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EXCLUSIVA: Vicente Amorim fala sobre a estética de Motorrad

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Motorrad, de Vicente Amorim, teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto, na prestigiosa seção “Contemporary World Cinema”.  O thriller que foi exibido no Festival do Rio de 2017,  mostra as aventuras de um grupo de motocross por uma trilha desconhecida e passa a ser caçado por motoqueiros assassinos.

 Baseado nos  personagens criados pelo quadrinista Danilo Beyruth, um dos maiores nomes da HQ nacional, atual colaborador da editora americana Marvel. O filme conta com produção de LG Tubaldini Jr e André Skaf.

Seu novo filme, Motorrad, segue uma linha diferente do que você está acostumado a fazer, o que te atraiu nesse projeto? Você teve suas influencias de outros cineastas e outros filmes para a montagem de Motorrad?
Vicente Amorim – Há quase dois anos o Tuba (o produtor LG Tubaldini Jr) me contou uma ideia dele para um thriller. Envolvia motos, mortes e a Serra da Canastra. Ainda não era bem o Motorrad, mas o espírito do que acabamos fazendo já estava presente. Eu fiquei animadíssimo. Há 20 anos eu tentava fazer um filme de gênero, mas nenhum produtor topava, e de repente aparecia um produtor jovem, animado, com a ideia para um filme de ação e terror, um thriller, com motos na Serra da Canastra? Topei na hora. Desenvolvemos o roteiro durante mais de um ano, fomos algumas vezes à Serra da Canastra para buscar inspiração e as locações, chamei a equipe mais bad-ass do cinema brasileiro e partimos para dentro! Motorrad mistura influências de toda uma vida de terror, ação e nerdices. Quem for ver vai entender.

O longa dá vida aos personagens criados pelo quadrinista Danilo Beyruth, um dos maiores nomes da HQ nacional, como foi processo de adaptação para o cinema?
Vicente Amorim – O filme tem totalmente o espírito, o visual, o clima de HQ. Para isso acontecer, ter o Danilo criando os personagens e discutindo cada passo do roteiro junto com a gente, e depois, também presente no desenvolvimento visual do filme, foi fundamental. Ele é o papa dos quadrinhos no Brasil, ele conhece e domina não só a estética, mas conhece a cabeça da galera que além de ler HQ, de gostar desse universo, vê esse tipo de filme. Ele funcionou como uma bússola para a gente o tempo todo.

Você fez uso de uma estética suja e árida na concepção do longa como em Mad Max. Como a fotografia do filme se comunica com o roteiro e seus personagens?
Vicente Amorim – O Danilo criou os personagens e nos ajudou a estabelecer o tom geral do Motorrad. Ou seja: foi muito além do aspecto visual. Ele, junto comigo, Tuba e o roteirista, L.G. Bayão, um dos responsáveis conceituais pelo filme. Essa pegada HQ, as escolhas que eu e Gustavo Hadba, o diretor de fotografia, fizemos depois, foram embasadas em ideias que discutimos por meses com o Danilo. Tem muito de filmes como Mad Max, é claro, mas muito das HQs mais “áridas” do Danilo.

Em Motorrad você mistura gêneros de sucesso: ação e terror, como isso foi trabalhado no roteiro?
Vicente Amorim – A ideia, desde o início, era fazer um filme de gênero, sem concessões. Na nossa história a relação dos personagens humanos com os motoqueiros espectrais, o medo e as mortes, se encaixa bem no terror slasher — algo que gosto muito — e as motos e as perseguições somam ao lado mais de ação do filme. Esses elementos, sozinhos, dão a textura e o tom geral, mas não amarram a história, que discute desde relações familiares/de grupo, até amadurecimento e sexualidade — estes são os elementos que nos fazem gostar dos personagens, nos fazem torcer para que sobrevivam. Torcer, eu disse. 😉

Os personagens tem um traço paranoico do medo muito bem trabalhado, os atores imprimem ótimas atuações. Como foi o processo de construção dos personagens?
Vicente Amorim – Todo elenco fez cerca de quatro semanas de preparação no Rio, incluindo ensaios, claro, e muitas aulas de motocross. Chegando na Canastra esse processo continuou, mas ali, nas condições e nos lugares onde a gente ia filmar. Além do roteiro, havia uma bíblia escrita por mim onde toda conceituação do filme estava explicada, onde o back-story de cada personagem era explorado. Minha equipe chama esse documento de “o modo de usar” do filme. Em cima disso eu, os atores e a Maria Sílvia, preparadora de elenco, trabalhamos cada cena, cada fala, cada gesto. Foi minucioso.

O filme chamou a atenção de sites especializados no exterior, foi inclusive considerado sanguinolento pelo crítico do That’s Not Current. Terror nunca foi um gênero que atraiu como você se sente com a crítica especializada elogiando um novo projeto cheio de desafios?
Vicente Amorim – Sabíamos, eu e Tuba, que estávamos fazendo algo diferente, que estávamos apostando alto. Fomos fundo no gênero e acreditávamos no filme, mas a repercussão internacional, a partir da seleção para o festival de Toronto (único filme brasileiro lá ano passado!), superou muito minhas expectativas. A partir de Toronto o filme foi vendido para o mundo todo. A aposta deu certo, valeu o risco de fazer um thriller sem concessões. Motorrad, evidentemente, se comunica com o mundo: do japonês ao americano, passando pelo alemão, o italiano… Ele é local, mas a língua do terror é universal. Fazer um filme de gênero e às vésperas do lançamento, por causa da repercussão de crítica e das vendas, ter a certeza que ele já “deu certo” é muito bacana.

O filme foi rodado na Serra da Canastra, em Minas Gerais, tiveram dificuldades na filmagem?
Vicente Amorim – Distância: As locações ficavam a quase duas horas da cidade mais próxima, incluindo aí uma hora de estradas que, na verdade, são trilhas de moto. Tudo de 4×4.
Natureza: É um local lindo, mas assolado permanentemente por sol, vento e, no mesmo dia, frio extremo e calor. Sem um abrigo para chuva, sem uma sombra, nada. E, como não podia deixar de ser, com cobras, escorpiões, insetos…
Terreno: Era como escalar uma montanha, pois, depois de chegar ao acampamento-base, ainda faltava, sempre, um bom tempo de caminhada. Até rapel em cachoeira rolou.
Estrutura: Para fazer cenas de ação, normalmente você conta com uma estrutura enorme de apoio. Ali na Canastra éramos nós e a incrível equipe de dublês do Javier Lambert (além de alguns motoqueiros locais muito cascudos).            Fotos: Gui Maia

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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