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Edward Bond para tempos conturbados discute a violência

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Por: Thales Valoura

Tempos conturbados, tempos desalinhados, tempos que não sabemos o que esperar do dia seguinte, que dirá do futuro. Tempos violentos, da polarização, do ou você é isso ou aquilo. Tempos das injustiças, das mazelas, dos erros. Todos esses “tempos” são estes nos quais vivemos ou estamos falando de tempos anteriores ao nosso? As conturbações que vivenciamos no hoje-presente tendemos a achar que estão mais agressivas, mais violentas (ou que estamos vivendo tempos “muito obscuros”), mas será que nossa proximidade com a história atual afeta diretamente este olhar analítico? Nossos antepassados não passaram por tempos ou mais conturbados que o nosso? Estes foram um dos poucos de muitos questionamentos levantados em “Edward Bond para tempos conturbados”.

A provocação constante é um elemento de diálogo entre texto e público – que nos faz pensar que tempos são esses que vivemos e como estamos inseridos neles -, tanto de uma forma mais filosófica – com uma personagem distanciada do tempo-espaço da peça trazendo questionamentos desafiadores -, como com pequenas cenas ficcionais. Tais provocações compõem uma dramaturgia, assinada por André Pellegrino, inspirada em obras do dramaturgo britânico Edward Bond, conhecido por textos violentos e que fazem refletir sobre as sociedades e seus rumos. O texto – com seus maravilhosos questionamentos e tons irônicos – incomoda, instiga e provoca sobretudo pelas críticas e reflexões para com a nossa atual sociedade brasileira. A presença do humor vem amenizar a violência sem pudor de todo o texto, conseguindo dinamizar sem deixar pesado, cansativo.

Já Daniel Belmonte consegue dar cara e corpo ao texto, fazendo surgir cenas muito bem pensadas e dirigidas. Com diversos recursos cenográficos e cênicos, a peça é bem dinâmica, indo de encontro a diversas convenções sociais e teatrais (como uso enfático do nu e da não utilização dos três sinais para início do espetáculo) e explorando a tecnologia a favor de um espetáculo ativo e contemporâneo. Não mais, tem um bom trabalho de direção para com os atores (Alice Morena, Fernando Melvin, João Sant’Anna, Leonardo Bianchi, Lívia Feltre, Susanna Kruger), que fazem trabalhos destemidos, com a força necessária para um texto forte como acima citado.

Espetáculos como “Edward Bond para tempos conturbados” se faz tão indispensável num momento que precisamos chacoalhar esta sociedade hipócrita, contraditória e desconexa. Precisamos de umas verdades ditas, de uns questionamentos levantados. Mas não vá esperando uma peça elucidante, que colocará “os pingos nos is”. O intuito é incomodar, é de te desorientar para orientar, conturbar ainda mais para talvez desconturbar.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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