Por Pedro Verani

Com roteiro e direção concisos, interpretações convincentes e trilha sonora de tirar o fôlego, O Sacrifício do Cervo Sagrado se revela um ótimo esforço do diretor Yorgos Lanthimos dentro gênero de horror psicológico.

Steve é um cirurgião cardíaco de sucesso que vem se recuperando do alcoolismo. Ele é casado e vive com sua esposa e seus dois filhos em uma bela casa. O médico tem uma relação mal explicada com Martin, um garoto de 16 anos, e gradativamente o envolvimento entre o médico, sua família e o garoto se estreita. Quando Martin passa dos limites, demandando cada vez mais tempo e atenção de Steve, o médico se afasta. Martin, então, resolve esclarecer as coisas e recorda a morte de seu pai após um procedimento cirúrgico feito por ninguém menos que o próprio Steve.

O roteiro – premiado em Cannes – ganha uma reviravolta mítica de natureza sobrenatural que nunca é muito bem explicada, característica de Lanthimos. O preço a ser pago pela negligência médica de Steve – que nunca descobrimos, de fato, se houve – é o sacrifício de alguém de sua família. Caso contrário, eles morrerão todos, um a um, por etapas; paralisia das pernas, inanição, sangramento pelos olhos e morte. A partir do momento que Bob, o caçula da família, perde os movimentos da cintura para baixo, todo o absurdo e horror da situação se misturam e assistimos chocados o colapso de uma família.

A direção e trilha trabalham juntas e funcionam pra manter a atmosfera gélida e construir os sustos e aflições que ficam cada vez mais intensos do meio para o fim do filme. Em outros trabalhos como A Lagosta, de 2015, já era possível notar a influência de David Lynch na cinematografia de Lanthimos, e este filme parece confirmar as suspeitas.

Lanthimos tem controle sobre a narrativa e sabe quando e como revelar “o que estamos vendo”, sem medo de ir até o fim com suas decisões. O Sacrifício do Cervo Sagrado é uma bela aposta do diretor em direção à uma nova linguagem, uma mistura de estilos dentro de um gênero tão convencional como o horror.

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