a essas comunidades indígenas.

Você chegou a conviver com esses fatos ou foi uma historia que veio até você através de noticias?

Foi de convivência, de aproximação, de observação, de já ter trabalhado com indígenas em outros filmes ,de ter nascido em um ambiente que estava muito próximo. Amigos e pessoas que tinham origem indígena, né. Aqui em Manaus a gente tem muito essa aproximação. A questão é que existe uma barreira imposta pela hipocrisia social que não mergulha nessa cultura, que não se relaciona com essa cultura. Mas eu sempre fui muito de me relacionar com o que tava em volta.

Por exemplo, a questão do saber o ritual das tucandeiras Sateré Mawé, né, hoje em dia o ritual é feito nas aldeias, não é nem na cidade e tudo mais. Mas próximo a cidade também é feito de uma forma meio turística, para atrair visitantes, eu não tenho nada contra isso, eu acho que eles devem mesmo fazer isso, mas tudo passa  por um prisma urbano quando a gente está falando desta sociedade que vem para cidade. E ai, o filme trafega nesse ambiente.

Antes o tempo não acabava levanta questões politicas, sociais, antropológicas e sexuais.

É uma questão de sexualidade, eu diria. É uma questão que se a gente atentar pouco se fala da questão da sexualidade indígena. Nos últimos cinco anos nos tivemos resultados de vários estudos  a cerca da sexualidade indígena que vem sido feito desde a década passada pelo antropólogo Estevão Rafael Fernandes. Ele tem um estudo muito grande sobre a questão da sexualidade e da homossexualidade. É muito interessante que está questão já existe desde antes do descobrimento. A gente quis abordar isso também no filme por ser uma questão pouco abordada. E no cinema um filme sobre o indígena urbano é a primeira vez que a gente vê. Um filme sobre uma dualidade, uma dicotomia.

O protagonista passa por um rito de passagem, assim como o ser humano, você acredita que o filme seja também um rito de passagem na cultura audiovisual?

Olha, boa pergunta, muito interessante! Eu acredito que toda a polêmica que o filme possa trazer a respeito de várias questões levantadas nele. Para mim, tudo é muito proveitoso, por que pela primeira vez se está discutindo esse estrato populacional que são os indígenas urbanos. Pela primeira vez, se visualiza como viver na periferia da cidade. E também na cinematografia brasileira, nós temos poucas incursões sobre a questão do homem do Norte. É um filme que o publico descubra o indígena urbano.

 *Entrevista feita por telefone.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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