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O crime em exposição em Iter Kriminis

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O espetáculo Iter Kriminis, em cartaz na Cidade das Artes, traz uma ótica bastante original em relação aos ilícitos contra a vida, passionais e fruto da insanidade. Estamos diante de uma verdadeira instalação que permite ao espectador-visitante mergulhar nas mentes perversas ou conturbadas de dez personagens bem peculiares.

Fabio Moraes, O CARENTE, usa o sexo e gravata, encontrava parceiros em pubs de Londres e, depois de uma noite em sua casa, os estrangulava com sua gravata. “Ninguém quer acreditar que eu sou apenas um cara comum. Chegar a essa conclusão seria algo extraordinário e avassalador.” Fernanda Becker interpreta Catherine, que, em um ” Açouque Humano”, seduzia as vítimas e as levava para casa. “Tudo que eu queria era que meu marido fosse feliz, eu nunca conheci uma pessoa tão feliz como ele depois que matava.” Francisco de Assis vive Ricardo terceiro, o tirano, e seus materiais são a manipulação e tirania e a imoralidade para chegar ao poder. “Um cavalo! Meu reino por um cavalo!”.

Geovana Metzger vive Lady Macbeth, em “sai mancha maldita”. Usa de sedução e manipulação para conseguir seus objetivos. “Vem depressa, que eu verta em teus ouvidos minha coragem”. Géssyca Mendes é Bertha Gifford, uma colecionadora de obituários, que é caridosa e dispoõe de instrumentos médicos e arsênico. “Pode ir descansar, eu cuido disso.” Já Gillian Vila interpreta Salomé, na dança da morte. “Quero a cabeça dele numa bandeja de prata!”. Julielson Lima vive Edward Theodore, no hitchcockiano “O filho que era mãe”. Ele diz: “Eu gosto desse hospital psiquiátrico, todo mundo me trata bem, embora alguns deles sejam doidos”.

Lêda Ribas é Leonarda, em “A Saboneteira”, que atraia suas vítimas com promessas e adivinhações. “Fiz muitos bolos crocantes e servi para as senhoras que vinham me visitar. Giuseppe e eu também comemos.” Manoel Borges faz Ródion, em “Um ser especial”. Seus materiais eram o machado e uma encomenda falsa. “E se me acontecesse esse horror? De que porcaria é capaz a minha alma! Isto é que é importante: é sujo, brutal, mau! E eu, durante um mês inteiro…”. Thiago Sol faz José Ramos que usa da sua força física e de um machado. “Esse é meu destino, matar.”. E a gaúcha Marcia Dutra é a guia na exposição Iter Kriminis.

A ideia da peça é transgressora por si só. A ideia de avaliar a sociologia criminal por meio de uma instalação/peça de arte pode gerar polêmica. O que se pode garantir é que o espectador realmente sente medo perante aquelas figuras ameaçadoras e que a experiência aproxima-se da de um circo de horrores, do contato com o perigo. Não é um espetáculo para fracos. o espectador sofre estímulos, provocações, que o podem abalar e que levam à reflexão acerca da sanidade, prática psiquiátrica, função da arte, e da natureza do ser humano.

Acontece uma exposição quase midiática – de reality show ou de zoológico – das personagens, que deixam-se observar e interagem. Geovana Metzger também responde pela dramaturgia. A diretora Julia Carrera acertou na mão e compôs uma experiência teatral também esteticamente muito expressiva. Desde a disposição das personagens até a utilização do efeito de estranhamento, tudo contribui para gerar uma vivência pouquíssimo usual, mas instigante.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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