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“GÓRGONA”: A PANTERA NOS BASTIDORES DA GUERRILHA

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Na Mitologia Grega, as górgonas eram belas mulheres que foram amaldiçoados por Atena, a deusa da sabedoria, que as tornou monstros ferozes, de figura feminina, que tinham o poder de transformar em pedra qualquer um que olhasse em seus olhos. A História conta que existiam três delas, sendo Medusa a mais famosa. E este papel é assumido – metaforicamente – por Maria Alice Vergueiro, considerada “um monstro sagrado” do teatro brasileiro, no documentário “Górgona”, de Fábio Furtado e Pedro Jezler.

Filmado ao longo de cinco anos, o filme segue os passos da atriz, de 83 anos, no backstage da peça “As Três Velhas”, cuja montagem a endividou – o que expõe um aspecto interessante da produção: a ovação da crítica e o desinteresse do público enquanto tem de adaptar sua atuação ao desgaste decorrente do Mal de Parkinson. Em vez de se utilizar dos moldes clássicos de um documentário – que, geralmente, faz um retrato da vida e da carreira do biografado -, o longa segue a linha observacional, ou seja, sem as características tradicionais – entrevistas com amigos e colegas de trabalho, voice overs e imagens de arquivo.

Esta foi uma escolha acertada, já que o formato tradicional pode levar a armadilhas muito comuns do gênero – por exemplo, o excesso de condescendência em relação ao biografado. E, principalmente, tratando-se de Maria Alice Vergueiro, ousar e fugir do esperado é extremamente condizente. O público mais jovem pode não ter familiaridade com o nome e os mais esquecidos podem não ligar o nome à pessoa de primeira, mas quem viveu os primórdios do YouTube, em 2006, com certeza já viu o vídeo “Tapa na Pantera”, que se tornou viral em uma época em que o novo conceito da palavra ainda nem existia.

Sendo assim, é claro que Maria Alice domina o filme com sua presença magnética e opiniões irreverentes – e muitas vezes polêmicas -, em especial, ao tratar do trabalho de resistência da dramaturgia marginal, da falta de recursos e a convenção social muito bem estabelecida de que um artista deve recorrer a novelas para ganhar fama e, desta forma, atrair o público às salas de teatro, além de temas como envelhecimento nos palcos e a proximidade da morte. E quando a câmera focaliza a atriz em ação mostrando o seu inegável talento, torna-se muito difícil dissociar intérprete e personagem.

Isso faz com que o longa – o qual possui uma estética que, por vezes, lembra um making of, os bastidores de uma montagem teatral – ganhe ares até mesmo de um mockumentary. No entanto, o que poderia ser um charme a mais, destaca os problemas da produção, como a insegurança da câmera – a qual parece nunca saber ao certo o que quer mostrar, impedindo que seja criado algum tipo de subtexto ou lirismo. Outro defeito é o som do filme – captação e mixagem -, que por muitas vezes é incompreensível e a incômodo. Assim, a aparência amadora de “Górgona” condiz com o ideal da arte de guerrilha, mas, ao não saber dosar esta estética, perde um pouco da atenção do público, mesmo que seu objeto de estudo seja interessante.

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